Por Vinicius Mansur, no sítio Carta Maior:Após a oitiva do delegado federal, Matheus Mela Rodrigues, promovida na última quinta-feira (10) pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, alguns parlamentares se apressaram em livrar o editor da revista Veja em Brasília, Policarpo Júnior, de envolvimento criminoso com o esquema investigado.
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que “o depoimento do delegado Matheus ontem praticamente sepulta a tese de que havia qualquer conluio entre o Policarpo e o Cachoeira. O que ele disse foi que, em todos os áudios, em toda a investigação que ele, delegado Matheus, fez, não há registro de nenhuma transação financeira nem nenhum crime”.
Segundo o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), o delegado Rodrigues realmente disse que as ligações por ele apuradas não denunciam crime por parte de Policarpo, porém afirmou depois que esse não era seu foco na investigação. De acordo com o deputado, os dois delegados da Polícia Federal já ouvidos pela CPMI – Rodrigues, na última quinta, e Raul Alexandre Marques Sousa, na última terça-feira – estavam incumbidos de descobrir os caminhos do dinheiro da quadrilha, não estando dedicados a investigações como esta, envolvendo Policarpo Júnior.
“O delegado falou que só na operação dele foram 42 ligações com o Policarpo. Isso mostra uma intensidade inaceitável e uma promiscuidade nessa relação. Ele [Policarpo] sabia que era um órgão criminoso, era basicamente espionagem política. O delegado disse que o Policarpo sabia que o Demóstenes tinha relação com essa quadrilha, o que é de grande valia, porque, sabendo que o Demóstenes tinha relação com a quadrilha, a Veja não podia ter feito o que fez com o Demóstenes, ter endeusado ele”, afirmou Teixeira.
Durante a operação Monte Carlo foram interceptadas 259.949 ligações, sendo 16 mil consideradas importantes e 3753 telefonemas fortuitos. Também foram analisados 5 mil emails. Muito desses materiais ainda estão sendo estudados pela Polícia Federal. 28 malotes com materiais recolhidos no processo de busca e apreensão sequer foram abertos. Estas informações foram ditas pelo delegado Rodrigues, segundo o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
O deputado Protógenes Queiróz (PCdoB-SP) afirmou que a partir de agora haverá um foco dentro da investigação para saber qual o objetivo das ligações entre o editor da Veja e o grupo de Cachoeira.
Situação se complica para Perillo
O senador Randolfe considerou que o maior prejudicado pelas informações reveladas na última oitiva da CPMI foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). “O nível de detalhamento do comprometimento do governo de Goiás é enorme. Envolvimento do procurador do estado que atuava quase como advogado da Secretaria de Educação, contatos muito permanentes com o secretário de Infraestrutra, que é o suplente do Demóstenes [Torres, senador], envolvimento da secretaria de Segurança Pública, o aparato de segurança pública atuava junto com a organização do contraventor. É urgente para os membros da CPMI ouvirem o governador de Goiás”, disse.
A gravidade da situação de Perillo também foi compartilhada pelo deputado Paulo Teixeira. Além dos problemas citados pelo senador do PSOL, Teixeira agregou o envolvimento da Secretaria de Ciência e Tecnologia, de um diretor do DETRAN-GO e da chefe de gabinete do governador, além da remessa de uma caixa de computador com R$ 500 mil para dentro do palácio do governo goiano e da venda de uma casa de Perillo para o Cachoeira. Foi nesta casa que Cachoeira foi preso.
O deputado relata que a casa foi vendida ao sobrinho de Cachoeira, Leonardo de Almeida Ramos, que pagou com três cheques, repassados ao governador goiano, totalizando R$ 1,4 milhão.
Em nota, o governador Perillo afirmou que a casa "foi vendida rigorosamente dentro da lei e declarada no Imposto de Renda”, sendo os três cheques depositados em sua conta corrente.
Outras prioridades da CPMI
Randolfe defendeu ainda a convocação dos sócios-proprietários da construtora Delta. “A Delta fez depósitos para três empresas laranjas do senhor Carlos Cachoeira, a JR, a Brava e a Alberto Pantoja. E eu acho uma temeridade que uma empresa como a Delta seja comercializada agora e comprada, ainda, por uma outra empresa que tem participação societária do estado brasileiro, que é a JBS que tem 32% de participação societária do BNDES”, destacou.
Para Paulo Teixeira ficou claro que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, deixou de tomar providências importantes, o que acabou resultando na paralisação das investigações. Na oitiva, o delegado Rodrigues disse que a Operação Monte Carlo foi motivada por uma denúncia da promotoria de Valparaíso de Goiás. “Ele [Gurgel] precisa explicar, mas resolveu jogar uma cortina de fumaça nesse debate, resolveu dizer que isso acontece, que é coisa de mensaleiro. Portanto, desviou o debate, com a omissão dele”, afirmou.
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