Geral
D. Gritos, 27 anos de um sonho que terminou em tragédia
Paulo Cesar
Navegantes (Camilo Melo/Ricardo Rocha)
Nós mudamos a dimensão daquilo que restou
Da lembrança de um lírio que brilhou
Pra dar ao verde o verde que se acabou
E pelo homem que foi e não voltou
E por nós mesmos, quando ninguém chorou.
E o eco gritado de uma voz
A razão torturada por todos nós
Aqui a esperar.
Se navegamos tanto sem parar
Não é motivo pra desistir
Ficar aqui e não lutar
Se nós lutamos tanto sem ganhar
Não é motivo pra desistir
Esse é um jogo que não pode parar.
E nós chegamos a desvendar todo o mistério
De uma batalha que ninguém vai ganhar
E de uma árvore que nunca vão derrubar.
E se o negro das idéias nos caçar
Nos desculpem mas não vamos nos calar.
E o eco gritado de uma voz
A razão torturada por todos nós
Aqui a esperar.
Se navegamos tanto sem parar
Não é motivo pra desistir
Ficar aqui e não lutar
Se nós lutamos tanto sem ganhar
Não é motivo pra desistir
Esse é um jogo que não pode parar.
D'Gritos em sua terceira formação
Há 27 anos surgiu em Serra Talhada um grupo que revolucionou o cenário musical do interior de Pernambuco e do Nordeste, era a banda D. Gritos, formada por jovens serratalhadenses, eles quebram tabus e superam preconceitos culturais e sociais que predominavam na época. Com letras fortes e autênticas eles conquistaram a juventude da época.
Foram três discos gravados, sendo que apenas um foi lançado, Barriga de Rei, os outros foram Traumas e Navegantes. Mesmo sem apoio financeiro, a banda D.Gritos conseguiu vencer o Festival de Música Popular em Salgueiro, realizar shows em varias cidades de Pernambuco, Paraíba, Ceará e outros estados do Nordeste.
O sucesso obtido com músicas como ?Escravos de Ninguém (Porra)?, ?Loucos (Mayra)? e ?Barriga de Rei? proporcionou ao grupo apresentações em emissoras de TV em Recife-PE e em Campina Grande-PB, além de matérias em jornais de grande circulação como o Diário de Pernambuco.
Os D. Gritos conseguiram ao longo do tempo escrever uma história muito peculiar, algo intenso e marcante, tanto no contexto musical regional, onde há uma preferência pelo forró, como pelas atitudes e as letras extremamente politizadas de Camilo Melo e Ricardo Rocha. Eles cantavam em alto bom tom: ?Deixe o trem passar. Não arranquem os trilhos?(Grilos), era uma forma de expressar a vontade em conseguir o almejado reconhecimento e o sucesso a nível nacional.
A banda liderada por Camilo Melo, Ricardo Rocha, Jorge Stanley e que contou com a participação de outros integrantes como Cleóbulo Ignácio (Binga), Jairo Ferreira, Doda, Noreoba, Toinho Harmonia, Paulo Rastafári, Nilsinho, Gisleno Sá, César Rasec, Derivan Calado e Elton Mourato, construiu em pouco mais de oito anos um legando musical inigualável, uma história para ser registrada e nunca mais esquecida!
Um dos grandes destaques da banda foi à parceira musical de Camilo e Ricardo, juntos compuseram várias músicas de sucesso, sendo que a última, ?Homem Pó?, foi um prenúncio da fatalidade que marcou a história do grupo.
Homem Pó (Camilo Melo/Ricardo Rocha)
Sentado estava o homem
Pensando e observando ao seu redor
Viu que havia medo
E as pessoas e seus segredos
Não estavam sós.
E procurava...
Mesmo com as armadilhas sob o pó.
Pó que cobre a terra
Terra que engole homens
Homens que se matam sem dó.
Vidas que nasciam
Vidas que morriam
Vidas que apenas se escondiam.
Veja seus filhos
Que criarão os seus filhos
Filhos de um homem que morre
Veja seus netos
Que criarão os seus netos
Netos de um homem que morre.
