Por Augusto BuonicoreJá faz algum tempo, a grande imprensa monopolizada elegeu o PCdoB como alvo de seus ataques. Isso é sintomático, pois revela a força política que vem adquirindo a legenda dos comunistas. Diz um velho ditado popular que ninguém bate em cachorro morto. Outro nos diz que “os cães não costumam morder as mãos de quem os alimenta”. Esse fenômeno não é novo. Cada vez que uma organização de esquerda se destaca no cenário nacional, os jornalões conservadores, rapidamente, se articulam para tentar desmoralizá-la.
Uma matéria falaciosa, publicada no último dia 6 no jornal O Estado de S. Paulo, encaixa-se nesta recorrente operação anticomunista perpetrada pelo campo político reacionário. O título é “PC do B troca fundadores por 'celebridades'”. Nela, o articulista Leonencio Nossa afirma: “as mais recentes propagandas na TV do PC do B ignoram seus líderes históricos, como Maurício Grabois (1912-1973) e Pedro Pomar (1913-1976), fundadores da legenda dissidente do PCB, que, em 2013, estariam completando cem anos”.
Primeiro o articulista não se deu ao trabalho de conferir a data que ele mesmo cita. O centenário de nascimento de Maurício Gabois foi em 2012 e não em 2013. Também em 2012 completaria 100 anos João Amazonas, dirigente histórico do Partido. Por isto, no ano passado, por propositura da bancada comunista, realizou-se na Câmara dos Deputados uma bela e comovente comemoração dos centenários de Grabois e Amazonas. Evento que contou com a presença de familiares dos homenageados e reuniu centenas de militantes do PCdoB de todo o país. Homenagens se repetiram em várias câmaras municipais e assembléias legislativas. Na oportunidade, foram lançadas duas alentadas biografias destes dois dirigentes comunistas e reorganizadores do PCdoB. Também foi produzido o documentário Os companheiros, visto por grande número de pessoas.
Alguns meses antes dessas atividades alusivas aos centenários de Amazonas e Grabois, o Partido Comunista do Brasil comemorou os seus noventas anos de existência, homenageando as diversas gerações de comunistas que ajudaram a construir o Partido. Nelas, se destacaram as figuras de Astrojildo Pereira, Luiz Carlos Prestes e João Amazonas, além de Grabois e Pomar. Ocorreu uma sessão especial do Congresso Nacional em homenagem aos 90 anos do Partido Comunista do Brasil e uma monumental exposição iconográfica na Câmara dos Deputados que enaltece o legado de dezenas de lideranças históricas. Em cadeia nacional de rádio e TV, milhões de brasileiros puderam assistir ao belíssimo programa no qual se homenageou esses personagens. Para completar a celebração, foi lançado, em livro, o documento 90 anos em defesa do Brasil, da democracia e do socialismo que sublinha a contribuição das várias gerações de revolucionários que edificaram o PCdoB e ajudaram a construir o Brasil.
Mais recentemente, pela iniciativa do senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) e da deputada federal Jandira Feghalli (PCdoB-RJ), o Senado Federal e a Câmara dos Deputados revogaram a cassação dos mandatos dos comunistas, ocorrida em janeiro de 1948. Foram beneficiados com esse ato o ex-senador Luiz Carlos Prestes e os 14 deputados do PC do Brasil, entre eles Jorge Amado, João Amazonas, Maurício Grabois, Carlos Marighella e Gregório Bezerra. Tratou-se de uma reparação histórica e uma homenagem que as duas Casas do Congresso Nacional, em nome da Nação, prestaram à legenda comunista e àquelas lideranças ilustres.
Nem o jornal, nem o jornalista podem alegar desconhecimento dos fatos acima enumerados. Com o deliberado objetivo de atingir o PCdoB, o Estadão desinforma e pisoteia a verdade.
Mas, além de macular a verdade, este jornalão adultera a história. Vejamos: Pomar, Grabois e Amazonas nunca se consideraram fundadores de nenhuma legenda. Eles sempre se reivindicaram como reorganizadores do Partido Comunista do Brasil, fundado em 1922, em contraposição ao Partido Comunista Brasileiro, registrado em agosto de 1961. Por isso, no ano de 1972, em plena selva do Araguaia, Grabois e Amazonas escreveram um importante documento intitulado 50 anos de lutas – e não dez anos de luta.
