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Faltam professores - ANDREA RAMAL
O GLOBO - 24/06
O Brasil tem um déficit de 300 mil professores na educação básica. Em alguns estados, como Rio Grande do Norte, as escolas precisam fazer rodízio de aulas: o aluno fica em casa dois dias por semana, enquanto o professor atende outra turma.
Segundo pesquisa da Fundação Carlos Chagas, só 2% dos jovens brasileiros querem ser professores.
O número de docentes formados caiu pela metade nos últimos anos. Por que isso acontece? Primeiro, porque a remuneração não atrai talentos.
O piso salarial é de R$ 1.567, 10% do que ganha um professor na Suíça e cinco vezes menos do que em quase todos os países da Europa e nos EUA.
Segundo, porque aumentou a cobrança da sociedade por resultados, sem melhoria nos recursos para lecionar e nas condições de trabalho. Só 4% das salas de aula das escolas públicas têm computadores, apenas 28% têm biblioteca. Há escolas sem água potável e sem banheiro. A indisciplina e a violência na escola aumentaram, tornando a profissão estressante e insegura.
Terceiro, pelas perspectivas reduzidas de ascensão profissional. O plano de carreira inexiste em boa parte das redes. A preparação dos docentes é defasada frente às necessidades dos estudantes da cibercultura, e há poucas oportunidades de formação continuada.
Quarto, porque a profissão está socialmente desprestigiada. Quase meio milhão de professores leciona sem diploma de ensino superior.
Dos quase 60 mil professores que dão aulas de física, mais da metade não tem formação na área (MEC, 2012). Um estudo da Fundação Lemann mostra que 30% dos que ingressam nas licenciaturas estão entre os alunos do ensino médio com desempenho mais fraco. Esses fatos reforçam uma falsa ideia de que qualquer um pode lecionar. As famílias tampouco promovem, em casa, a importância da figura do mestre.
Agora o MEC está montando um portal inspirado na Khan Academy, com videoaulas pela internet. Será que o Ministério e as redes de ensino desistiram dos professores? Deixam de levar em conta, entretanto, que o ensino à distância e o autodidatismo puro têm bons resultados em culturas com hábitos de leitura e estudo consolidados, o que, no nosso caso, ainda precisa se construir - certamente com a orientação de professores motivados e bem formados.
Ao esquecer os professores, o Brasil marca passo na construção de um novo projeto de país - na contramão do que deu certo em países que, pela educação de qualidade, construíram economias fortes e sustentáveis.
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