Em pé ficou o homem
Lembrou que há vários dias estava ali
Lembrou de seus três filhos em casa esperando
Pelo pai, homem sentado, que morre.
Correu desesperado
Não sabia onde morava
O nome de seus três filhos esqueceu.
E quase maluco
Em seus últimos minutos
Olhou pra terra e viu que era pó.
Veja seus filhos
Veja seus netos.
A música é inédita mais pode ser encontrada na internet: http://palcomp3.com/camilomelo/#!/homem-po
Trajetória interrompida
A trajetória de sucesso da banda foi interrompida de forma trágica em 29 de agosto de 1993, quando realizavam o show de abertura da Festa de Setembro e de forma inesperada veio a falecer Ricardo Rocha com apenas vinte e três anos. A melhor narração dos fatos ocorridos naquela noite foi feita por Giovanni Sá, de forma poética e emocionada ele escreveu:
?O show transcorria na mais profunda relação de amor com o público. Já se passava um pouco mais da meia-noite, depois de dedicar uma canção carinhosa a um amigo que partira sem retorno, ao som da canção NAVEGANTES, ?o menino maluquinho? caía no palco pra não mais se levantar e decretava ali a sua IMORTALIDADE. O companheiro Ricardo Rocha, tombava sob a luz dos holofotes coloridos e os aplausos de um público apaixonado, no meio dos seus companheiros inseparados. A BANDA D?GRITOS emudecia atônica, era difícil acreditar. A vida que levava sempre era cheia de desafios, afinal, ser músico em Serra Talhada nunca foi fácil.
Aquela madrugada será inesquecivel, por ser perfeita e tão belo, aquele show, alguem assistia ao show do ?menino maluquinho?. Tamanha beleza e alegria tinham que ser divididas entre os mortais e as estrelas, que com certeza, acabaram de receber mais uma nessa imensa cosntelação de estrelas.? (Trechos do TRIBUTO AO COMPANHEIRO ?Crônica do Show Anuciado?, Jornal Desafio, setembro de 1993).
Com a morte de Ricardo chegou ao fim os D.Gritos, a maior banda de rock pop do interior pernambucano, era o fim de um sonho de jovens sertanejos que encontraram na música uma forma de se expressar, demosntrando as suas revoltas, suas frutações e ilusões. Porém musical da banda venceu o tempo, e uma prova disso é que elas continuam sendo executadas diariamente em rádios de todo o interior nordestino.
Em 2010 a Prefeitura Municipal e a Fundanção Casa da Cultura promoveram um Tributo a Banda D.Gritos, pela primeira vez em mais de dezessete anos alguns ex-integrantes do grupo (Camilo Melo, Jorge Stanley, Gisleno Sá, Cesar Rasec e Nilsinho) voltaram ao palco e a som de ?Escravos de Ninguem (Porra)? fizeram uma viagem no tempo. O destino de forma irônica colocou todos juntos no mesmo local onde ocorreu a tragedia com Ricardo Rocha.
O reencontro histórico da banda D.Gritos só veio a comprovar que ?eles mudaram a dimenssão daquilo que restou?, que eles são ?o lirio que brilhou? e que o ?eco gritado de uma voz? continua navegando pelo tempo, como se fosse uma eterna melodia!
Vídeos da banda no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=_hpr2o3txL0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=tPXQyKbtn1Q&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=nDk9oN0z_dc&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=GPsKkczxM-g&feature=relmfu
http://www.youtube.com/watch?v=xB5qgXrvhe0&feature=endscreen&NR=1
P.S.: Esses um esboço de um trabalho de pesquisa que estou desenvolvendo sobre a Banda D.Gritos, as pessoas que quiserem contribuir com informações, histórias, fatos inusitados, depoimentos, recortes de jornais, fotos e vídeos da banda podem enviar para o e-mail [email protected]
*Paulo César é professor e especialista em História Geral
2ª Formação
Acima, 1ª Formação da banda
Festival de Música de Salgueiro
Fotos do acervo pessoal de Camilo Melo
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