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Demais da conta - CELSO MING
O ESTADO DE S. PAULO - 11/01
Espere que alguém no governo Dilma ainda diga que, para os padrões brasileiros, a inflação de 5,91% em 2013 não foi desastrosa e reafirme que desastroso é o pessimismo insuflado pelos analistas econômicos.
Mas, desta vez, o governo não tem nem mesmo a desculpa de que essa inflação aí é conseqüência da crise global, porque nos principais países em 2013 não passou de alguma coisa entre zero e 3%. Tanto o avanço nanico do PIB como essa inflação alta demais (de 0,92% em dezembro) devem-se mais a problemas nossos do que às mazelas do mundo.
O Banco Central também chegou a apontar o dedo para causas externas de inflação, mas, nos últimos documentos, tanto nos Relatórios de Inflação como nas Atas do Copom prefere dizer que a inflação está sendo causada por um ritmo forte da demanda, pela expansão dos custos da mão de obra muito acima da produtividade e pelos mecanismos automáticos de reajuste de preços (indexação).
Tanto quanto o crescimento econômico insatisfatório, essa inflação aí, renitente e excessivamente espalhada (alto índice de difusão, de 69,3%), é o resultado dos desequilíbrios provocados pela atual política econômica. E só não foi mais alta porque o governo está represando artificialmente os preços administrados, aqueles que dependem de vontade política para serem reajustados, como as tarifas de energia elétrica, de combustíveis e de transportes urbanos. Ao longo de todo o ano de 2013, os preços livres avançaram 7,27%, enquanto os preços administrados, que pesam 25% na cesta de consumo, avançaram apenas 1,5% (veja gráfico no Confira).
Não está claro até que ponto o governo pretende recompor os reajustes desse segmento de preços. De todo modo, começam o ano como foco adicional de pressão. Todos lutam por aumento de postos de trabalho, mas não dá para ignorar que a persistência de uma situação de pleno-emprego com baixa produtividade do trabalho continuará a puxar os preços para cima.
O Banco Central já deu inúmeras indicações de que está incomodado com o repasse da alta do dólar (desvalorização do real) para os preços internos. É outro foco.
Os protestos de junho chamaram à atenção do governo Dilma a respeito do estrago causado por uma inflação alta demais sobre o poder aquisitivo e sobre a disposição do eleitor de votar nos candidatos oficiais. Se as previsões da maioria dos analistas se confirmarem, 2014 terá uma inflação mais alta do que 2013. A última pesquisa Focus do Banco Central, por exemplo, aponta para 5,97%.
Se optasse por uma condução mais austera das contas públicas, o governo Dilma teria mais condições de derrubar a inflação, porque níveis mais baixos de despesa pública também contêm o consumo. Mas até agora não há indicação disso, especialmente num ano eleitoral.
Isso significa que sobra na vanguarda na luta contra a alta de preços a política do Banco Central que, no entanto, tem apenas uma arma à sua disposição: a alta dos juros básicos (Selic). Mas até onde precisam ir os juros para segurar a inflação em níveis civilizados?
A resposta dos juros
O Banco Central também se viu frustrado em suas expectativas. Contava em 2013 com uma inflação mais baixa do que os 5,84% de 2012. Quem esperava por imediata redução da dose dos juros básicos (Selic), até agora de 0,5 ponto porcentual ao ano, terá de rever suas posições. Também fica para ser esclarecido até onde o governo Dilma pretende deixar tudo para o Banco Central. A próxima reunião do Copom está agendada para o dia 14.
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