Gestão de erros - EDITORIAL FOLHA DE SP
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FOLHA DE SP - 24/07


Acúmulo de problemas na economia decorre da falta de compreensão do governo Dilma Rousseff acerca dos reais desafios a enfrentar


De certa forma, trata-se de uma proeza: o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) chega ao período eleitoral com a pior combinação entre crescimento (pífio) e inflação (alta) dos últimos anos.

Políticos de variados matizes sabem que a eles convém, embora não seja do interesse público, apertar os cintos no início do mandato com vistas a fomentar a economia no ano do pleito. Devido a seu intervencionismo atabalhoado, e não por causa de elevadas considerações morais, nem isso a administração petista conseguiu fazer.

Economistas estimam que o PIB avançará menos de 1% em 2014; os preços dão pouca trégua; a indústria se retrai; a confiança de empresários e consumidores despenca. Não era difícil antever esse cenário, mas só agora a equipe da presidente emite sinais de que ela reconhece equívocos e pretende corrigi-los se for reconduzida ao cargo.

Se o mea-culpa tardio for sincero, que seja bem-vindo. Com o país à beira da recessão, porém, a estratégia não parece denotar súbito arroubo de lucidez. Antes, soa como uma tentativa quase desesperada de reconquistar apoios ou, no mínimo, reduzir a rejeição a Dilma.

Tenta-se passar a impressão de que as intenções, sempre boas e corretas, foram comprometidas na fase da execução. O caso mais citado é o do setor elétrico. Segundo a narrativa oficial, o governo apenas queria reforçar a competitividade da indústria e errou na mão.

A realidade, contudo, é menos rósea. Num gesto populista, a presidente decidiu que as tarifas deveriam cair 20%. Todas as decisões subsequentes tiveram de se adaptar a essa premissa.

O "erro" desorganizou o setor e deixou a Eletrobrás em situação falimentar. A conta, que já chega a dezenas de bilhões de reais, um dia será repassada aos consumidores.

Até a desoneração da folha de pagamento começa a ser vista como um benefício excessivo. Estendida a uma infinidade de segmentos, pesou demais para o Tesouro. Se o governo se arrepende da iniciativa, no entanto, por que a presidente decidiu torná-la permanente a poucos meses do pleito?

Perdeu-se, ademais, muito tempo em debates ideológicos sobre regras dos leilões de concessões. Disso resultou a estagnação dos investimentos em infraestrutura --que deveriam ter sido fonte importante de dinamismo econômico.

Longe de ser acidental, o acúmulo de problemas decorre da falta de compreensão acerca dos reais desafios a enfrentar. Evidenciou-se, há muito, que o governo nunca teve um plano; perdeu-se nas emergências do dia a dia.

Mais do que se desculpar, Dilma Rousseff precisa mostrar que tem algo de novo a dizer --e a fazer.




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