DURMA-SE COM UM PRIVILÉGIO DESSES
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DURMA-SE COM UM PRIVILÉGIO DESSES


Privilégio é algo complicado. Nós aqui, por sermos classe média, por estarmos na frente de um computador neste exato momento, somos privilegiados. Mas não gostamos de nos sentir assim. Negamos o nosso privilégio. Reclamamos dos altos impostos que pagamos, dos nossos empregos estafantes, e de termos que pagar plano de saúde e escola. Mas a própria idéia de pagar uma escola ou um plano de saúde já indica um privilégio. Porque, pra maior parte das pessoas, isso não é uma opção. Ignoramos que somos uma minoria no mundo e que, pra maior parte da população mundial, seria um sonho ter uma vida exatamente como a nossa.
Existem muitos privilégios. Quanto mais próximo do padrão dominante (homem, branco, hétero) você estiver, mais privilegiado você será. O que não quer dizer que sua vida será um mar de rosas. Você também terá dificuldades. Mas muito provavelmente terá menos obstáculos que as pessoas fora do padrão dominante. Se você é branco, você não será parado pela polícia a todo momento apenas porque a sua cor é suspeita. Se você é hétero, você não será rejeitado pela sua família por causa de sua orientação sexual.
Sobre privilégio branco, este post (em inglês) oferece uma ótima comparação: poucos podem negar que, por exemplo, poder ver tem inúmeras vantagens sobre ser cego. A vida certamente é mais fácil pra quem pode ver, inclusive porque toda a estrutura do mundo foi construída pra gente que pode ver, não pros cegos. Isso não significa que pessoas cegas sejam incapazes ou inferiores, apenas que a vida é mais difícil pra elas. O que também não significa que elas não possam superar obstáculos e ter uma vida boa. Mas significa que, pra elas, coisas que pessoas que podem ver fazem normalmente, sem pensar no assunto, pra elas exige mais esforço. E um cego rico precisa superar montes de obstáculos, assim como um cego pobre. Tá, entendeu a analogia? É simples: se você é branco, será chamado a mais entrevistas de emprego, será mais contratado, conseguirá posições de comando com muito mais facilidade, não será estereotipado, será mais bem tratado por professores na escola, será mais bem tratado por médicos nos hospitais, não terá que provar algo o tempo todo... (aqui esse autor explica privilégio branco no contexto das eleições presidenciais americanas. Eu achei ótimo).
Este outro blog, em inglês, fala de privilégio masculino, e dá um bom exemplo do que é um privilégio de maneira geral: é andar por uma estrada sem grandes buracos, sem lama, bem transitável - e nem sequer reparar nas boas condições da estrada. Mas não leve pelo lado pessoal. Os privilégios são de um grupo, não necessariamente individuais. O primeiro passo pra não ser preconceituoso é aceitar o seu privilégio.
Eu vou falar de privilégio masculino, mas lembre-se que ser homem também traz algumas desvantagens, como ter que lutar em guerras, quase sempre se envolver em violência física, e ter que seguir um padrão de masculinidade que não permite sensibilidade. Homens têm que deixar de fazer uma série de coisas que são consideradas pouco másculas. É como se tivessem que pagar pelo privilégio masculino cooperando com uma versão idealizada da masculinidade. É por isso que o feminismo pode ser positivo para homens e mulheres, já que se propõe a romper algumas barreiras de gênero. Não seríamos todos mais completos, homens e mulheres, se homens pudessem se comportar com características tidas como femininas, e se mulheres pudessem se comportar com características tidas como masculinas?
Estas foram algumas coisas que me vieram à mente ao pensar no privilégio que é ser homem:
É não ser considerado “disponível” apenas por estar sozinho.
É ser escutado porque pode ter algo interessante a dizer, não por ser atraente.
É não te disserem o tempo todo que, pra você ser um homem completo, você precisa ter filhos.
É não ter que passar a vida fazendo dieta e se privando de comida gostosa, porque vai poder provar seu valor através de outros modos, e não só pelo formato do seu corpo.
É não ter que fazer essa técnica de tortura medieval comumente chamada de depilação.
É ter modelos que te inspirem, modelos celebrados pela mídia por outros talentos, fora a beleza física.
É poder sair à noite e se preocupar apenas em ser assaltado.
É não ter que ter medo e ser paranóico o tempo todo.
É não ser agarrado na rua, como se o seu corpo fosse público.
É poder cometer muito mais acidentes no trânsito e ainda assim ser visto como um bom motorista, porque mulher é que é barbeira.
É não ouvir baixarias toda vez que sair de casa, sentindo que seu
corpo está constantemente sendo avaliado.
É não ter seus sentimentos dispensados porque, afinal, pra estar tão sensível, você só pode estar com TPM.
É não ter que pegar uma vassoura pra dar um jeito na casa. E, se algum dia fizer tamanho esforço, poder fazer bem meia boca.
É exigir ser elogiado por algo que uma mulher faz frequentemente, sem recompensas.
É poder ter uma vida sexual ativa, com várias parceiras, e ser festejado por isso, chamado de garanhão, playboy. Enquanto que se uma mulher fizer exatamente a mesma coisa, será uma vadia.
É achar que todas as mulheres gostam de ouvir grosserias na rua. E não ver que dizer uma estupidez dessas causa tanto repúdio como cantar uma mulher na rua.
É ninguém achar que seu corpo está à venda.
É não apanhar em casa, porque lá não vai haver alguém mais forte que você que se ache no direito de te bater porque a camisa não está bem passada.
É ser ensinado que ser ouvido é mais importante que ser visto.
É não ser decorativo.
É acreditar que outros homens possam ser seus amigos fiéis (porque as mulheres são criadas pra ver todas as mulheres, inclusive as amigas, como adversárias desleais).
É poder beber até cair sem ser estuprado.
É ter alguém que vai encontrar as suas meias. Ou pelo menos que se possa culpar por ter perdido as meias.
É, no trabalho, alguém não pedir pra você fazer ou trazer café.
É poder ver anúncios grotescamente misóginos e só notar a beleza das modelos.
É ganhar um salário maior simplesmente por ser homem.
É poder ter muito mais liberdade, quando você é menino, que a sua irmã.
É poder deixar de ser virgem o mais cedo possível. E, no futuro, nunca lembrar a idade que você tinha, porque faz tanto tempo, e nem foi importante.
É não ter que se sacrificar pra estar belo.
É não ter que usar salto alto, um tipo de sapato que desequilibra, dói, e pode deformar seus pés.
É não ter que trocar de sobrenome ao casar.
É não ser tratado como idiota, ou como alguém que não vai entender o que está sendo dito.
É não ter que ouvir piadas sobre coisas que fazem parte da sua realidade e te atormentam (estupro, por exemplo).
É não ter que gastar tanto do que ganha em cremes de beleza inúteis.
É poder envelhecer e ter o seu cabelo grisalho associado a poder e charme; suas rugas serem associadas à experiência, vivência, uma história de vida.
É poder ser sexualmente desejável, apesar da idade.
É ter toda uma ciência feita por homens para legitimar o seu comportamento e o seu domínio como “natural” e “instintivo”.
É ter todo um sistema de discriminação que trabalha a seu favor não ser contestado, porque é uma tradição.
É, na sua religião, ser tratado como o poderoso, e sua mulher, como apêndice.
É achar que você tem direito a todos esses privilégios porque Deus - que é Pai - quis assim. Ou porque está na bíblia. Ou simplesmente porque sempre foi assim.




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