Demóstenes, Gilmar e a mídia cúmplice!
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Demóstenes, Gilmar e a mídia cúmplice!


Por Altamiro Borges

A mídia sempre bajulou Gilmar Mendes – o “juiz” que trabalhou no governo FHC e foi indicado pelo amigo para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o “juiz” que deu habeas-corpus para o agiota Daniel Dantas e para o médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por estuprar 37 mulheres. A mídia também sempre paparicou o ex-senador Demóstenes Torres, eleito “mosqueteiro da ética” pela revista Veja, que foi cassado por corrupção e ligações com a máfia de Carlinhos Cachoeira, em julho de 2012. Estas simpatias talvez expliquem o tratamento brando, quase cúmplice, dado pela mídia à decisão de Gilmar Mendes de permitir a volta ao trabalho do ex-demo.

A vergonhosa decisão foi anunciada nesta quinta-feira (3). O ministro Gilmar Mendes autorizou o amigo Demóstenes Torres a reocupar o posto de procurador da Justiça em Goiás. Como a decisão é liminar, ele poderá assumir de imediato o posto até que o plenário do STF julgue o caso. Ou seja: o ex-demo, acusado de envolvimento com o crime organizado, agora poderá analisar os delitos de outros investigados. Gilmar Mendes alegou que o afastamento do seu amigo do cargo por mais de um ano desrespeita norma interna do Ministério Público, que fixa prazo de 60 dias, renováveis por uma vez. Para o ministro, a falta de previsão para o julgamento caracterizaria "uma situação de insegurança jurídica".

Como aponta Najla Passos, do site Carta Maior, ambos são amigos fraternos. “Em 2012, no auge das denúncias do envolvimento de Demóstenes com a quadrilha de Cachoeira, o vazamento de ligações telefônicas interceptadas pela Polícia Federal acabou por tornar público um encontro pessoal entre o então senador e o ministro, na Alemanha, em abril de 2011. Em telefonemas grampeados, Carlinhos Cachoeira informava aos comparsas que Demóstenes e Mendes estavam em Berlim e pedia providências para que um jatinho fosse disponibilizado para recebê-los em São Paulo, após o retorno de ambos ao Brasil. À época Gilmar confirmou o encontro na Alemanha, sem apresentar justificativa para tal”.

Já Luis Nassif, no Jornal GGN, lembra que “no dia em que caiu a casa de Demóstenes Torres, com a denúncia sobre suas ligações com Carlinhos Cachoeira, o ministro Gilmar Mendes, do STF, estava em seu apartamento, consolando o amigo”. Para o jornalista, apesar das “relações antigas e pessoais”, Gilmar não se declarou impedido para conceder uma liminar reintegrando Demóstenes ao Ministério Público de Goiás, numa decisão que “atropelou os princípios de impessoalidade no julgamento”. Quando à alegação da demora do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) em julgar Demóstenes Torres, Luis Nassif demonstra que esta decisão é absurda, surrealista.


“O caso Demóstenes é cristalino. Ele é alvo de denúncias gravíssimas, muitas delas devidamente comprovadas. Quando existem provas de tal naipe, há que se cuidar do prazo de julgamento, mas não sendo julgado de imediato não pode significar a retomada dos direitos. Trata-se de uma aberração jurídica, devolvendo as atribuições de procurador a alguém com tal volume de suspeitas. Vingando a tese de Gilmar, qualquer advogado conseguiria a libertação dos réus meramente recorrendo a práticas procrastinatórias. É hora de se saber se esse país têm contrapontos institucionais ou não, ou se, mesmo após a saída de Joaquim Barbosa, o STF continuará permitindo abusos dessa ordem”.

A mídia seletiva, que não dá sossego ao ex-ministro José Dirceu – que nesta semana teve garantido o seu legítimo direito ao regime semiaberto, arbitrariamente negado pelo ex-presidente do STF, o carrasco Joaquim Barbosa – simplesmente ignorou todos estes fatos graves. Ela quase não deu destaque à decisão de Gilmar Mendes. Os jornais publicaram pequenas notas, de alguns parágrafos; já os “calunistas” das emissoras de tevê e rádio evitaram comentários hidrófobos. Não houve equipes de reportagem perseguindo o ex-demo ou exigindo explicações do ministro tucano do STF. E depois ainda tem gente que acredita na “escandalização da política” promovida pela chamada grande imprensa. Haja inocência!

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