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Ficou difícil baixar os juros - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 25/07
Se o Banco Central (BC) tivesse metas e parâmetros semelhantes aos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), não lhe faltariam motivos para desacelerar a curva de altas da taxa básica de juros (Selic). Afinal, a impressionante derrocada da economia brasileira no primeiro semestre do segundo governo de Dilma Rousseff está levando junto milhares de empregos.
O efeito da paralisia que tomou conta de praticamente todos os setores da atividade econômica tem sido devastador sobre o único indicador que vinha conseguindo resistir à onda de desconfiança na capacidade do governo de reanimar a economia. O desemprego fechou o semestre em 6,9%, a taxa mais alta dos últimos cinco anos registrada em um mês de junho.
E, como se não bastasse, até o próprio governo reviu para baixo a sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, que passou a ser negativa, de 1,49%. Isto significa que nem os cálculos oficiais autorizam expectativa de melhora na economia e, portanto, de queda das demissões.
Nos Estados Unidos, isso já teria levado o Fed a comandar política monetária menos apertada, ou seja, a reduzir as taxas de juros para estimular o investimento e a disposição para o consumo. Mas a inflação lá é muito baixa e o Fed não tem que enfrentar uma corrida de preços provocada pelo tarifaço que, agora, põe fim ao adiamento eleitoreiro dos ajustes que deveriam ter sido praticados no Brasil, nos últimos dois anos.
A autoridade monetária brasileira enfrenta o desafio de conter e, depois, baixar uma das taxas de inflação mais altas do mundo: 9% ao ano, o que equivale ao dobro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional. O próprio Banco Central não espera devolver a inflação ao ritmo de 4,5% por ano antes dos últimos meses de 2016 e começo de 2017.
Alguns sinais positivos de que esse caminho estava sendo cumprido tinham levado analistas do comportamento da política monetária a um breve clarão de otimismo para os próximos meses. Tanto é assim que a maioria dos agentes do mercado ouvidos pelo próprio BC apostavam, até o início desta semana, que a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), agendada para o dia 29, não deveria aumentar a Selic em mais do que 0,25 ponto percentual.
Mas esse era um cenário construído antes de o governo anunciar a drástica redução da meta de superavit fiscal de 1,1% do PIB para o modestíssimo 0,15%. A verdade é que, por mais que o próprio governo tente amenizar o efeito desse corte sobre a política monetária, não há mais como manter a expectativa de alívio nas taxas de juros.
O Banco Central, em várias de suas manifestações, vinha comemorando a saudável ajuda do aperto fiscal no combate à inflação. Pelo menos nos últimos quatro anos, a autoridade monetária se viu sozinha na luta contra a inflação, já que não podia contar com os efeitos benéficos sobre os preços de uma política fiscal mais contracionista que, nem de longe, era adotada pelo comando do Tesouro Nacional.
Por isso mesmo, é razoável rever as expectativas quanto aos rumos que tomará o BC. Muitos já apostam em alta de 0,5 ponto na quarta-feira, como um sinal de que o ajuste fiscal menor será em alguma medida compensado com o endurecimento da política monetária. Quer dizer mais peso na conta da sociedade.
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