É inevitável o suicídio coletivo? - RUBENS RICUPERO
Geral

É inevitável o suicídio coletivo? - RUBENS RICUPERO


FOLHA DE SP - 27/05

Se algo não mudar, vamos chegar ao fim do século com mudança de clima que ameaça a civilização


Em 10 mil anos de história, é a primeira vez que a humanidade tem o poder de cometer suicídio coletivo. Era essa a tese central de Emmanuel Mounier em "O Grande Medo do Século 20". Publicado em 1947, o livro se referia à ameaça de uma catástrofe atômica, angústia constante na fase aguda da Guerra Fria entre EUA e URSS. Passaram-se 66 anos e conseguimos evitar o pior.

Na época de Mounier não se sabia que os homens poderiam liquidar o mundo não só com bombas, mas com o aumento desenfreado da produção econômica e do abuso dos combustíveis fósseis. Quinze dias atrás, ultrapassamos o sinal amarelo no rumo da destruição. A atmosfera registrou 400 partículas de dióxido de carbono por um milhão.

É preciso recuar 4,5 milhões de anos para encontrar concentração comparável. O clima era então muito mais quente, quatro ou cinco graus a mais em média. No ritmo atual, não existe nenhuma possibilidade de limitar o aquecimento global a dois graus como decidido em Copenhague. Se algo não mudar, vamos chegar ao fim do século com 800 partículas e mudança de clima de dimensões que ameaçam a sobrevivência da civilização tal como a conhecemos.

A violação da marca simbólica de 400 por milhão não provocou nenhuma declaração ou alerta de chefes de Estado. Um dia depois, os jornais esqueceram o assunto e voltou-se ao dia a dia como se nada tivesse acontecido. Como explicar tal indiferença diante da morte anunciada que espera o mundo dos homens?

O silêncio é inexplicável numa sociedade na qual a ciência substituiu a religião como crença unificadora. Ora, a ciência climática não permite dúvidas: de 12 mil estudos científicos sobre o tema em 20 anos, 98,4% confirmam as previsões!

Há muitas explicações para a inércia. Uma delas tem a ver com a natureza da ameaça. Crises como a dos mísseis de Cuba em 1962 precisam ser resolvidas em horas ou dias. Se o presidente Kennedy tivesse hesitado, em poucos dias seria tarde demais. Já o desastre ambiental é como um câncer de expansão lenta: sabe-se que ele está lá, que se nada se fizer, a morte é inevitável. Mas não se sabe o dia nem a hora. Isto é, uma catástrofe em futuro indeterminado carece da força para precipitar soluções difíceis.

O provável por isso é que só haverá ação decisiva para evitar o colapso definitivo depois de uma sucessão de calamidades espantosas. Quando isso suceder, muitas das consequências já se terão tornado irreversíveis como o derretimento das geleiras, a elevação do nível dos oceanos, a inundação de cidades, a desertificação, a extinção de milhares de espécies.

Toynbee lembrava num dos seus últimos livros que nisso os homens deveriam invejar insetos como as formigas, condicionados do ponto de vista psicossomático a agir coletivamente por instinto de sobrevivência. Estudo recente comprovou que os peixes já estão migrando para o norte em busca de águas mais frias. Enquanto isso, os seres humanos se deslumbram com o avanço em produzir e queimar mais gás a partir do xisto...

A razão talvez esteja com o poeta T.S. Eliot: o mundo acaba não com um estrondo, mas com um gemido.




- Corrida Para A Catástrofe - Gilles Lapouge
O Estado de S.Paulo - 01/10 PARIS - "Nossa casa está queimando, e nós simplesmente olhamos para o outro lado", alertou, preocupado, o então presidente francês, Jacques Chirac, em 2002. E qual é a situação hoje, dez anos mais tarde? A casa continua...

- Lógica Financeira Contra Lógica Da Sobrevivência - Washington Novaes
O ESTADÃO - 05/07 Talvez não haja exemplo mais adequado da prevalência da lógica financeira no mundo do que o recente lançamento do plano do governo norte-americano para enfrentar mudanças climáticas (Estado, 26/6). Na ocasião, disse o presidente...

- Rio+30
?O carvão, o petróleo e o gás são chamados combustíveis fósseis porque são compostos principalmente dos resíduos fósseis de seres remotos. A nossa civilização funciona pela queima dos resíduos de criaturas humildes que habitaram a Terra centenas...

- Contraditório Sobre O Protocolo De Quioto
«(...) O efeito de estufa e o correspondente efeito de aquecimento global não se devem unicamente ao dióxido de carbono e a outros gases resultantes da queima de combustíveis fósseis nas centrais térmicas. Um contributo muito importante provém...

- Seu Filho Verá O Fim? A Humanidade Será Extinta Em 100 Anos Devido Aos Efeitos Das Mudanças Climáticas, Afirma Especialista
Os seres humanos serão extintos daqui 100 anos, devido à superlotação, recursos em declínio e as alterações climáticas, de acordo com um cientista proeminente. Os comentários foram feitos, primeiramente, pelo microbiologista australiano, Frank...



Geral








.