Deus e o diabo na política
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Deus e o diabo na política


Por Luciano Martins Costa, no Observatório de Imprensa:

A análise das escolhas editoriais no fim de semana e na segunda-feira (5/4) traz indícios de que os três principais jornais de circulação nacional – Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e O Globo – estão afinando suas estratégias para a cobertura das eleições presidenciais. O cruzamento das notícias de política e economia, núcleo principal do sistema formador de opinião, aponta para um processo de isolamento do grupo que ocupa o Palácio do Planalto, mas até então não havia uma definição clara entre os dois potenciais adversários da atual presidente da República.

As editorias de economia e negócios misturam dados reais com especulações pessimistas para desenhar um cenário inquietante para a questão da energia, da capacidade futura de investimento do país e a modernização da infraestrutura. Nesse campo, predomina uma situação quase esquizofrênica, em que indicadores conflitantes são ressaltados na mesma página do jornal, sem que se esclareça o leitor sobre o significado desses números.

Por trás dessas escolhas, não há como fugir à evidência de que o destaque para números negativos, enquanto os indicadores positivos são minimizados, tem uma motivação política. Observe-se, por exemplo, o contraste demonstrado na entrevista principal da coluna Mercado Aberto, da Folha de S.Paulo, na edição de segunda-feira (5/5), e as principais notícias econômicas do jornal nos últimos dias.

Nessa entrevista, o presidente brasileiro de um banco suíço afirma que, apesar de nunca ter visto tamanho pessimismo de curto prazo entre empresários brasileiros, a realidade mostra que o sentimento entre investidores estrangeiros, em relação ao Brasil, é exatamente o inverso: nunca houve um afluxo tão grande de capital externo na economia nacional como nos primeiros meses deste ano.

A situação é a de uma esquizofrenia na qual o paciente, no caso a imprensa, escolhe sempre a alternativa mais sombria.

Esse noticiário negativo tem uma direção muito clara, que pode ser constatada a cada eco que os candidatos oposicionistas fazem às manchetes dos jornais. É como se houvesse uma sintonia muito fina entre as decisões editoriais e os planos de governo dos candidatos. O pessimismo com relação à economia nacional é um fenômeno interno, produzido pela sucessão de notícias negativas que tem como propósito claro o de demonizar a presidente da República.

Fazendo chacota

É certo que o governo federal tem sido pródigo em produzir celeumas, ao titubear na condução de um projeto econômico supostamente vinculado à redução das desigualdades e emitir sinais contraditórios sobre sua disposição de manter a melhoria das condições sociais como meta da política econômica. O sistema de alianças está claramente esgotado, e a conta da ineficiência, das trapalhadas e do atraso nas decisões vai diretamente para a Presidência da República.

Os jornais ressaltam as fissuras produzidas pelo sistema partidário, criando a pauta para os candidatos oposicionistas. Assim, o discurso eleitoral reforça o pessimismo patrocinado pela imprensa, e o governo, orientado para a campanha, permanece reativo, apenas na defensiva. O Globo e a Folha de S.Pauloparecem se definir, colocando mais fichas em Aécio Neves, candidato do PSDB, enquanto o Estado de S.Paulo ainda equilibra suas apostas entre Neves e Eduardo Campos, do PSB.

Acontece que Campos precisa do patrimônio eleitoral de sua candidata a vice-presidente, Marina Silva, apresentada como uma espécie de reserva moral do campo político. Mas também a ex-ministra tem suas fragilidades: a coluna de Monica Bergamo, na Folha, conta, por exemplo, uma deliciosa história sobre a saída de Marina Silva do governo Lula.

Diz-se que ela foi ao gabinete presidencial acompanhada de um pastor e disse a Lula que havia conversado com Deus e ele lhe havia dito que era hora de sair. O então presidente pediu um tempo e, dias depois, respondeu que também havia sonhado com Deus, e o Todo-Poderoso lhe havia afirmado que Marina deveria ficar mais um pouco no ministério. Ela só deixou o governo muito depois, em maio de 2008.

Essa historinha pode ter um efeito devastador na candidatura de Eduardo Campos. Exposta, assim, na primeira página, a fé religiosa de Marina vira motivo de chacota e mostra para onde pende a preferência do jornal.

Se, para a imprensa, Dilma Rousseff é o demônio, a proximidade de Marina com o divino pode ser o inferno para Eduardo Campos.




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