Futebol coberto de vergonha e luto - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
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Futebol coberto de vergonha e luto - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 16/02
Parece cena do século 19. Mas não é. Em pleno século 21, o mundo assistiu na semana passada a triste espetáculo de racismo. Torcedores do peruano Real Garcilaso insultaram o volante Tinga, do Cruzeiro. Imitaram sons e gestos de macaco sempre que ele pegava a bola - inaceitável demonstração de preconceito que cobre o futebol de luto e vergonha.
 Não se trata de episódio inédito nem localizado. Agressões a jogadores negros ocorrem em países ricos e pobres, desenvolvidos e em desenvolvimento. Espanha, Bélgica, Itália, Reino Unido, Rússia, Peru, Brasil serviram de palco para demonstrações de atraso, intolerância e falta de espírito esportivo.

Num deles, em 2005, a resposta veio de dentro do campo. Zaragoza e Barcelona disputavam partida do Campeonato Espanhol. Repetidas vezes, ao tocar a bola, o atacante Eto"o ouvia urros de primatas. Ensaiou retirar-se de campo, mas o juiz e colegas o impediram. Ao fazer um gol, comemorou imitando dança de símios. Foi revide polido contra a ação bárbara que constrange as consciências civilizadas do mundo.

O artigo 3º do estatuto da Fifa, entidade máxima do futebol mundial, estabelece que serão tomados esforços para acabar com todas as formas de preconceito no esporte. Anualmente, desde 2002, a federação escolhe uma data para comemorar o Dia Contra a Discriminação, no qual o capitão da seleção de cada país lê declarações antirracismo antes das partidas. O zagueiro brasileiro Thiago Silva já participou de evento do gênero. A campanha, porém, não inibe torcidas violentas.

Não se deve ao acaso a repetição de agressões racistas. As insistentes reprises são fruto da impunidade. Depois de cada demonstração de racismo, sobram palavras e faltam ações. Presidentes da República, ministros, políticos, atletas, dirigentes de agremiações divulgam notas e fazem declarações indignadas. Passada emoção, continua tudo como sempre esteve.

Apesar das ameaças de clubes, federações e confederações, não há histórico de sanções exemplares aptas a inibir ofensas do gênero nos estádios. Brandas, as penas se resumem a advertências, multas, suspensão de torcedores e fechamento de alas dos estádios. Não há notícia de prisão. Nem de punição rigorosa dos torcedores.

Não há dificuldade de identificar as pessoas que saem de casa para praticar atos de intolerância. As câmeras registram quem entra, quem sai, quem violenta. Basta vontade e coragem para punir. Por que não proibir torcedores black blocs de frequentar estádios? Ou expulsar o clube da competição em que a partida é disputada? O Real Garcilaso, por exemplo, ficaria fora da Libertadores deste ano.




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