Por Altamiro BorgesBem diferente do tratamento negativo dado à posse de Dilma Rousseff, a mídia tucana registrou com euforia a solenidade que garantiu o quarto mandato ao governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Não houve contagem do número de presentes em frente ao Palácio dos Bandeirantes – até porque não havia ninguém –, nem detalhes estilísticos sobre os trajes do grão-tucano, nem cara de nojo dos “calunistas” da TV Globo. Tudo foi uma beleza. A Folha destacou nesta sexta-feira (2): “Em posse, Alckmin ensaia discurso para 2018 contra o PT”. O Estadão aplaudiu: “Alckmin cita Covas e diz que SP não vai virar as costas para o Brasil”. Nenhuma palavra sobre a gravíssima falta de água ou sobre o caos na segurança pública.
A solenidade de posse serviu como palanque eleitoral para o governador paulista, que já se prepara para abandonar o cargo e disputar a eleição presidencial de 2018. Em seu discurso de 25 minutos, Geraldo Alckmin elogiou o povo paulista, “síntese do Brasil”, atacou a “ilusão do populismo fácil” dos governos petistas e, no maior cinismo, afirmou que “não é preciso fraudar a boa fé do povo brasileiro” para se reeleger. Sobre a grave crise de abastecimento de água em São Paulo, o Estado mais rico da federação, o governador preferiu não falar muita coisa. Talvez temesse ser acusado de estelionato eleitoral ou de “fraudar a boa fé” dos paulistas. A mídia chapa-branca, cúmplice do crime, também evitou tratar do tema.
Em plena campanha, o governador também esbravejou que o Brasil “precisa é livrar-se da máquina corrupta que insiste em sequestrá-lo”. Mas nada disse sobre as denúncias do “trensalão tucano” – que a mídia chapa-branca insiste em chamar de escândalo do “cartel dos trens”. O único registro curioso da velha imprensa é que o governador reeleito se confundiu num dos trechos do seu discurso. “Alckmin cometeu uma gafe. Ao falar sobre os ‘falsos dilemas’, enganou-se na leitura do texto e disse: ‘Defendemos e praticamos o falso dilema do paternalismo’. Ao se dar conta do que havia dito, fez uma pausa, mas preferiu seguir adiante, sem corrigir o equívoco”, registrou a Folha tucana, sem destilar seu veneno.
Já o Estadão fez questão de ressaltar a plataforma eleitoral do novo presidenciável tucano. “O governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), repetiu em discurso na Assembleia Legislativa palavras de seu antecessor à frente do Palácio dos Bandeirantes, o ex-governador Mário Covas, morto em 2001. ‘São Paulo não pode esperar um dia, um minuto, para oferecer ao País a sua parcela de luta’, disse. ‘São Paulo não vai virar as costas para o Brasil’, completou”. A única linha destoante na cobertura do jornalão da famiglia Mesquita foi publicada pela jornalista Julia Duailibi, que entrevistou Cláudio Lembro, ex-vice-governador de Geraldo Alckmin e integrante da executiva do PSD de Gilberto Kassab.
“Lembo avalia que a administração estadual escondeu a gravidade do problema durante a eleição e diz agora que o governo ‘deveria ser multado pela escassez’. Ele ironiza o argumento de que São Paulo passa pela maior seca dos últimos 84 anos e afirma que houve falta de obras. ‘A única saída é chamar Moisés, já que São Pedro não ajudou’. Apesar de afirmar que o governador paulista é ‘pequeno burguês’, Lembo diz que Gerado Alckmin será o próximo candidato a presidente pelo PSDB. ‘Ele é o governador de São Paulo, e eu já disse que ele é equilibrado, sensato. E o Aécio ainda é o menino de Minas, que não foi bem em Minas. Quem não é eleito na sua terra não vai ter grande sucesso’”.
Fora da velha imprensa, coube à mídia contra-hegemônica fazer as críticas à festança eleitoreira do governador tucano. O imperdível blog
Diário do Centro do Mundo observou que “em sua posse, Alckmin fingiu novamente que a Sabesp e a falta de água não existem”. Já a revista CartaCapital fez um importante registro histórico: “Com a posse de Alckmin, São Paulo é o Estado há mais tempo sem alternância de poder”. O PSDB completará 24 anos no governo paulista. A mídia chapa-branca, corrompida pelos milionários anúncios publicitários, sequer citou este curioso fenômeno. Ela prefere defender, de forma cínica e golpista, a alternância no poder no Palácio do Planalto, com o retorno dos tucanos ao governo federal.
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