Reportagem: Paulo César Gomes- Fotografias: Farol de Notícias/Alejandro Garcia
É indiscutível que uma cidade não se desenvolve economicamente, socialmente e até culturalmente, sem que a política esteja envolvida. Isso é comprovado quando olhamos o desenvolvimentos das grandes cidades em relação ao interior, principalmente do Norte e Nordeste, e comparamos o peso político de cada região. Pois bem, Serra Talhada sempre foi uma cidade privilegiada no que diz respeito a participação ativa na política brasileira.
No entanto, nos últimos anos vem perdendo protagonismo. Uma prova disso é o fato de que a cidade não foi contemplada com uma plataforma de embarque e desembarque da Ferrovia Transnordestina. Acontece que há mais de 30 anos atrás a Capital do Xaxado possuía duas estações ferroviárias. Sendo uma das únicas do interior do estado a ter esse privilégio.
A primeira estação fica onde hoje é a popular ?Estação do Forró?. Mas aonde estaria localizada a segunda? Por que motivos ela não foi construída na zona urbana da cidade? Essas perguntas foram o combustível para que mais uma vez estivéssemos ao lado do querido amigo Alejandro Garcia, repórter fotográfico do FAROL, buscando encontrar as ruínas da ?estação esquecida?.
A ORIGEM DAS ESTRADAS DE FERRO EM PERNAMBUCO
Para entendermos o contexto desse trabalho de pesquisa é preciso que se faça uma viagem pela história de Pernambuco, mais precisamente em 1885, quando teve início a construção da Estrada de Ferro Central de Pernambuco (EFCP), em um trecho entre Recife e Jaboatão, pela empresa inglesa Great Western do Brasil, que mais tarde viria a incorporar quase todas as ferrovias da região Nordeste.
Aos poucos, a linha foi sendo estendida, somente chegando ao seu extremo, em Salgueiro, no ano de 1963, sem se entroncar com linha alguma na região. Antes disso, em 1950, a União incorporou a rede da Great Western, que passou a se chamar Rede Ferroviária do Nordeste (RFN).
A EFCP passou a se chamar Linha Centro. Esta linha, assim como toda a RFN passou a ser controlada pela RFFSA ? Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima ? a partir de 1957. Em 1983, os trens de passageiros e cargas do interior foram extintos. Permaneceram apenas os de passageiros no trecho entre Recife e Jaboatão, como trens de subúrbio.
O CICLO DO ALGODÃO FOI DETERMINANTE PARA CHEGADA DO TREM EM SERRA TALHADA
INAUGURAÇÃO DA ESTAÇÃO FERROVIÁRIA DE SERRA TALHADA EM 1957
Não há como negar que o ciclo do algodão foi o fator determinante para a chegada do trem em Serra Talhada. Diante da necessidade de escoamento da grande produção do chamado ?ouro branco?, fazia-se necessário a utilização de um meio de transporte rápido e econômico. Apesar disso é preciso que se diga que o fato de Agamenom Magalhães ser filho de Serra Talhada, foi um atenuante nesse processo.
Desta forma, o trem acabou se tornando a melhor alternativa, tanto para o transporte de mercadorias e da produção agrícola, bem como para a locomoção da população para outras cidades, principalmente para a capital. A chegada do trem ocorreu em 7 de fevereiro de 1957, com a inauguração da primeira estação da cidade. O evento contou com a presença de autoridades do governo federal, estadual e municipal, além de centenas de populares.
A ESQUECIDA ESTAÇÃO FELIPE CAMARÃO
Muito se sabe sobre a principal estação da cidade. No entanto, pouco se conhece sobre a segunda, que ficava localizada na zona rural da cidade, cerca de 26 km do centro, na Fazenda Barra do Exu, que pertencia ao ex-prefeito Francisco Alves da Fonseca Barros, o coronel Chico Alves, posteriormente passou a ser administrada por Antônio Alves de Nogueira (Tota Alves). Este acabou vendendo a propriedade ao ex-deputado João Falcão Ferraz, que era casado com Ana Lúcia Nogueira Ferraz, sobrinha de Tota Alves.
O que mais chama atenção nessa história é o que levou o governo estadual a construir uma estação no meio do nada. O que se pode compreender que a região era uma grande produtora de grãos e que a família possuía uma grande influência política para ter conseguido tal feito.
A estação Felipe Camarão ? homenagem ao índio que compôs a linha de frente das tropas brasileiras durante a insurreição pernambucana ? foi inaugurada provavelmente entre os anos de 1963 e 1965, seguindo a mesma estética arquitetônica das demais que estão espalhadas pelo estado. As terras da antiga fazenda foram indenizadas pelo INCRA e hoje são ocupadas pelos agricultores do assentamento Poldrinhos. Apesar disso, nada foi feito para que o prédio da antiga estação fosse utilizado para algum fim.
UM CENTRO DE ESTUDOS PARA PESQUISA E ORIENTAÇÕES SOBRE O ECOTURISMO
Ao invés de deixar o prédio da ?estação esquecida? virar pó, as autoridades competentes ? governos federal e municipal ? deveriam realizar um projeto para tornar a região um ponto de cultura e turismo. A estrutura da estação poderia ser recuperada para ser usada como um centro de estudos sobre a pré-história e a prática de atividades ligadas ao ecoturismo, tendo os moradores como guias.
Vale lembrar que na região de Poldrinhos está localizada a Pedra do Letreiro, onde existem pinturas rupestres ainda não catalogadas. Bem como um conjunto de serrotes, formado por rochas sedimentares e mata nativa, propícios para escaladas e outras atividades que fazem parte do rol dos esportes de aventura. Nós que estivemos na região, somos testemunhas da adrenalina que é escalar um dos serrotes, com quase 60 metros de altura, e a visão deslumbrante que se tem do cume da estrutura rochosa.
VALE DE AVENTURAS, MAS SEM INVESTIMENTOS
Publicado pelo portal Farol de Notícias de Serra Talhada, em 12 de julho de 2015.