O livro é sobre...
Em um futuro remoto os homens conquistaram as estrelas, espalhando-se por galáxias e formando uma confederação que reúne os planetas colonizados pelos humanos e, também, os de outras raças, encontradas ao longo dos anos de expansão. A Terra, planeta mãe, continua sendo um dos centros dessa nova formação política, mas com imensos problemas, populacionais e de meio ambiente, o que leva à maciça emigração dos terráqueos, à procura de novos espaços e de novos mundos onde pretendem recomeçar, fazendo as coisas de forma diferente.
Este é o cenário básico para A Night Dawn, uma trilogia escrita pelo britânico Peter Hamilton, dividida em três volumes, que conta, de um lado, a expansão da humanidade, e de outro, os problemas que enfrenta ao fazê-la, até se deparar com um evento de ruptura: a descoberta que temos uma alma imortal, que o purgatório existe e que estas almas podem voltar ao mundo normal, invadindo e possuindo os corpos dos vivos. E neste caso, graças a uma disfunção da realidade – The Reality Dysfunction – que é o nome do primeiro volume, a possessão ocorre em vários planetas, subjugando milhões de humanos e causando uma guerra entre os possuídos e não possuídos, estes em busca da preservação do seu espaço de vida e da recuperação dos corpos possuídos, devolvendo-os aos seus legítimos donos, que não são mortos, mas subjugados pelos possessores.
Esta é uma longa trilogia, valeu a pena?
Sim! Já a partir da leitura do primeiro capítulo do primeiro livro. Agora, acabo de terminá-la e é por isso – e pelo convite feito pela Geórgia e a Flávia – que estou dizendo, aqui, o que estou lendo. Neste caso, mais uma vez, transformo-me em um “bendito entre as mulheres”.
Embora não seja “ela”, sinto-me honrado com esta segunda participação no blog. E mais ainda por trazer aqui um autor que, acho, poucos conhecem, e falar de um assunto que não é muito comum entre as leituras da maioria, que é a ficção científica.
Além de não ser, pelo menos no Brasil, um dos assuntos mais populares, a leitura da trilogia traz um outro desafio, que é o fato de os livros estarem em inglês. Cheguei a procurar, mas não encontrei edições em português. No Brasil, com certeza, elas não foram lançados.
Para quem recomenda?
Para quem lê inglês, interessa-se pela especulação de como será o futuro, de como construiremos nosso espaço na Terra e vê a possibilidade de os humanos, um dia, chegarem às estrelas, garanto que é uma leitura agradável e muito interessante. Não consegui parar de ler!.
O que achou mais interessante?
Usando o futuro como cenário, nela estão inseridos assuntos como a ecologia e a forma como tratamos o planeta, com os impactos que estamos causando e que consequências elas podem trazer.
Outra discussão é a função da possessão dos vivos pelos mortos há todo um pano de fundo filosófico, não só em relação à crença em uma outra vida, mas sobretudo na reafirmação, a partir da ruptura da realidade e do aparecimento das almas “perdidas”, da existência – comprovada – de que os humanos – e não só eles, mas os seres sencientes – têm mesmo uma alma e que o purgatório existe. A partir desta descoberta fica a questão de como podemos nos tratar sabendo da existência da alma e buscando descobrir o que faz com que uma fiquem no purgatório enquanto outras não.
Será que existe um paraíso? Será que estas almas estão mesmo no purgatório? Não estarão elas no inferno? Qual o papel das religiões nesta hora? As questões são colocadas de um modo prático, mas passam, também, através de vários personagens, por uma funda reflexão filosófica.
O dilema religioso fornece um dos contextos para o desenvolvimento da obra.
Sei que o tamanho da trilogia, quase 3,5 mil páginas, assusta e pode desanimar. O que posso garantir é que a leitura é ótima e que temos um final surpreendente. Ele, de qualquer modo, não encerra as discussões feitas ao longo do livro, mas esclarece alguns pontos, pelo menos na ótica do autor e de seus personagens. Foi uma leitura longa e muito agradável. O que o inglês Peter Hamilton fez foi construir uma nova realidade, avançando no futuro.E para realizar sua obra fez um esforço fenomenal de criação. O assunto é original, a abordagem também o é e a visão de futuro que ele traz nos dá esperança de que, um dia, conquistemos as estrelas e o faremos em paz. Recomendo. E tenho certeza de quem se aventurar pela leitura irá gostar.
Lino Resende