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FRAGMENTOS DA HISTÓRIA LEOPOLDINENSE: ROMANCE NA SENZALA
Diferente de outros anúncios que fala da fuga de escravos na região, publicados no jornal Leopoldinense, o anúncio abaixo chama a atenção, pois revela a existência de um relacionamento amoroso escrava e feitor.
A notícia envolve um caso ocorrido em Mar de Espanha mas, dada a proximidade de Leopoldina, poderia ser possível que os fugitivos aqui se escondessem, ocultando de alguma forma sua identidade. Por isso, além da descrição detalhada da escrava consta também uma descrição do feitor. Alguns detalhes chamam atenção. Reparem que a escrava é identificada pelo nome, enquanto que o feitor apenas pelas suas iniciais e o fazendeiro descreve até trejeitos do feitor.
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O Leopoldinense. Leopoldina, 17 de fevereiro de 1881, n. 11, p. 04 (Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional) |
A fuga de dois amantes, por mais romântica que pareça, pode ter feito parte de toda uma estratégia para a conquista da liberdade. Imaginem o poder dessa mulher, que convence seu amante branco a fugir, largar a estabilidade do emprego, a casa e se aventurar numa empreitada que poderia terminar em prisão ou morte.
Caminhando por essa lógica podemos deduzir que possivelmente havia entre escrava e feitor, além de uma relação amorosa, uma relação de poder exercida pela escrava sobre o feitor "onde a mesma utiliza-se do poder do seu corpo e da sua inteligência para submeter o feitor as suas vontades ou pelo menos escapar de situações impetuosas" (SANTOS, 2008:05).
Para as mulheres escravas no Brasil seduzir um homem livre poderia significar uma certa melhoria na qualidade de vida e até mesmo, a liberdade. Chica da Silva é um dos mais célebres exemplos disso, embora um caso excepcional. Mas há outros. Algumas escravas que tiveram filhos com seus senhores conquistaram sua liberdade por meio desses filhos, que quando reconhecidos e libertos poderiam receber a mãe por meio de testamento.
"Apesar de consideradas indignas de casas de papel passado, laços de convívio diários com escravas acabavam por tornar-se tão respeitados como em qualquer país da Europa e elas assumiam, sem maiores obstáculos, a honrosa posição de esposas. No caso em que tais relações se prologassem, adentrando a velhice do parceiro, este não se decidindo por providenciar um casamento com uma mulher branca, acabava por fazer de seus filhos mulatos os únicos herdeiros de seus bens " (DEL PRIORE, 2005: 185)
Existindo ou não uma relação verdadeiramente afetiva, esta era um estratégia de sobrevivência da qual as mulheres escravas poderiam utilizar caso surgisse oportunidade. Embora um homem tivesse que ter uma mulher branca como esposa para apresentar à sociedade, as uniões com negras e mulatas eram comuns.
Qual foi o desfecho do caso entre o feitor português e a escrava Joanna? Difícil saber. Mas podemos ter certeza de que este tipo de relação (que podia resultar numa fuga ou até em um casamento) não foi um caso isolado durante o período em que o Brasil manteve o trabalho escravo.
REFERÊNCIAS
DEL PRIORE, Mary. História do Amor no Brasil. São Paulo: Contexto, 2005.
SANTOS, Harriet Karolina Galdino dos. O arquétipo feminino negro nos trópicos da sensualidade: um olhar literário e historiográfico acerca das relações de poder no cotidiano brasileiro-colonizado. Anais do II Encontro Internacional de História Colonial. Mneme ? Revista de Humanidades. UFRN. Caicó (RN), v. 9. n. 24, Set/out. 2008. Disponível em: www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais, acesso em 16/03/2014.
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