Por Altamiro Borges
A presidenta Dilma Rousseff chegou hoje (16) em Cádiz, no Sul da Espanha, para participar da 22ª Cúpula Ibero-Americana de Chefes de Estado e de Governo. O evento reúne dirigentes de 22 países, mas quatro presidentes já informaram que não participarão por questões internas: Raúl Castro (Cuba), Hugo Chávez (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina) e Otto Molina (Guatemala). A cúpula aprovará um documento com propostas para o enfrentamento da prolongada e grave crise que abala a economia capitalista mundial.
Segundo Renata Giraldi, da Agência Brasil, o documento deverá defender “o crescimento econômico e a geração de emprego e conter recomendações de estímulo às pequenas e médias empresas, o fortalecimento dos mercados regionais e a consolidação de propostas para a reforma do sistema financeiro. Os chefes de Estado e primeiros-ministros devem aprovar também um plano de ação conjunto, assim como comunicados sobre as Ilhas Malvinas, o embargo econômico a Cuba e o uso da planta da coca como tradição”.
O texto preliminar, negociado pelos governos dos 22 países, fala em “promover políticas de crescimento inclusivo, com equidade e baseada no trabalho decente” e defende "acordos comerciais equilibrados”, o fim das barreiras econômicas, a consolidação de organismos regionais de cooperação, o respeito ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Várias das suas propostas, que expressam a guinada progressista na América Latina, até que serviriam de receita para a Europa neoliberal, que está à deriva.
Os líderes latino-americanos chegam ao velho continente num dos seus piores momentos históricos. Ontem foi confirmado que a zona do euro está novamente em recessão. O PIB da região caiu 0,1% no terceiro trimestre deste ano, na sua segunda retração seguida – o que configura “tecnicamente” a recessão. Em 2008-2009, a Europa já havia chegado ao fundo do poço. Para piorar, o balanço indica que a recessão atingiu todo o bloco, unindo na desgraça os "primos pobres" e os "primos ricos" da Europa.
Dois países que eram vistos como mais sólidos já sentiram os efeitos da crise econômica. O da Holanda caiu 1,1% e o da Áustria, 0,1%. Há sinais também de que a Alemanha, que arrotava arrogância diante dos “primos pobres” exigindo mais medidas de austeridade, já foi contagiada. O principal motor da Europa cresceu apenas 0,2% no terceiro trimestre. Foi a sua segunda desaceleração seguida. As receitas amargas de Angela Merkel, uma fundamentalista neoliberal, começam a envenenar os próprios alemães.
Nada que se compare aos estragos causados nos países mais frágeis da zona do euro, hoje humilhados pela nefasta troika – Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia. A economia grega, por exemplo, está contraída há 17 trimestres consecutivos. Ela perdeu 20% de suas riquezas e o desemprego vitima 26% dos trabalhadores. Portugal, por sua vez, está em recessão em recessão há oito trimestres. E a Espanha enfrenta desemprego de 25%, o dobro entre os jovens, e o PIB cai há um ano.
Até o jornalista Clóvis Rossi – um crítico do neoliberalismo no exterior, mas um admirador dos tucanos no Brasil – está impressionado com a gravidade da crise na Europa. “A anemia afeta todos os 27 países da União Europeia e não só os 17 da zona do euro. Os 27 cresceram apenas 0,1% no terceiro trimestre, depois de crescimento zero no primeiro e retrocesso de 0,2% no segundo... Diante desses números, o melhor resumo para a cúpula de hoje e amanhã é feito pelo coordenador brasileiro do encontro, o embaixador Santiago Mourão: ‘A América Latina é parte da solução, não mais parte do problema’”, escreve o correspondente da Folha.
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