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Governo deixa Petrobras à beira do abismo - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 11/11
O tempo passa, o governo não mexe no seu irrealista ?modelo? de partilha e a Petrobras, sem crédito e sem caixa, continua próxima ao precipício
O tempo passa e a Petrobras não se move. Submersa em gestão temerária e corrupção durante o período Lula, a administração da maior empresa estatal do país virou tema de um folhetim policial no governo Dilma Rousseff.
Sua produção estagnou na faixa dos 2,8 milhões de barris diários; a receita entrou em declínio também por efeito da queda à metade dos preços do petróleo, em comparação com os valores de 2014; o endividamento em moeda estrangeira ascende a US$ 100 bilhões; e a companhia já não consegue renovar créditos, porque porque foi banida do mercado.
Dilma, reeleita, sinalizou uma faxina na empresa e mudanças na política setorial. No Congresso, alguns partidos aliados do governo e da oposição uniram-se na reavaliação do ?modelo? de partilha da produção, adotado para o pré-sal numa conjuntura em que a Petrobras era outra companhia ? tinha caixa, crédito, gastava menos dinheiro com exércitos de advogados e menos tempo e energia com problemas em tribunais do Brasil e do exterior.
O tempo passou, porém quase nada foi feito. Por fé ideológica, o governo resolveu manter o seu irrealista ?modelo? de partilha, com monopólio da Petrobras na operação e imposição do controle de 30% de todos os consórcios.
A cúpula da empresa, por sua vez, manteve-se refém de um outro ?modelo?, o político: cumpre ordens de Brasília enquanto, tacitamente, compõe interesses corporativos com os da nomenclatura sindical, usufrutuária de benesses por se alinhar ao partido do governo, o PT.
Da lassidão surgiu a atual greve de petroleiros, organizada em torno de uma ?pauta política", com efeito vinculante sobre ?um novo acordo coletivo", conforme a federação dos petroleiros.
Nele, essa burocracia beneficiária da gestão política que conduziu a Petrobras ao abismo pretende decidir o rumo da empresa controlada pelo Estado, à margem da vontade da coletividade, acionistas e representados no Legislativo.
Sob o silêncio obsequioso do governo e da direção da empresa, exigem que a Petrobras ?assuma o interesse em permanecer como operadora única do pré-sal", conforme a atual lei da partilha. E mais: compromisso de não realizar ?qualquer abertura de capital" da BR Distribuidora, incorporação ?integral e imediata" das subsidiárias Transpetro e Araucária Nitrogenados, ?manutenção e/ou ampliação" das atividades de exploração e produção no país e preservação da política de conteúdo local.
Fosse privada, a Petrobras já estaria em concordata, devido ao cardápio de malfeitos lulopetistas. Sem realismo sobre o seu papel (o ideal seria o retorno ao exitoso formato de concessões), não se realizam leilões para o pré-sal, porque a estatal não consegue participar. Assim, não entra dinheiro no caixa, não há crédito e o endividamento se multiplica. A Petrobras está à beira do precipício.
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