EU NÃO RESISTO: MINHA OPINIÃO SOBRE O LINGERIE DAY
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EU NÃO RESISTO: MINHA OPINIÃO SOBRE O LINGERIE DAY


Ai, ai, será que eu falo nisso, sendo que só descobri o barraco todo ontem de madrugada, e que a Marjorie escreveu um texto incrível sobre isso? Bom, seguinte, deixa eu resumir, lembrando que nenhum resumo é neutro, já que é um recortezinho, uma visão, de um acontecimento: alguns blogueiros homens organizaram um tal de Lingerie Day, pedindo pra que as tuiteiras (se você precisa que eu traduza o que é isso, tá como eu: tuiteira vem do twitter, aquele micro-blog de 140 caracteres por postagem. Eu não tô lá nem vou entrar. Sou prolixa) trocassem seu avatar (acho que é o perfil, onde colocam foto) por fotos de lingerie. Um deles até fez a piadinha de praxe: se você for gorda, pelamordedeus, não participe! Eu só fiquei sabendo disso depois que a Marj chamou a atenção pra um post da Ana Carolina (eu não conhecia). Ana se opôs ao lingerie day, disse que a proposta era machista, e que isso era bem coisa desse mundo. Bom, ela fechou o espaço pra comentários quando já havia 107, a maior parte ofensas. Ofensas do tipo: “Você só pode ser feia, gorda e mal-comida” e “precisa tirar essa areia da vagina”. Nada diferente dos clichês que a maior parte das feministas já ouviu N vezes - se reclamamos da opressão às mulheres, só pode ser porque não estamos desfrutando das milhares de vantagens da nossa condição feminina (como, ahn, poder ser desejada pelos homens e ficar em casa cuidando dos filhos, sem ter que trabalhar).
Duas blogueiras feministas, após verem o post da Ana e a repercussão ultra-machista (ou há dúvida que chamar a blogueira de mocreia frígida é machista?), decidiram participar do lingerie day e puseram uma fotinho sua de calcinha e sutiã, pra provocar e fomentar o debate. E é nesse ponto que eu fico meio com o pé atrás de falar qualquer coisa, porque as duas blogueiras em questão são a Lu e a Aline, com as quais eu me desentendi faz tempo. Com a Lu foi basicamente por eu ser anti-pornografia, e ela tem uma ideia de que a pornografia é algo extremamente benéfico pra humanidade, principalmente pras mulheres (num post recente, por exemplo, ela disse que a pornografia ajuda as mulheres a gostarem mais de suas vaginas). Com a Aline foi porque eu discordei de um post que ela escreveu, e expliquei minhas razões, suponho que educadamente. Sua reação foi ficar super ofendida com a primeira crítica que eu lhe fiz (antes disso, comentei várias vezes pra elogiá-la) e me tirar do seu blogroll. Picuinhas da blogosfera, que todo mundo já tinha me avisado que aconteciam, eu é que não conhecia. Mas, sinceramente, nada tenho contra as duas. Às vezes visito seus blogs e, embora haja um monte de coisa que elas escrevem que eu não concordo, eu não as desqualifico. Considero ambas feministas, cada uma do seu jeito. Não é a minha linha de feminismo, mas o feminismo é plural, tem mil e uma correntes, e eu não sou de achar que só a minha está correta. Outras leitoras as indicaram para o meu concurso de blogueiras, cujo tema é feminismo, e eu as incluí na enquete, na boa.
Agora que já expliquei minhas reservas pra falar sobre o assunto, será que finalmente posso falar sobre ele? Ah, opa, ainda não! Preciso contar antes como a história do lingerie day continuou: Lu e Aline foram criticadas por outras feministas como a Mary W. e a Cynthia (e o Túlio) por participarem da campanha. Lu e Aline reagiram com posts (aqui e aqui) dizendo que foram objetificadas não pela campanha, mas pelos críticos à campanha.
