Por Altamiro Borges
A Folha deste domingo deu mais uma manchete espalhafatosa e sacana: “Programa social consome metade dos gastos federais”. O título induz o leitor do jornal, que já tem uma forte tendência elitista – como atesta a sua seção de cartas – a se contrapor à “gastança pública”. A reportagem interna também insiste em apresentar números sobre os recursos investidos pelo governo. A manchete até poderia ser outra: “Programas sociais retiram milhões da miséria”; mas a Folha neoliberal e tucana prefere omitir esta “conta”.
Segundo a matéria de Gustavo Patu, “os programas sociais de transferência de renda alcançaram peso inédito no gasto público e na economia do país. Recursos pagos diretamente a famílias representaram mais da metade – exatos 50,4% – das despesas do governo federal no ano passado, excluídos da conta os encargos da dívida pública. Dados recém-apurados da execução orçamentária mostram que o montante chegou a R$ 405,2 bilhões, distribuídos entre o regime geral de previdência, o amparo ao trabalhador e a assistência”.
Já neste trecho percebe-se má intenção do jornal. Ele junta os recursos dos programas sociais, como o Bolsa Família, com os recursos da Seguridade Social previstos na Constituição. Ao mesmo tempo, ele exclui os “encargos da dívida pública”. Ou seja: para as famílias de trabalhadores é um gasto “sem paralelo entre os países emergentes, o que ajuda a explicar a anômala carga de impostos brasileira, na casa de 35% da renda nacional”. Já para a minoria de banqueiros e rentistas, tudo bem gastar metade do orçamento da União!
O alvo da reportagem principal são os impostos cobrados no país – o que confirma o movimento em curso por uma reforma tributária que alivie o bolso dos ricaços. Eles seriam elevados por culpa dos gastos do governo com os programas sociais, com a previdência urbana, “cuja clientela cresce ano a ano em linha com o aumento da expectativa de vida da população”, e com “as despesas recordes do ano passado alimentadas pelo aumento do salário mínimo de 7,5% acima da inflação, o maior desde o ano eleitoral de 2006”.
Para justificar sua manchete terrorista e reforçar a campanha pela contrarreforma tributária, a Folha inclui vários “gastos” na sua lista: “Além das aposentadorias e pensões, os benefícios trabalhistas e assistenciais”, o seguro-desemprego, o abono salarial, a assistência obrigatória a idosos e deficientes de baixa renda. Ela também critica o aumento dos gastos com o Bolsa Família – “despesa com a clientela de 13,9 milhões de famílias que saltou de R$ 13,6 bilhões, no fim do governo Lula, para R$ 20,5 bilhões no ano passado”.
A Folha de domingo até publica alguns dados positivos sobre os programas sociais do governo Dilma, que evidenciam como milhões de brasileiros estão sendo retirados da miséria. Mas o objetivo principal do diário, estampado na manchete, é desqualificar as prioridades políticas do atual governo, que estariam elevando os gastos públicos. Nesta linha editorial, só falta o jornal da famiglia Frias lançar uma campanha nacional pelo retorno da escravidão e pela libertação dos ricaços dos impostos!
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