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FOLHA DE SP - 14/08

Governo federal adia pela terceira vez leilão do trem-bala, que ligaria São Paulo ao Rio; projeto é descabido e deveria ser abandonado


O governo federal deveria aproveitar o novo fracasso no leilão do trem de alta velocidade (TAV) para abandonar, de vez, a ideia de despender pelo menos R$ 35,5 bilhões em obra tão controversa.

Para evitar constrangimentos, nem é necessário formalizar a desistência. Basta não falar mais no assunto. Trata-se, afinal, do terceiro adiamento --desta vez por prazo indefinido-- de uma licitação para o trem-bala que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro.

A primeira postergação se deu em 2010, quando havia apenas um consórcio disposto a participar. O quadro piorou na segunda tentativa, em 2011, que não atraiu ninguém. A saída, então, foi dividir o leilão em duas etapas.

Uma delas, que ocorreria nesta sexta-feira, deveria definir o fornecedor dos equipamentos e o operador. Em seguida, seria licitada a obra em si. O plano, como se vê, não deu certo. Apenas uma empresa, a Alstom, mantinha-se na disputa, e o projeto ficará para um eventual segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

O problema desde sempre foi a dificuldade técnica da empreitada e a inexistência de um projeto executivo finalizado. Não há sequer análise de solo e definição de traçado, quanto mais estimativas confiáveis de custos. Isso para nada dizer da dificuldade de obter licenças ambientais e cumprir a miríade de obrigações burocráticas.

A despeito do adiamento, o governo dá sinais de que pretende insistir no assunto, pois vai liberar R$ 80 milhões para o projeto executivo. Espera eliminar incertezas e atrair interessados.

O mais provável, porém, é que continue a gastar dinheiro público em vão. Para ser competitivo, o trem-bala precisaria percorrer a distância entre São Paulo e Rio em até duas horas --algo que as características topográficas do trajeto não parecem propiciar.

Trechos entre São Paulo e Campinas ou São José dos Campos são viáveis, mas, estando ambas as cidades a menos de 100 km da capital, o TAV torna-se supérfluo.

Por fim, o custo da obra não se justifica diante de necessidades de mobilidade urbana e de escoamento da produção. Com a mesma quantia seria possível, por exemplo, dobrar a extensão do metrô de São Paulo ou construir milhares de quilômetros de ferrovias para transportar a safra agrícola do Centro-Oeste para os portos, cortando o custo logístico à metade.

Nada disso parece preocupar o governo Dilma, que acredita em sua capacidade de executar ou direcionar de forma eficaz grandes empreendimentos. O que se vê, no entanto, é paralisia, desperdício e falta de foco para entregar o que realmente interessa ao país.




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