Considero ingênuos seus argumentos de “Quem faz o contexto sou eu, então não vou ser vista como objeto porque eu que escolhi participar da campanha”. Mas, como eu disse, a Marj já rebateu isso num post brilhante. Não acho que as duas devam ser linchadas pelo que fizeram (tampouco vejo tentativa de linchamento, pra ser franca. Só se for tentativa dos trolls em linchar a Ana Carolina). Eu achei a atitude delas tolinha e vazia, por ignorar todo um contexto machista. Agora, vinte vezes mais sério, na minha opinião, do que colocar foto de sutiã, é afirmar que a Ana Carolina mereceu os comentários trolísticos que recebeu, porque o post estava agressivo. E o que me incomoda é ver gente, homens, em sua maioria, comentando nos blogs da Lu e da Aline e chamando as feministas “radicais” (ou seja, as que não posam de lingerie) de feminazis, histéricas, gordas, feias, mal-amadas, e todos os clichês do gênero. E a Lu e a Aline agradecendo com “é isso aí, obrigada”. Ou a Lu dizer que esse tipo de feminismo “radical” só se vê na blogosfera, como se “feminismo da blogosfera” fosse uma categoria fútil, como se ela mesma, ué, não fosse uma feminista da blogosfera.
Estive pensando noutra coisa também, que até agora não vi ninguém mencionar. Isso de “I'm a liberated feminist, hear me roar!” (“Eu sou uma feminista liberada, ouçam o meu rugido!”) é tão relativo... Quer dizer, isso de que ser pró-pornografia e posar de calcinha e sutiã ou nua é ser liberada, e quem é contra é puritana e anti-sexo. Primeiro, que negócio é esse de se expor? A mídia está tão saturada de imagens de mulheres semi-nuas que isso não chega a ser exatamente uma exposição incomum, né? Além disso, que a gente tire a roupa é justamente o que se espera de nós, mulheres. Não estamos indo contra nenhum padrão ao aderir a uma campanha e posar de sutiã.
Isso de exposição, pra mim, é mais embaixo. Ou melhor, mais em cima. Vamos falar dos rostos. Lu e Aline não mostraram, que eu saiba, não mostram, seus rostos. E assinam ou com pseudônimo ou apenas com o primeiro nome. Há outras feministas na blogosfera, como eu, Marjorie Rodrigues, Cynthia Semiramis, Denise Arcoverde, e a própria Ana Carolina Moreno, que mostramos nossa cara e assinamos com o nosso nome completo. Quem se expõe mais? Não estou dizendo que todo mundo devia publicar foto de seu rosto e nome completo. Mas não faz sentido pensar que a exposição é maior pra quem posa só de lingerie - e fazendo o jogo de machistas, ainda por cima. Tipo, o que tem mais na internet? Blogs machistas ou feministas? O que vai me trazer mais amiguinhos, posar de sutiã ou criticar o lingerie day? Desde quando é ser contra o sistema fazer direitinho o que ele manda?
Agora, pô, se aliar a um sujeito como o Gravataí Merengue? Não dá, né? As duas andam chamando-o de “boss”, chefinho, em tom de grande fraternidade. Eu mal conhecia o Gravataí até pouco tempo. Ele tem blogs desde 2001, eu é que estou sempre atrasada. Bom, o Gravataí, além de um dos idealizadores do lingerie day, foi chefe de gabinete da vereadora Soninha. Quando Soninha fez sua guinada pra direita, Gravataí fez também a sua - e como! Hoje um dos seus blogs, o Imprensa Marrom, troca figurinhas com o Reinaldo Azevedo. É do tipo que chama o Lula de analfabeto e as pessoas de esquerda de petralhas e apedeutas, se você me entende. Mas Gravataí tem também outro blog, em que pode manifestar seu machismo por inteiro. O último post que vi se chamava “Como namorar uma feminista”. Noutro, ele reclamava que a “blogosfera mulêzinha tem ficado excessivamente feminista”, o que deve ser um pé no saco pra um cara divertido como ele. Gravataí perdeu o que restava da sua credibilidade quando descobriram que um blog anônimo feito apenas para atacar o Luis Nassif tinha o endereço da casa dos pais de Gravataí, onde ele mora desde que se divorciou. Fora isso, ele também é conhecido por criar outros blogs anônimos para difamar seus desafetos (vai que ele cria um só pra mim). Quer dizer, mesmo que eu não achasse o lingerie day machista, eu veria a assinatura do Gravataí e prestaria mais atenção ao que Luis Fernando Veríssimo sabiamente disse: "Antes de se juntar ao coro, é melhor saber quem vai estar cantando ao seu lado". Não é por nada não, mas se o Gravataí fizesse uma campanha pra acabar com a fome das criancinhas na África, eu não iria aderir. Por que diabos uma feminista vê o chamado selvagem pra tirar a roupa vindo de um blogueiro dessa estirpe e pensa: “Uau, que ótima ideia!”?
Pronto, falei o que queria falar. Obrigada. Agora vou estudar pro meu concursinho, que é o que eu devia fazer se fosse uma senhora séria.




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