É proibido fumar
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É proibido fumar



Rodrigo Constantino, para a revista VOTO

O Senado aprovou um projeto de lei que acabará com os “fumódromos” em locais fechados, mesmo em ambientes privados. O texto, que segue agora para a sanção da presidente Dilma Rousseff, também prevê o aumento na carga tributária dos cigarros, cuja alíquota de IPI será de 300%, além de deixar a cargo do Executivo a tarefa de fixar o preço mínimo para a venda do produto no varejo (o contrabando agradece).

O projeto também torna obrigatório o aumento de avisos sobre os malefícios do fumo no maço de cigarros (como se alguém ainda não soubesse). O Ministério da Saúde acredita que o preço do cigarro subirá cerca de 20% já em 2012 e poderá ficar 55% mais caro em 2015. Estas medidas devem contribuir para reduzir o consumo de cigarros no país. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, comemorou a aprovação por seu Twitter: “Estamos avançando na restrição do tabagismo!”.

A cruzada antitabagista está alcançando patamares alarmantes. Se antes a suposta preocupação era com o impacto da fumaça nos não-fumantes, agora a meta está escancarada: querem abolir o cigarro do mundo! Enquanto os fumantes não forem vistos como párias da sociedade, como doentes que precisam urgentemente de ajuda, os cruzados não vão sossegar. Eles são os portadores da Boa Nova, repletos de boas intenções, que vão impor um estilo de vida mais saudável aos ímpios e fracos.

Em recente artigo na Folha de São Paulo, um dos mais atuantes antitabagistas, Dráuzio Varella, afirmou que o cigarro é um dos piores crimes do capitalismo, pior até que a escravidão! Não obstante o verdadeiro absurdo de inverter tudo e culpar o capitalismo pela escravidão – ou será que quase todas as civilizações antigas eram capitalistas? – chama a atenção o grau de abuso da retórica em que chegam os missionários da saúde total. A nicotina passou a ser o inimigo público número um para essa gente. Varrer o tabaco da face da Terra é a razão da vida destas pessoas.

Não sou psicanalista para procurar motivos inconscientes que movem os adeptos desta cruzada. Talvez muitos tenham sido fumantes inveterados, incapazes de controlar minimamente o consumo do cigarro, e agora querem se vingar dos produtores. Ou quem sabe são apenas almas autoritárias dando vazão ao desejo de controlar vidas alheias. Pode ser ainda o caso de órfãos religiosos que buscam na cruzada da higiene plena um novo sentido para suas vidas após a “morte” de Deus. Realmente não sei dizer o que leva essas pessoas a abraçar esta causa com tanta determinação. Procuro apenas mostrar como estas bandeiras podem ser perigosas no longo prazo.

O regime que foi mais enfático no combate ao fumo e na luta pela saúde perfeita foi o nazismo. Hitler, que aparentemente era um fumante compulsivo na juventude, tornou-se um fervoroso antitabagista que desejava nada menos que a “pureza” do corpo. Detalhe importante: não a de seu corpo apenas, mas sim a de todos os arianos. A propaganda estatal contra o tabaco foi enorme durante o nazismo. Uma revista da época chegou a conclamar os “irmãos nacional-socialistas” a deixar de fumar e beber, pois cada alemão era responsável pela saúde de todos, e nenhum indivíduo tinha o direito de prejudicar seu corpo com drogas. Hitler não fumava, não bebia e era vegetariano. Todos deveriam seguir seu exemplo. Largar o hábito de fumar era um “dever” dos nazistas, e Hitler chegou a dar relógios de presente para associados próximos que tiveram sucesso na empreitada.

Se um indivíduo obsessivo deseja viver em busca de sua “saúde perfeita”, pensando que assim chegará perto de alguma imortalidade qualquer, o problema é dele. Eu, particularmente, acredito que há outros objetivos mais louváveis na vida do que apenas postergar a morte. Mas isso deve ser uma escolha individual. O que parece totalmente absurdo é o desejo de controlar as vidas alheias. Quando o sujeito quer impor o seu estilo de vida aos demais, aí é que mora o perigo. Autoritários que não suportam as preferências dos outros ameaçam a liberdade geral, especialmente quando tais preferências dizem respeito somente às suas próprias vidas. Antes os antitabagistas, mais tímidos, alegavam lutar pela saúde das vítimas passivas do fumo. Agora a máscara caiu: é preciso extirpar o tabaco do mundo.

O Prêmio Nobel de economia, Hayek, foi direto ao ponto quando disse: “É verdade que ser livre pode significar a liberdade de passar fome, cometer custosos erros, ou correr riscos mortais”. Liberdade individual pressupõe direito de escolha, incluindo, naturalmente, as escolhas “erradas”. Ninguém deve me obrigar a ser “feliz” à sua maneira. Até porque se hoje deixamos o governo nos dizer o que podemos fazer com nosso próprio corpo, amanhã ele poderá nos dizer o que fazer com a mente, ou seja, o que “pensar”. Parte da liberdade é escolher ir para o “inferno” do seu próprio jeito. Recusar como meta na vida a busca por uma “saúde plena”, preferindo fazer concessões ao prazer do momento, é uma escolha legítima que cabe a cada um. Abrir mão deste direito é abrir mão da própria liberdade.




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