Agora em 2013 comemoraremos o centenário de Pedro Pomar. Neste particular, pelo menos, o jornalista acertou a data. Para ressaltar o legado de Pedro Pomar, a Câmara Municipal de São Paulo realizará no próximo dia 20 de maio uma sessão solene, iniciativa do vereador Orlando Silva, do PCdoB. Neste evento, será lançada uma densa biografia de Pedro Pomar, escrita pelo jornalista Osvaldo Bertolino, além de um cartaz comemorativo e um documentário sobre esse herói brasileiro. O Partido e a Fundação Maurício Grabois apoiam a realização dessa homenagem e irão realizar atos semelhantes em outros estados.
Da mesma forma, vamos enaltecer o centenário de Elza Monnerat, a “Dona Maria”, da resistência armada do Araguaia. Aliás, em relação ao Araguaia, o artigo do Estadão mente sem pudor algum ao afirmar que o Partido trata do tema apenas “em blogs e sites da internet.” Um exemplo é suficiente para desmascarar essa mentira. A Fundação Maurício Grabois produziu o documentário Camponeses do Araguaia: A guerrilha vista por dentro. Este trabalho foi escolhido, em 2011, pelo público como o melhor longa metragem da 6ª Mostra Cinema e direitos humanos da América do Sul. E por este festival foi apresentado em várias capitais do país. Também foi classificado para a fase final da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2010.
Tais iniciativas, e as citadas são apenas algumas, desmentem de forma cabal a insinuação do jornalista que este seria um partido que não valoriza ou esconde seus líderes históricos. Pelo contrário, o PCdoB cultiva sua trajetória e celebra suas lideranças. Somos um partido que tem na história um dos seus maiores patrimônios. Nenhuma organização deu tantos heróis e mártires à causa da democracia, da soberania nacional e do socialismo.
Por isso, o Estadão e o Globo, entre outros que apoiaram o golpe militar de 1964 e incentivaram a perseguição aos comunistas e aos democratas – o que contribuiu para que centenas deles fossem presos, torturados e assassinados pela ditadura – repetem no presente a conduta reacionária de “caça aos comunistas” do passado.
Vale lembrar que estes mesmos jornais que usam o nome de dirigentes históricos para promover acusações sem sentido contra a legenda comunista, são os mesmos jornais que os caluniaram no passado, acusando-os de “terroristas”, bandidos” ou “tresloucados”.
Contudo, existe outra coisa que incomoda esse arremedo de jornalismo e não é a suposta ausência de Pomar, Grabois, Amazonas ou Prestes nos programas de televisão do PCdoB. O que as classes dominantes e sua mídia não aceitam é que um Partido Comunista – que valoriza a sua história, mantém seus símbolos e não abdica de seu projeto revolucionário – possa ser tão atual e projetar tantas lideranças, especialmente jovens e mulheres, como a deputada gaúcha Manuela D'Ávila, a sambista Lecy Brandão e a senadora Vanessa Grazziotin. Perdem a calma ao constatar que o PCdoB, a um só tempo, exerce responsabilidades de relevo no governo federal, como é o caso do Ministério do Esporte, com o deputado federal Aldo Rebelo; e, simultaneamente, se vincula às lutas do povo e dos trabalhadores.
A direita e os reacionários que sempre lutaram contra a existência do Partido Comunista, não esperavam que a legenda seguisse viva e atuante nos dias de hoje, depois de ter perdido mais de uma centena de lideranças assassinadas pela ditadura militar de 1964. Tampouco que tivesse a capacidade crítica e autocrítica de reafirmar o socialismo em bases novas, depois da débâcle das experiências socialistas na URSS e no Leste Europeu na década de 1990. Nada inquieta mais a mídia dominante e a elite que ver um PCdoB forte e em processo de expansão, ainda mais participando dos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff, contra os quais a mídia também trava uma luta insana.
O PCdoB é reconhecido por praticamente todas as forças políticas do Brasil e também da esquerda internacional como legítimo herdeiro de toda a história do movimento comunista brasileiro. Esse é um fato concreto que as versões manipuladas da mídia, com suas leituras rasas e adulteradas da história, jamais poderão mudar.
* Augusto Buoniocore é historiador e secretário-geral da Fundação Maurício Grabois. Autor do livro Meu verbo é lutar. A vida e o pensamento de João Amazonas
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