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Está (quase) tudo dominado - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 23/10
Três episódios, ocorridos no Congresso em intervalo de poucas horas, evidenciam que o bateu levou entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha (PMDB-RJ) não passou de cortina de fumaça. Enquanto os dois trocavam ataques verbais sobre quem está mais enlameado no escândalo do petrolão - se o presidente da Câmara ou o governo dela -, os acontecimentos, estranhamente, tratavam de desmentir o tal arranca-rabo. Isso porque, na vida real, os acertos de bastidores comandados por Lula e caciques do PMDB para livrar o mandato tanto da petista quanto do peemedebista - conforme noticiados dias antes pelo Correio e pelo O Estado de S. Paulo - começavam a ser postos em prática e contrariavam a encenação.
Vamos a eles: logo cedo, na quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros, iniciou a manobra - já cantada em verso e prosa pela imprensa - e estendeu de 15 para 45 dias o prazo de defesa do governo no caso das pedaladas, empurrando o desdobramento da questão para sabe-se lá quando. Já na madrugada da quarta para a quinta-feira, deputados governistas enterraram a CPI da Petrobras. Sem nenhum pudor, atropelaram a oposição e tiveram o duplo cuidado de livrar tanto Cunha quanto Dilma de qualquer constrangimento. Na quinta-feira de manhã, Cunha - já livre da CPI - devolveria a gentileza ao Planalto ao declarar que pedalada pode não ser motivo de impeachment.
Mas o gesto de "boa vontade" do deputado para o governo pode ter vindo tarde demais. Decisão do ministro Teori Zavascki, do STF, aponta para isso. Ele autorizou a repatriação de propinas do petrolão que estariam em contas secretas do parlamentar na Suíça. Com isso, fica mais complicada a sobrevivência dele no comando da Câmara. Sim, delatores contaram que dinheiro do bilionário esquema de corrupção foi para políticos do PT, PMDB, PP e ajudaram a financiar a reeleição de Dilma. No entanto, até agora, apenas as investigações contra Cunha avançam de forma célere.
Tudo acontece de maneira tão embaralhada - tudo ao mesmo tempo - que até a decretação da prisão de Cunha, pelo STF, é hipótese no tabuleiro da crise política. Um deputado governista entrou com o pedido no Ministério Público, que deve encaminhá-lo ao Supremo. Ou seja: não há saída para Cunha fora de um acerto com o Planalto. Afinal, a oposição - mesmo que quisesse - não tem força política para dar sustentação a ele. O que se pergunta é: uma vez salva de um processo de impeachment, Dilma jogará a boia salva-vidas para o então inimigo nº 1 do governo? Aguardem os próximos capítulos.
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