Eduardo Cunha se prepara pra guerra?
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Eduardo Cunha se prepara pra guerra?


Por Altamiro Borges

Na semana passada, a bancada do PSOL fez uma importante descoberta. Em 2014, a Câmara Federal ampliou o arsenal usado pela segurança interna. Foram comprados 200 escudos, 200 capacetes, 200 cassetetes, 50 trajes policiais antitumulto e 100 protetores de joelho, canela e pé. Preço dos equipamentos: R$ 222 mil. Foram adquiridas ainda 700 unidades de spray de pimenta e gás lacrimogênio (custo de R$ 166,8 mil), além de 26 mil munições calibre 38 e 40, a R$ 65,5 mil. A lista também inclui 1.800 distintivos para o Departamento de Polícia Legislativa (R$ 4.140,00). Diante deste arsenal, a sigla solicitou a elaboração de regras básicas de segurança para evitar novas cenas de violência contra manifestantes, como a que ocorreu na votação do projeto de lei da terceirização.

O pedido é mais do que justo. Afinal, o novo presidente da Câmara dos Deputados, o lobista Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é famoso pela truculência com que trata os seus oponentes. Não é, propriamente, um democrata! Além disso, a Casa foi tomada por conservadores – as tais bancadas do BBB (Bala, Boi e Bispo). Esta turma não gosta de protestos populares – a não ser os manipulados, como ocorreu recentemente na gritaria organizada por algumas lideranças da Força Sindical. Para piorar, a Câmara Federal deverá votar vários temas polêmicos no próximo período – como o draconiano projeto da redução da maioria penal e o patético Estatuto da Família. É preciso garantir um mínimo de regras democráticas para evitar novas cenas de violência contra os manifestantes.

Há outro fator perturbador da paz na Câmara Federal. Eduardo Cunha, que já foi guindado ao posto de novo herói nacional pela revista “Veja” e passou a ser blindado pelo Jornal Nacional da TV Globo, anda meio irritadiço. Na semana passada, seu gabinete foi vasculhado por agentes da Polícia Federal, que levaram vários documentos. O pedido de vistoria foi feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e teve como base depoimento prestado por Luiz Antônio Souza da Eira, ex-diretor da área de informática da Câmara Federal, nas investigações da Operação Lava Jato. A denúncia reforçou a suspeita de que Eduardo Cunha arquitetou a elaboração de dois requerimentos de informações sobre uma empresa contratada pela Petrobras com o objetivo de garfar propinas.

Diante da inesperada vistoria a seu gabinete, o presidente-lobista ficou histérico. Ele acusou Rodrigo Janot de “perseguição política”. Segundo relato do jornal Estadão, “Eduardo Cunha disse nesta terça-feira, 5, que foi ‘escolhido’ pelo procurador-geral da República para ser investigado por uma ‘querela pessoal’. Em manifestação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal, Janot afirmou que existem ‘elementos muito fortes’ para continuar a investigação do peemedebista por suposta participação no esquema de corrupção apurado pela Operação Lava Jato. Na avaliação de Cunha, o procurador foi ‘contestado’ publicamente e por isso insiste em mantê-lo como alvo da investigação. ‘Ele está numa querela pessoal. Não há dúvida com relação a isso’, concluiu”.

Apesar da generosidade da mídia, que elegeu Eduardo Cunha como aliado na furiosa oposição ao governo Dilma, o cerco ao “peemedebista rebelde” está se fechando. Neste final de semana, ele inclusive mudou as normas internas da Câmara Federal para se safar das denúncias do ex-diretor da área de informática. Em matéria neste domingo (10), a Folha informa que o lobista “patrocinou a mudança com o objetivo de reforçar sua defesa nas investigações do esquema de corrupção descoberto na Petrobras pela Operação Lava Jato. Suspeito de ser o autor de requerimentos usados em 2011 para achacar fornecedores da estatal, o que ele nega ter feito, Cunha comandou reunião em que a cúpula da Câmara autorizou deputados a delegar a assessores o uso de suas senhas privativas”.

Em 14 de abril, Eduardo Cunha já havia se recusado a depor na Polícia Federal nas investigações da Operação Lava Jato, o que foi devidamente anotado pelo ministro Teori Zavasck, relator do processo no Supremo Tribunal Federal: “Cumpre apenas registrar o desinteresse do investigado em prestar esclarecimentos à autoridade policiais, sem prejuízo de oportunidade futura”. A “oportunidade futura”, enfatizada pelo ministro do STF, pode estar próxima. Caso as denúncias contra Eduardo Cunha ganhem consistência, o clima em Brasília deverá esquentar. Os manifestantes na Esplanada dos Ministérios e nas galerias da Câmara Federal exigirão explicações do prepotente lobista. É bom, de fato, ter regras mínimas para evitar novas cenas de violência dos seguranças tão bem armados!

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