Esqueçam o que escrevi - CELSO MING
Geral

Esqueçam o que escrevi - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 06/09

O Banco Central parece ter-se encolhido às lambadas recebidas da área econômica do governo.

Depois de passar meses denunciando "o balanço do setor público em posição expansionista", ou seja, denunciando as despesas excessivas do governo como causa importante de inflação, a Ata do Copom ontem divulgada mostrou plácido enquadramento não só ao sentido, mas até mesmo às expressões usadas pelas autoridades da Fazenda.

Ao longo das últimas semanas, em oposição ao Banco Central, presidido por Alexandre Tombini, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o secretário do Tesouro, Arno Augustin, vinham insistindo em que "a política fiscal é neutra" enquanto fonte de inflação. É o jeito de dizer que a política fiscal não joga nem a favor nem contra a alta de preços. De julho para cá, a percepção geral é de que as condições fiscais, se não pioraram, pelo menos não melhoraram. No entanto, o parágrafo 21 da Ata não só deixou de qualificar como expansionista a condução das despesas públicas do governo, como, também, comprou o discurso de Mantega e de Augustin: "Para o Comitê, criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade".

Tudo se passou como se, depois das queixas internas de que se tornara fonte propagadora do pessimismo sobre a economia, o Banco Central tratasse de desfazer essa impressão.

De todo modo, como das outras vezes, continua apontando outros fatores de inflação. O primeiro deles, "a estreita margem de ociosidade do mercado de trabalho", cujo maior risco é o aumento de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade. É o emprego aquecido demais.

Um segundo fator é a "depreciação cambial" (alta da moeda estrangeira em reais), que a curto prazo tende a puxar os preços para cima. A cotação de referência do câmbio deixou de ser R$ 2,25 por dólar e passou a R$ 2,40 por dólar. Faltou quantificar o repasse à inflação esperado e o impacto sobre a alteração dos preços relativos não apenas desses 15 pontos adicionais na cotação do dólar, mas, também, o dos outros 25 que aconteceram nos meses anteriores.

O Banco Central também volta a acusar dois agentes que perpetuam a alta de preços: a inflação elevada que, por si só, induz à excessiva utilização de mecanismos de reindexação (correções automáticas de preços) que realimenta e aumenta a resistência da inflação. E "a piora da percepção", ou seja, o crescimento do desânimo.

A Ata não esclareceu se o governo pretende ou não reajustar os preços dos combustíveis, fato que teria impacto relevante sobre os preços.

Desta vez, o Banco Central não contribuiu para a boa administração das expectativas em direção a uma inflação mais baixa em relação à hoje percebida pelo mercado. Ao contrário, ao retirar sem maiores justificativas as denúncias sobre a falta de colaboração da política fiscal no combate à inflação e ao acentuar que o que antes era ruim passou a ser bom, sem que nada tenha mudado, reforça a convicção de que a política de juros voltou a se pautar por outros critérios e não exclusivamente pelo de provocar a convergência da inflação à meta.

CONFIRA

Tabu. A repentina mudança de diagnóstico do Banco Central em relação à qualidade e aos efeitos da política fiscal do governo poderá agora reforçar as apostas do mercado financeiro e dos remarcadores de preços de que os juros básicos (Selic) não subirão necessariamente para onde tiveram de subir para segurar a inflação. Mas subirão até um degrau antes dos dois dígitos (10% ao ano). E por que? Porque, afinal, este foi até agora o limite tabu do governo Dilma.




- Sem Recuo - Celso Ming
O ESTADO DE S.PAULO - 25/07 O Banco Central (BC) rechaçou ontem as pressões de dentro do governo e de setores do mercado financeiro para que derrube os juros básicos (Selic) já a partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro....

- Mais Riscos De Inflação - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 21/12 A inflação não está tão controlada como vem declarando o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os riscos de alta persistem. É o que está no Relatório Trimestral de Inflação, um dos mais importantes documentos do Banco...

- Um Tabu Pode Cair - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 26/11 Amanhã deve cair mais um tabu do governo Dilma: o de que os juros básicos (Selic), que hoje estão nos 9,5% ao ano, não devem chegar aos dois dígitos, ou seja, aos 10% ao ano. O Banco Central teria de apresentar justificativa...

- Os Preços, No Elevador - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 08/11 Não é por que tenham sido esperadas que ventania e enchente se tornam menos destrutivas. É o que ocorreu com a inflação de outubro. Não ficou abaixo do nível com que já se contava, mas nem por isso deixa de estar em...

- A Alta Dos Juros Continua - Celso Ming
ESTADÃO - 19/07 O principal recado que o Banco Central passou nesta quinta-feira por meio da Ata do Copom é de que a inflação continua ?elevada e resistente? e que, nessas condições, continua precisando de corretivo. É uma importante diferença...



Geral








.