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FELIZ ELEIÇÃO!
Como hoje é dia de eleição, vou aproveitar pra dizer que adoro votar. Tem gente que odeia, eu sei, e reconheço que não entendo essa gente. Ou melhor, talvez entenda. É gente que acha que seu voto não faz diferença. Que político é tudo igual, tudo farinha do mesmo saco. E é gente que vota em qualquer um e, se puder vender o voto, vende mesmo, já que pra eles o voto não tem nenhum valor. Depois não se lembra em quem votou, não fiscaliza, não acompanha. Essas pessoas acham que o voto não deveria ser obrigatório, porque assim, elas poderiam ficar longe desse processo desgastante. Não sei se tenho opinião formada sobre a obrigatoriedade do voto. Existe o lado de que, se fosse opcional, apenas as pessoas mais conscientes se dariam ao trabalho de ir às urnas e assim, provavelmente, escolheriam melhor. Imagino que isso daria vantagem aos partidos de esquerda, porque eleitor de esquerda geralmente é mais politizado que de direita (que pensa que governos só atrapalham e que o estado deveria ser mínimo, de qualquer jeito). Mas nos EUA o voto é opcional e, ainda que indiretamente, a população lá reelegeu o Bush. E fica aquele negócio de falta de legitimidade, de apenas 40% do pessoal votar, e de não ser a maioria que elege o seu governante.Pra mim votar é uma alegria por vários motivos. Primeiro porque só pude votar pela primeira vez em 1997, quando finalmente me naturalizei brasileira (não é um processo simples). Então eu realmente tive que conquistar esse direito de votar, e sempre vou com um grande sorriso às urnas. Depois porque sou de uma geração que viu bem o que era não poder votar. Eu participei das campanhas das Diretas Já em São Paulo, em 1983 e 84. Tinha uns 16 anos, mas me lembro muito bem. A gente lutou pra que a ditadura terminasse e pra reconquistar o direito de voto. Tudo bem, não fomos bem sucedidos naquele ano em que o colégio eleitoral escolheu, sozinho, a dobradinha Tancredo/Sarney. Mas foi um movimento importante. Ir a um mega comício desses com 16 aninhos mexe com a gente, nos politiza, nos faz sentir parte de uma comunidade. Assim como gritar “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, reclamando da Globo porque ela fingia que os comícios não aconteciam. Eu amava aquilo lá. Lembro que o primeiro comício que fui foi com meus pais e irmãos, a família toda reunida pedindo democracia.Em 1989 finalmente pudemos escolher nosso presidente, e lembro como se fosse hoje da campanha toda. Eu lutei pra caramba. Fazia colagem de jornais, escrevia artigos próprios, xerocava, e ia militar sozinha, à noite, depois do trabalho, em São Paulo. Eu nem achava perigoso. Ia na Praça Ramos, na Estação da Luz, e conversava com as pessoas. As pessoas queriam muito conversar. O clima era eletrizante. Fui a montes de comícios e passeatas do Lula em São Paulo. Fui até o Rio, sozinha, só pra ver Lula e Brizola no mesmo palanque, no comício da Candelária. Era incrível, porque quem votava no Collor tinha vergonha de declarar. Por isso, eu conhecia muito mais gente que votaria no Lula que no Collor. Mas aí o Collor venceu, por três motivos principais: o depoimento devastador que a ex-mulher do Lula deu na campanha do Collor, dizendo que Lula insistira pra que ela fizesse um aborto (o que me lembro que pegou era que ela chamou o Lula de racista. Ouvi bastante gente dizer “Não vou votar no Lula, ele não gosta de preto”); a captura dos sequestradores do Abílio Diniz, a um dia do segundo turno, posando pra TV com camisas do PT (sendo que eram todos estrangeiros); e, claro, a edição que a Globo fez do último debate. O Lula perdeu por muito pouquinho e estou convicta de que, se qualquer um desses três fatos não tivesse ocorrido, ele teria vencido. Se teria feito um bom governo ou não é outra história, que não dá pra saber. Certamente ele e o PT eram muito mais de esquerda na época do que são hoje.O clima no dia seguinte às eleições era de velório. Até hoje acho aquilo estranho. Eu andava de metrô e ônibus e não via uma só alma feliz. Nenhum sorriso. Zero de comemoração. Mas como, se foi São Paulo que elegeu o Collor?Collor foi um desastre, e o mais irônico é que ele fez, imediatamente depois de empossado, exatamente o que sua campanha pregava que Lula faria: confiscar a poupança. Eu não perdi um centavo nessa brincadeira, já que nem conta em banco eu tinha. Tudo que eu conseguia juntar trabalhando eu trocava por dólares. Mas sei que todo mundo perdeu muito. E lembro da inflação gigantesca, do preço de uma coisa à noite não custar mais o que custava pela manhã...Participei também das passeatas pró-impeachment. Eram muito legais. Quem não foi à nenhuma não tem condições de avaliá-las, eu acho. Os caras pintadas sabiam exatamente o que estavam fazendo. Lógico, eles eram jovens e cheios de energia, mas não estavam lá pra fazer festa (e nem eram a maioria). Queriam mesmo que o Colllor renunciasse. Por outro lado, sempre achei que os caras pintadas não teriam existido se a Globo (olha a ironia: a emissora que ajudou a eleger o caçador de maracujás também ajudou a derrubá-lo, indiretamente!) não tivesse exibido, pouco tempo atrás, a ótima minissérie Anos Rebeldes. Toda uma nova geração, que não sabia muito sobre os anos de chumbo, se comoveu vendo a Claudia Abreu como revolucionária, morrendo por seus ideais. Tenho cá pra mim que essa série mexeu pacas com os adolescentes da época. Se a Globo a reprisasse em 2010, e a campanha martelasse bastante o passado revolucionário da Dilma, a candidata do PT ganharia bem mais fácil.Só tenho uma foto da minha participação pró-impeachment (da qual muito me orgulho). É essa com um amigo finlandês, o Risto, que estava de passagem pelo Brasil. Eu o convidei e ele aceitou, fascinado, porque essas passeatas e comícios eram um mar de gente. Se reuniam 500 mil, um milhão de pessoas, como se dizia, eu não sei. Mas que era uma multidão como eu nunca vi na vida, não há dúvida. O Risto dizia: “Mas tem mais gente amontoada aqui na Avenida Paulista que a população total da minha cidade, Helsinque”. E era verdade.Portanto, pra mim, há tanta emoção, tantas lembranças, tanta esperança, por trás de cada voto, que fica difícil entender quem não gosta de votar, quem sente saudades da ditadura, quem acha que um votinho não faz diferença. Eu sou apaixonada por eleições. Se meu conselho vale alguma coisa, vá à urna com orgulho e consciência e escolha quem você quer que te represente na câmara dos vereadores e quem você quer que governe a sua cidade. Que é sua, é nossa, vale lembrar. É nosso país, nosso planeta, e o único que temos. Bom voto!
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