Apesar do título, as referências brasileiras presentes no novo filme da consagrada dupla francesa ocupam as entrelinhas. Samba Cissé, interpretado por Omar Sy — em sua quinta colaboração com os diretores —, é um imigrante senegalês, há dez anos na França, ameaçado de expulsão do país. No centro de detenção para imigrantes ilegais, conhece Alice, personagem vivida por Charlotte Gainsbourg, uma executiva com dilemas existenciais e em licença médica devido a uma crise de burnout — estresse no trabalho —, atuando como voluntária numa ONG. A aproximação do improvável casal, de universos e problemas distintos, é o centro da trama, completada pelos atores Tahar Rahim e Izia Higelin.
A ideia original era construir um roteiro em torno do sofrimento no trabalho. O encontro com a escritora Delphine Coulin, autora do livro “Samba pour la France” (Samba para a França, editora Seuil, a ser lançado no Brasil junto ao filme, em junho de 2015, pela editora Paralela), que narra as desventuras de um imigrante do Mali, alterou os rumos da história.
Éric Toledano conta que as pesquisas iniciais feitas junto a Olivier Nakache sobre o sentido da existência no despertar cotidiano dos indivíduos para o trabalho coincidiram com o tema abordado no livro de Delphine Coulin, inspirado na experiência pessoal da autora na Cimade, associação francesa em defesa dos direitos de imigrantes e refugiados.
— Há os cidadãos que se questionam sobre seu trabalho diário, sofrem (o que leva ao burnout), e os imigrantes, que desejam encontrar qualquer ocupação, porque precisam comer, enviar dinheiro para seus familiares no país de origem. Nós conectamos os dois temas — explica Toledano.
O Brasil entra no filme pela trilha sonora — “Take it easy my brother Charles”, de Jorge Ben, e “Palco”, de Gilberto Gil —, por uma frase pronunciada em português pela Alice de Charlotte Gainsbourg (sobre seu estágio de fim de curso em São Paulo) e via o personagem Wilson, de Tahar Rahim, um argelino que se faz passar por brasileiro para facilitar a aceitação junto aos franceses e também para abordar as mulheres.
— Sempre fomos muito fãs da música brasileira, e fazia tempo que buscávamos uma forma de incluí-la em um de nossos filmes. E em associações onde fomos pesquisar, encontramos imigrantes que nos diziam que na França é duro ser argelino, por exemplo, e que para encontrar trabalho ou paquerar as jovens o brasileiro possui um lado mais exótico e é mais sedutor em sua personalidade — conta Toledano, que pretende viajar com Nakache para o lançamento do filme no Brasil, previsto para 2015.