Geral
Drama argentino - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 29/07
As últimas horas foram de tentativa desesperada de evitar o calote argentino. O país pagou antecipadamente os US$ 650 milhões da primeira parcela devida ao Clube de Paris, organismo que reúne os representantes dos governos credores. É uma forma de provar que não quer ficar inadimplente. O gesto de alguns credores privados, de abrir mão da cláusula que os favorece, ajuda a negociação, mas não resolve.
É mais importante continuar a negociação em Nova York do que tentar conseguir em Caracas mais uma declaração do Mercosul a favor do país. Mas é isso que a presidente Cristina Kirchner tentará hoje. E seu ministro da Fazenda não foi a NY. Há algumas saídas para a Argentina evitar a terceira moratória de sua história recente, mas ela tem poucas horas.
Concretamente, esse grupo de credores que acenou com a possibilidade de abrir mão da cláusula que obrigaria a Argentina a dar a eles as mesmas vantagens que tiverem os fundos abutres não representa a totalidade da dívida reestruturada. Além disso, os fundos que atualmente ganharam na Justiça americana o direito de receber o valor total dos títulos que têm em mãos são apenas 10% dos que ficaram de fora da dívida reestruturada. Ou seja, a vitória deles incentiva esses outros credores a exigir o mesmo na Justiça. Explicando melhor: 93% da dívida foram renegociados, 7% ficaram de fora e, desses, 10% são os fundos que venceram na Justiça.
A boa notícia é que esse calote não tem o poder de contágio. Em outras crises da dívida, havia sempre uma fila de países em situação similar e, portanto, ocorria o efeito dominó. Agora, a situação da Argentina é isolada.
Por outro lado, o fato de um juiz distrital dos Estados Unidos ser capaz de levar um país à moratória cria em torno do caso argentino um interesse que vai muito além das suas fronteiras. Está em jogo também a confiança nos Estados Unidos como foro para a discussão judicial em acordos de reestruturação de dívida soberana. Como a Suprema Corte decidiu que não é tema para ser levado à última instância, os países ficam ao sabor de decisões de juízes regionais.
Em qualquer renegociação de dívida, um grupo sempre fica fora do acordo de renegociação. Ele, em geral, é formado por investidores que compraram os papéis quando o valor estava no fundo do poço, apostando no confronto. Se a Justiça lhes der ganho de causa, eles têm alto lucro. Tradicionalmente, a Corte de Nova York tem sido escolhida nos processos de renegociação de dívida em que há conflito.
O caso da Argentina cria insegurança jurídica para qualquer renegociação de dívida soberana, porque o que o juiz está determinando é o pagamento imediato e pelo valor de face à minoria que apostou na briga judicial. Os credores que brigaram terão mais benefício. O precedente criado pelo juiz Thomas Griesa pode fazer com que credores e devedores, em futuros processos de negociação, fujam da Justiça americana como foro de eventuais conflitos.
O lado tranquilizador da dívida é que o calote não será o estopim de uma crise regional. Seu peso recairá sobre os argentinos e pode também afetar a Venezuela, que tem muitas vulnerabilidades econômicas, mas não há motivo para que seja uma crise regional.
O Brasil terá mais dificuldades de exportar para a Argentina, o que reduzirá ainda mais a venda de manufaturados, aumentando a recessão da indústria. Mas o efeito será limitado a isso. Nós temos um déficit em transações correntes de quase 4% do PIB, mas US$ 370 bilhões de reservas cambiais e uma conjuntura econômica totalmente diferente daquela na qual se encontra o nosso parceiro e vizinho.
A Argentina está na kafkiana situação de tentar pagar aos credores privados americanos com os quais renegociou a dívida e a Justiça de Nova York bloquear o dinheiro, ameaçando arrestá-lo para o pagamento dos credores que não negociaram. O pagamento ao Clube de Paris está fora desse risco porque é em outra jurisdição. O risco de Default continua alto nas próximas horas. No cenário do calote, a situação da economia argentina piora mais um pouco, mas ela já é ruim o suficiente com uma inflação acima de 30% e o PIB estagnado. O governo argentino tenta uma saída para esse labirinto.
-
Argentina Vai Para Os Pênaltis - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 01/08 Governo argentino não admite solução que inclua pagar dívida na íntegra e 'vai para o pau' HAVIA GENTE graúda interessada em ajudar a Argentina a evitar um novo calote. A "ajuda" era também interessada, claro. "Amigos...
-
Argentina Vai Precisar De Ajuda - Editorial Correio Braziliense
CORREIO BRAZILIENSE - 01/08 Em toda guerra, a verdade é sempre a primeira vítima. Na batalha que o governo da Argentina trava - e está perto de perder - com a Justiça de Nova York e com fundos chamados "abutres", para evitar a situação de default...
-
Calote Argentino - Editorial Gazeta Do Povo - Pr
GAZETA DO POVO - PR - 01/08 O que a Argentina e o Mercosul deixam subentendido é que contratos podem ser cumpridos ou não, de acordo com a vontade do governante No fim da manhã de hoje, uma audiência na Justiça de Nova York representará mais...
-
Vítima E Culpada - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 31/07 Abre-se agora para a Argentina um cenário de incertezas. Essa é uma moratória diferente de todas as outras. O país está pagando aos governos credores através do Clube de Paris, pagou ao FMI, tentou pagar aos credores da dívida reestruturada...
-
Argentina Pressionada - Editorial Folha De Sp
FOLHA DE SP - 20/06 Decisão da Justiça dos Estados Unidos determina o pagamento de credores que não aceitaram renegociar dívidas após o calote de 2001 Foi uma bomba. Na segunda-feira, a Suprema Corte dos EUA rejeitou recurso da Argentina e manteve...
Geral