Delações da Lava Jato revelam propina de R$ 11 milhões para melar CPI da Petrobrás
Em meados de 2009, o deputado federal Eduardo da Fonte, do PP de Pernambuco, atual líder do partido na Câmara dos Deputados, procurou o diretor de Abastecimento da Petrobras,Paulo Roberto Costa, principal apaniguado da legenda em cargos do governo federal. Costa e Dudu da Fonte, como é conhecido o parlamentar, marcaram um encontro no luxuoso hotel Windsor, no Rio de Janeiro. De acordo com depoimento de Costa, a que ÉPOCA teve acesso, Fonte não foi sozinho. Ladeavam-no o senador Ciro Nogueira, do Piauí, atual presidente do PP, e o senador e presidente do PSDB, Sérgio Guerra, de Pernambuco, morto no ano passado. Costa afirma ter-se surpreendido ao ver Guerra, um grão-tucano, acompanhando os parlamentares do PP, da base aliada do governo petista. Segundo Costa, ele foi informado pelo trio que o Tribunal de Contas da União fizera uma devassa nas contas das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, descobrira várias irregularidades e que tal auditoria poderia ensejar a abertura de uma CPI sobre a Petrobras no Senado. De acordo com Costa, eles deixaram claro que não pretendiam trilhar esse caminho. Costa entendeu o recado. Eles pediam propina. Costa diz que transmitiu o recado ao sindicalista Armando Tripodi, chefe de gabinete do presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli.
Costa conta que, depois, encontrou Guerra e Dudu da Fonte para retomar o assunto. Na ocasião, de acordo com Costa, Guerra pediu R$ 10 milhões para enterrar a CPI. Costa, então, procurou Idelfonso Colares, ex-presidente da construtora Queiroz Galvão, empresa que aparecia na auditoria do TCU e que poderia ser destaque numa CPI da Petrobras. Sem pestanejar, segundo Costa, Colares disse que a exposição da Queiroz Galvão numa CPI poderia trazer sérios prejuízos e se comprometeu a pagar os R$ 10 milhões pedidos. Após conversar com o presidente da construtora, Costa voltou a falar com a dupla Guerra-Fonte para transmitir o recado: a Queiroz Galvão seria a responsável por pagar a propina. Segundo Costa, Colares disse ter feito o pagamento.
Não foi apenas Costa quem deu detalhes sobre o acerto para enterrar a CPI da Petrobras em 2009. O doleiro Alberto Youssef, em sua delação premiada, disse que Ciro Nogueira e Dudu da Fonte convenceram o senador Guerra a evitar que a CPI fosse instalada e, assim, ganhar algum dinheiro ? e, se fosse instalada, que não desse em nada. Youssef disse que o pagamento de R$ 10 milhões ao trio foi intermediado pelo principal operador do PMDB na Petrobras, o lobista Fernando Baiano, cuja participação no petrolão foi revelada por ÉPOCA há um ano. Baiano está preso em Curitiba. Segundo Youssef, Baiano utilizou recursos obtidos da Queiroz Galvão para pagar os parlamentares.
A criação da CPI, em março de 2009, foi fortemente criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele dizia que os senadores eram antipatrióticos ao pôr a Petrobras sob investigação. A CPI foi encerrada em novembro do mesmo ano, sem grandes descobertas. A oposição afirmou que a CPI morrera porque o PT não deixava a investigação avançar ? mas Guerra era um dos principais representantes oposicionistas na Comissão. Em 2013, ÉPOCA publicou outro capítulo sobre o desfecho da CPI. O lobista do PMDB João Augusto Henriques, intermediário das propinas do partido na Diretoria Internacional da Petrobras, disse à reportagem ter sido chamado a Brasília pelo então líder do governo no Senado, Romero Jucá, do PMDB, para ajudar a enterrar a CPI de vez. Jucá, segundo Henriques, queria que a Petrobras fechasse um negócio bilionário com a construtora Odebrecht. Em troca, o PMDB ajudaria a sepultar a CPI. Henriques disse que fez essa intermediação.
Em seu depoimento, Youssef também jogou luz sobre a operação da Queiroz Galvão para distribuir em 2009 cerca de R$ 1 milhão para o político alagoano Arthur Lira, hoje deputado federal pelo PP, eleito na semana passada presidente da Comissão de Constituição e Justiça. Segundo Youssef, antes de chegar ao parlamentar, o dinheiro passou pelas empresas KFC Hidrossemeadura e Labogen, ligadas a um laranja do doleiro. Youssef disse que a KFC firmou um contrato com a Queiroz Galvão para justificar a entrada de recursos da empreiteira. Youssef conta em seu depoimento que incumbiu um funcionário a fazer o pagamento a Lira, em dinheiro vivo ? e que outra parte do dinheiro, proveniente da Queiroz Galvão, foi para Paulo Roberto Costa por meio de outro operador, Henry Hoyer.
Desde que seu nome apareceu no escândalo do petrolão, o senador Ciro Nogueira disse que renunciaria caso provas o incriminassem. Por meio de nota, afirma que em 2009 não tinha capacidade de influenciar os rumos da CPI do Senado. Não responde se participara de reunião com Costa no Rio de Janeiro. Dudu da Fonte contesta as declarações de Youssef e Costa: ?Nunca estive com Alberto Youssef?, afirma. Ele nega ter encontrado Costa no hotel Windsor. Por meio de seu advogado, o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli negou que seu chefe de gabinete tenha tratado com ele sobre enterrar a CPI. ?Não só nessa questão da CPI como sobre qualquer outra proposta indecorosa envolvendo qualquer assunto da gestão da empresa?, afirma. Tripodi, o então chefe de gabinete, confirma ter mantido contato com Paulo Roberto Costa no período de funcionamento da CPI no Senado. Mas nega ter tratado de qualquer tentativa de encerrar os trabalhos da CPI com Costa e ter mantido contato com fornecedoras da Petrobras. O PSDB afirma defender as investigações da Operação Lava Jato. Por meio de nota, a Queiroz Galvão nega qualquer pagamento ilícito para obter contratos ou vantagens. Afirma que faz doações de acordo com a lei eleitoral. Não respondeu, no entanto, se seus executivos mantiveram contato com Youssef e Costa para tratar da CPI. Idelfonso Colares não atendeu ao pedido de entrevista. O senador Romero Jucá já havia negado qualquer acordo envolvendo a Odebrecht para atrapalhar a CPI. Lira nega ter qualquer relação com a Queiroz Galvão e com o doleiro Youssef.
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