Por Altamiro BorgesEm qualquer parte do mundo, a notícia de que a taxa de pobreza extrema caiu 63% na última década seria manchete nos jornalões e destaque nas emissoras de rádio e tevê. Especialistas sérios, e não moleques de recado dos abutres financeiros, seriam chamados a explicar os motivos desta histórica redução. No Brasil, porém, a mídia partidarizada e descaradamente oposicionista – como já confessou a própria ex-presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), Judith Brito – prefere abafar o resultado para não reconhecer os avanços sociais ocorridos nos governos Lula e Dilma. E ainda tem gente que acredita na neutralidade da chamada grande imprensa. Midiota ou inocente?
A informação sobre a acentuada queda da miséria no Brasil foi dada nesta quarta-feira (30) pela Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), que divulgou o relatório “Pnad 2014 – Breves análises”. Segundo o documento, 2,48% dos brasileiros estavam em situação de extrema pobreza em 2014, índice 63% menor que em 2004. O texto é explícito ao associar a redução ao aumento da renda dos trabalhadores e à redução das desigualdades sociais, bem como à elevação da escolaridade e das condições gerais de vida do brasileiro e à diminuição das brechas que separam negros de brancos, mulheres de homens e trabalhadores rurais de urbanos. “A preços de junho de 2011, a média (da renda domiciliar per capita) passou de R$ 549,83/mês em 2004 para R$ 861,23/mês em 2014. O crescimento real foi de 56,6%, 4,6% ao ano”.
O primeiro texto da pesquisa, “Desigualdade e Pobreza”, mostra que as diferenças de renda caíram no Brasil de 2004 a 2014, segundo quatro indicadores internacionais. Pelo índice de Gini, o Brasil passou de 0,570 em 2004 para 0,515 no ano passado. Dependendo da linha de análise utilizada, a redução média de pobreza varia em torno de 10% ao ano, com resultados entre 63% e 68,5%. O segundo texto, "Mudanças nos arranjos familiares: 2004 a 2014", avaliou os avanços nos lares brasileiros, com base no rendimento médio mensal e outros indicadores. Os domicílios tradicionais ocupados por um casal e filhos diminuíram 10 pontos percentuais em dez anos, de 54,8% para 44,8%, cedendo espaço para os domicílios habitados por homens e mulheres sozinhos, casais sem filhos e lares chefiados exclusivamente pela mulher.
No tópico sobre o mercado de trabalho, o estudo comparou os resultados de seus principais indicadores ao longo dos 10 anos e concluiu que os desempenhos de rendimentos do trabalho, da informalidade e do desemprego foram amplamente favoráveis nos últimos dez anos. O relatório destaca, porém, que a crise econômica e adoção de medidas de ajustes já impactam este avanço. O crescimento do rendimento médio real, que foi superior a 7% em 2006 e próximo de 6% em 2012, caiu para menos de 1% em 2014. Já na análise sobre as desigualdades de gênero e raça entre os brasileiros, os dados são extremamente positivos no período. Entre as mulheres negras, por exemplo, o grau de informalidade no trabalho caiu de 75,9% em 2004 para 66,5% em 2014. Estes avanços, no entanto, também já sofrem os efeitos da retração econômica no país. Os mais atingidos pelo desemprego entre 2013 e 2014 foram exatamente as mulheres negras (35,1%) e os homens negros (25,2%).
O relatório “Pnad 2014 – Breves análises”, produzido pelo Ipea, ainda apresenta outros dados sobre os avanços sociais nos últimos dez anos e aponta as perspectivas para o futuro – destacando os efeitos deletérios da atual crise econômica. Infelizmente, porém, a mídia oposicionista preferiu abafar a pesquisa. Numa contida reportagem, a Folha tucana apensas registrou que “os dados sociais surpreenderam positivamente em 2014, diz Ipea”. A matéria assinada por Isabel Versiani prefere, porém, destacar apenas os aspectos negativos e preocupantes e questionar a credibilidade do Ipea. Haja oposicionismo na corporação midiática da executiva Judith Brito.
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