O amor é esse xing ling barato. Qualquer coisinha e pronto, quebrou. Às vezes, já vem quebrado. Mas, você sabe, é tão em conta que a gente fica nessa tentação de levar. E a gente leva, e nem se dá conta que não tem garantia, que pode se desfazer em poucos dias, em questão de horas ou depois de uma palavrinha besta que virou a esquina do entendimento sem dar seta nenhuma.
E aí o amor é aquele corpo atropelado. E tá lá no chão, estrebuchando, lutando contra a luz no fim do túnel, contra o chamado dos antepassados que também morreram atropelados. Tá certo lutar, beleza, mas tem uma hora que você tem que entender que acabou. Mesmo que o correto, o justo, fosse meter o dedo do meio na cara da dignidade e continuar esperneando.
Mas tem aquela hora que você precisa jogar a toalha para se manter em pé.
É que o amor é mais frágil do que esses girinos que vivem em poças de água parada. Mais frágil até do que esses girinos vivendo em folhas de bromélias distraídas. Sabe, mano, tem amor que morre ainda girino. O seu até que viveu todas as metamorfoses que tinha pra viver. Foi sapo e borboleta. Então, porra, fica de boa.
É que o amor tem aquela moleira dos bebês, saca? Bateu, morreu. Tem que ter o maior cuidado. Segurar firme, sem parecer que está segurando firme. Difícil. Eu mesmo não me meto com essas coisas.
Tem amor que é só pele e osso. Tem amor que são dois gambitos. Tem amor que morre de inanição. Tem amor que não tem estômago para as coisas do amor. Tem coisas que o amor não digere. Tem quem goste de comer pedra em nome do amor.
Tem amor que vai do calypso ao colapso.
Amor de verdade era o Joelma em chamas e o Chimbinha tocando um solo de guitarra.
Amor era a Joelma batendo cabelo e os bombeiros chegando pra apagar o fogo.
Amor era um homem que se atirou do 19º andar só pra lamber o chão que um dia ela iria pisar sem prestar muita atenção.
Tem amor que é um rádio relógio da CCE. Tem amor que é um 3 em 1 da Gradiente. Tem amor que é um eletrodoméstico que não funciona mais. Tem amor que faz aquele barulho de geladeira durante a madrugada.
Tem amor que é mais frágil do que um passarinho de gaiola.
Mais frágil do que a democracia em um pais latino-americano.
Tem amor que é risca-faca.
Tem amor que é só um hit de verão.
E quando ninguém mais quer saber dele, quando já deu o que tinha que dar, o melhor é mudar de estação.
Tem, Chimbinha, tem que saber acabar uma relação.
Qualquer uma.
Tinham que ensinar na escola.