Por Altamiro BorgesA mídia privada tem destilado ódio contra a greve dos garis do Rio de Janeiro, deflagrada em pleno Carnaval. Os grevistas da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) são tratados como vândalos, que prejudicam a imagem da cidade maravilhosa, o turismo e a saúde pública. As péssimas condições de trabalho e os míseros salários – cerca de R$ 800 mensais – não merecem destaque nos jornalões e nos telejornais. Já a atitude inábil do prefeito da cidade, Eduardo Paes (PMDB) – que desprezou as reivindicações da categoria e ainda ameaçou demitir 300 grevistas –, conta com a complacência da velha imprensa. Tamanha criminalização talvez explique a nota publicada no sítio Comunique-se nesta quinta-feira (6): “Equipe da Globo é hostilizada e impedida de cobrir manifestação dos garis”.
Segundo a notinha, “na tarde dessa quarta-feira de Cinzas, cerca de 200 garis participaram de uma manifestação em frente à sede da Comlurb, na Tijuca, e fecharam a Rua Major Ávila por cinco horas. De acordo com o jornal O Globo, durante o protesto, uma equipe de reportagem da TV Globo, que fazia a cobertura do ato, foi hostilizada pelos grevistas e acabou sendo obrigada a deixar o local”. A exemplo do restante da imprensa patronal, o sítio faz questão de criticar a paralisação. “Como consequência da greve, montanhas de lixo podem ser vistas em vários pontos da cidade. A quantidade de detritos ocupa calçadas, dificultando a passagem de pedestres. Além do mau cheiro, que também incomoda os que seguem em direção ao trabalho”.
Os trabalhadores da Comlurb aproveitaram o Carnaval, quando os serviços prestados são mais sentidos pela população e pelos poderes públicos, para deflagrar a greve por reajuste e melhores condições de trabalho. Eles reivindicam salário de R$ 1.200, mais adicional de insalubridade e vale-alimentação de R$ 20,00. Num primeiro momento, a prefeitura rejeitou dialogar com a categoria. Diante da greve, ela aceitou elevar o salário de R$ 804 para R$ 872,00, mas a proposta foi rejeitada. Já a Justiça considerou a greve “abusiva” e fixou multa diária de R$ 50 mil para o sindicato, que agora diz não participar do movimento. Apesar do cerco, os garis mantêm a paralisação e têm recebido o apoio de setores da sociedade.
Segundo a Agência Brasil, no irreverente desfile de protesto realizado em plena quarta-feira de Cinzas, que percorreu as ruas do centro do Rio Janeiro, os manifestantes foram aplaudidos por foliões que brincavam nos blocos de rua. Os grevistas também receberam o apoio da direção carioca da CTB, que divulgou uma nota oficial – reproduzida abaixo:
*****
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - Rio de Janeiro manifesta seu apoio aos trabalhadores da Companhia Municipal de Limpeza Urbana da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (COMLURB) e o repúdio à demissão dos trabalhadores grevistas. Conhecidos como garis, o trabalhadores da limpeza urbana carioca, pedem um piso salarial de R$ 1,2 mil; aumento no valor do tíquete alimentação diário para R$ 20 e o pagamento de horas-extras para quem trabalhar nos domingos e feriados, como previsto em lei. Os trabalhadores também exigem melhores condições de trabalho e que as negociações sejam reabertas imediatamente.
Os profissionais da limpeza urbana prestam um serviço essencial para o bom funcionamento da cidade e devem ser tratado com respeito pelo poder público. A CTB-RJ repudia com veemência a demissão dos profissionais garis e defende a reabertura das negociações com readmissão imediata de todos os demitidos.
Repudiamos, também, a truculência e falta de sensibilidade com que a Comlurb vem lidando com o movimento dos trabalhadores. Acreditamos que o diálogo é sempre a melhor forma e consideramos absurda a insensibilidade com a qual a empresa lida com a demissão de trabalhadores e pais de família.
Consideramos que seria importante que a Comlurb reveja imediatamente sua política de intransigência e, ao invés de tentar criminalizar a legítima luta dos trabalhadores, comece a pensar em um plano de valorização para os seus profissionais.
Todo apoio à luta dos garis!
Rio de Janeiro, 05 de Março de 2014
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil - Rio de Janeiro*****
Leia também:- O Globo investe contra as 40 horas
- A ofensiva contra as leis trabalhistas
- A falsa autocrítica da Globo
- Globo e jagunços disparam contra o MST
- Mensalão da Globo: Mostra o Darf!
- Globo prega arrocho dos salários
FOLHA DE SP - 14/05 Qualquer grupo de insatisfeitos com a falta de um muro em sua rua bota fogo num sofá e fecha a avenida, infernizando a vida de centenas de milhares Todo mundo que conheço achou uma coisa fantástica a greve dos garis no Rio. Eu não....
Reprodução/FacebookGaris da Comlurb recolheram os corações que apareceram no Rio de forma misteriosaDurante uma caminhada pelo Aterro do Flamengo, na zona sul do Rio de Janeiro, um morador do bairro encontrou 30 corações pendurados em uma...
Por Igor Carvalho, na revista Fórum: Chegou ao fim a greve dos garis no Rio de Janeiro. No final da tarde deste sábado (8), a Prefeitura aceitou a contra proposta dos servidores de aumento de 37% no salário base que sai de R$ 803 para R$ 1.100. O acordo...
Por Altamiro Borges Na manhã deste domingo (12), cerca de 200 bombeiros e familiares expulsaram uma equipe da TV Globo que fazia a cobertura de um protesto em Copacabana, no Rio de Janeiro. Revoltados com as manipulações da poderosa emissora, que...
Por Altamiro Borges A paralisação dos 3 mil metalúrgicos da Volkswagen de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, completou 36 dias nesta quinta-feira - na mais longa greve operária da história do Paraná. Os grevistas reivindicam...