Não é pouco. O jornalão paulista coloca o ex-presidente - contra quem não existe nem mesmo pedido à Justiça de abertura de processo - como o suspeito número 1 da Operação Lava Jato e acusado pelo procurador-geral da República.
Na página A5 da edição da Folha de São Paulo de quarta-feira, 13 de janeiro de 2016, a matéria “Quem é Quem na Lava Jato” coloca o ex-presidente Lula como o suspeito número 1 da investigação e o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, como o número 3, logo após José Dirceu, que se encontra condenado e preso pela Justiça.
A matéria propõe ao leitor que “Tente descobrir o dono de cada apelido usado, segundo investigadores, para despistar entrega de propina no esquema da Petrobrás”.
Só há um “pequeno” problema nessa matéria que mistura pessoas contra as quais nada pesa na Justiça com outras que estão sendo processadas e/ou que até estão presas, como se todas integrassem uma única “quadrilha”: a menção a Lula captada na Lava Jato não o acusa de “receber propina”.
Em junho do ano passado, matéria do Estadão dava conta de que escutas da Polícia Federal descobriram que empreiteiros envolvidos na Lava Jato chamavam Lula de “Brahma”, em alusão a supostos hábitos etílicos do ex-presidente, quem jamais foi flagrado dirigindo bêbado pelas ruas do Rio de Janeiro ou de qualquer parte do país como aconteceu com um certo senador tucano por Minas Gerais.
Como se vê, a matéria deixa bem claro que foi uma menção de empreiteiros a Lula que não o acusou de nada, apenas fez referência a ele.
Abaixo, a citação a Lula em relatório da PF
Como se vê, o uso do termo “Brahma” para se referir a Lula não passa de uma curiosidade sem qualquer implicação para a honorabilidade do ex-presidente, já que não há nada de extraordinário em grandes empresários fazerem comentários sobre figura tão importante da vida nacional.
Porém, isso bastou para a Folha colocar Lula como o investigado número 1 da Lava, ao lado de pessas que estão sendo processadas e, algumas, até presas. A matéria induz o leitor menos atento a crer que tem diante de si o raio-x de uma quadrilha.
Mas não é só. Uma página antes, o jornalão antipetista faz uma trapaça ainda mais vulgar e espertalhona ao transformar em acusação mera referência do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a Lula.
Segundo a matéria (canto esquerdo da imagem no alto da página), diz a Folha que o PGR acusou Lula de “lotear entre Collor e PT” uma distribuidora de combustível.
Uau! É uma declaração e tanto. O PGR acusar Lula de “lotear” patrimônio público é grave. Afinal, segundo o bom e velho dicionário Houaiss, lotear significa “dividir (terra, imóvel etc.) em lote, geralmente para venda; fazer loteamento”.
Janot, então, teria acusado Lula de vender ou dividir patrimônio público com entes privados (Collor e o PT). Há relato de que o PGR acusou Lula de alguma ilegalidade, certo?
Errado, porque Janot jamais usou o verbo “lotear”, que a Folha escolheu para falsificar uma acusação do procurador-geral da República a um ex-presidente da República. Exatamente em matéria contígua a outra que acusa o mesmo ex-presidente de liderar uma quadrilha sob investigação da Operação lava Jato e punição pela Justiça.
Eis o que disse o procurador-geral sobre Lula e a distribuidora em questão.
A verdade, pois, é bem outra. Ao relatar o caso de Collor, o PGR simplesmente comentou que ele recebeu de Lula “ascendência” sobre a Petrobrás Distribuidora S/A em um acordo político entre o PTB e o governo Lula igual a tantos outros acordos que TODOS os presidentes da República, governadores e prefeitos de todo o país sempre fizeram, fazem e farão para obter opoio político no Legislativo.
O jornal até reproduziu, sem destaque, o que realmente disse o PGR, mas a manchete “garrafal” faz o leitor menos atento nem sequer prestar atenção na imagem obscurecida e diminuta da declaração real de Janot e ficar com a acusação de “loteamento”, termo que ele não usou, além de não ter pretendido sugerir ilicitude na negociação do governo com o PTB.
A manipulação de fatos pela Folha, nas duas matérias supracitadas, teve o intuito claro de difamar e caluniar o ex-presidente Lula e pode gerar um belo processo ao jornal devido, justamente, à deturpação ou pura e simples invenção de fatos que jamais ocorreram.
Qualquer leitor menos atento ou esclarecido extrairá dessas matérias a impressão de que o ex-presidente é um bandido acossado pela Justiça. A bem da elevação do nível do debate político, espera-se que Lula não deixe esse crime contra sua honra por isso mesmo.