Folha e Estadão no golpe de 1964
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Folha e Estadão no golpe de 1964


Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

O professor Luiz Antonio Dias foi aos arquivos do Ibope doados à Unicamp. Descobriu pesquisas inéditas, demonstrando que: a) a reforma agrária tinha grande apoio às vésperas do golpe de 64; b) João Goulart era um político popular quando foi derrubado; c) a política econômica de Goulart tinha apoio da maioria; d) Goulart era forte candidato nas eleições presidenciais de 1965, se saísse candidato (o favorito era o ex-presidente Juscelino Kubistchek).

O professor também escreveu “Informação e formação: apontamentos sobre a atuação da grande imprensa paulistana no golpe de 1964 — O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo”, publicado no livro História do Estado de São Paulo/A Formação da Unidade Paulista, volume 2, República, publicado pela Imprensa Oficial paulista.

Anteriormente, Luiz Antonio havia feito seu mestrado estudando a atuação da Folha antes e durante o golpe de 64.

No artigo acima citado, ele reproduz trechos dos editoriais dos jornalões paulistanos, por exemplo, sobre a Marcha da família, com Deus, pela liberdade, em 19 de março de 1964.

Poucas vezes ter-se-á visto no Brasil tão grande multidão na rua, para exprimir em ordem um ponto de vista comum, um sentimento que é de todos, como o que ontem encheu o centro da cidade de são Paulo (…) Ali estava o povo mesmo, o povo povo, constituído pela reunião de todos os grupos que trabalham pela grandeza da pátria. (Folha de S. Paulo, 20.03.1964)

Meio milhão de paulistanos e paulistas manifestaram ontem em São Paulo, em nome de Deus e em prol da liberdade, seu repúdio ao comunismo e à ditadura e seu apego à lei e à democracia. (O Estado de S. Paulo, 20-03-1964)
Como sabemos, só a adoção do parlamentarismo permitiu a João Goulart assumir o poder, quando Jânio Quadros renunciou.

Jango submeteu a questão a plebiscito: o presidencialismo foi restaurado com 80% dos votos!

Apesar da clara demonstração de apoio popular a Jango, o Estadão escreveu: “Acusarão um comparecimento de votantes suficientes para dar ao país a impressão de que houve uma adesão popular ao ponto de vista palaciano. (…) O plebiscito é apenas uma etapa. (…) Outras virão para completá-lo para permitir ao sr. presidente da República que dê mais um passo à frente no terreno da abolição de nossas franquias constitucionais”.

Ou seja, é a mesma lógica que se aplica hoje ao governo chavista da Venezuela: por mais que o governo vença eleições, ele é acusado de atentar contra a democracia!

Trecho do texto do professor Luiz Antonio Dias no livro:

“O Ipes [Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais] também e organizava organizações femininas. Dentre as mais importantes, merece destaque a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE), composta de senhoras de classe média à alta burguesia, que via a presença do “demônio” do comunismo no governo João Goulart. O auge desses movimentos femininos foi em 19 de março de 1964 com a famosa ‘Marcha’. Seguindo os fortes ventos que sopravam para a direita, a Folha de S. Paulo exibiu — no dia seguinte à ‘Marcha’– a seguinte manchete: “São Paulo parou ontem para defender o regime”. As matérias e o editorial colocavam o povo de São Paulo como salvador da democracia”.
Importante lembrar que tanto os empresários Octávio Frias e Carlos Caldeira, da Folha, quanto os irmãos Mesquita, do Estadão, aderiram ao Ipes, uma espécie de Instituto Millenium anabolizado. Organizado por empresários, o Ipes promoveu uma campanha anticomunista que ajudou a demonizar Goulart.

Conclusão do professor, no texto acima citado:

Diante de tudo que foi apresentado, podemos concluir que o golpe de 1964 foi muito bem recebido pela Folha. O OESP também comemorou ao lado dos vencedores e, mais, com a vitória dos golpistas contribuiu com propostas para a nova ordem: ‘Uma terceira proposta vinha do jornalista Júlio de Mesquita Neto (…) e foi a primeira a chamar-se Ato Institucional. Sugeria a dissolução do Senado, Câmara e Assembleias Legislativas, anulava o mandato de governadores e prefeitos, suspendia o habeas corpus e pressupunha o primeiro de uma série (Gaspari, idem, p.122). É interessante notar que o Ato Institucional I, de 9 de abril de 1964, efetivou grande parte dessas sugestões, em especial, a autorização para a suspensão e cassação de políticos.

Se a posição do Estadão ficou bastante clara, ou seja, o jornal conspirou efetiva e abertamente contra o Governo Goulart, por outro lado a Folha aparentemente apenas ‘trabalhou’ de modo jornalístico contra o presidente João Goulart. No entanto, acreditamos que esse ‘trabalho’ jornalístico - de lançar matérias deturpadas e editoriais tendenciosos - teve tanta importância quanto as reuniões de Júlio Mésquita Filho com os militares golpistas.

Importante lembrar que, ironicamente, o Estadão foi o jornal mais censurado pelos militares (1.100 textos afetados em três anos).

Quanto à Folha, colaboracionista, depois do golpe ficou com o que restou do jornal que ajudou a destruir, a Última Hora, além de comprar o Notícias Populares – que havia sido montado para combater o UH de Samuel Wainer, jornal que apoiava o governo trabalhista deposto. Além disso, nos anos 70 os Frias entraram no espólio do que sobrou da destruída TV Excelsior e emprestaram um jornal à ditadura, a Folha da Tarde. Segundo o professor, entre 1964 e 1968 o patrimônio da Folha cresceu 5 vezes!




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