Grécia à beira do segundo round
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Grécia à beira do segundo round


Por Luís F. C. Nagao, no sítio Outras Palavras:

Um ano após sofrerem rebaixamentos de salários, redução de direitos previdenciários e aumento de impostos, milhares de manifestantes gregos voltaram às ruas quarta-feira (11/5). A ameaça de uma nova onda de medidas de “austeridade” levou-os a marchar até o parlamento. Além das centrais sindicais, participaram docentes, equipes médicas e paramédicas, trabalhadores dos transportes públicos e jornalistas. Estava no país uma missão composta por integrantes do FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu (BCE). O plano de “resgate” da Grécia adotado há doze meses, com base em ataque aos serviços públicos e direito sociais, está à beira naufragar – o que reacende os riscos de contágio na Europa.


Um breve retrospecto basta para atestar a ineficácia das medidas de “austeridade”. Obrigados a enormes despesas para socorrer instituições financeiras, na crise de 2008, os Estados europeus sobre-endividaram-se. Mas a partir do final de 2009, estes mesmos mercados enxergaram a fragilidade de quem os havia amparado – e se lançaram ao ataque. Passaram a exigir taxas de juros crescente, para refinanciar as dívidas públicas.

A débil Grécia era o animal doente do rebanho. Precisou oferecer taxas de juros de 12,3% ao ano – um escândalo, considerados os padrões europeus – para manter a rolagem de seus compromissos. Em maio de 2010, sufocada, chegou à beira da falência. O BCE e o FMI ofereceram o resgate: um empréstimo de 110 bilhões de euros, a juros mais baixos. Exigiram, em contrapartida, o sacrifício social. Imaginavam que, ao arrecadar mais e gastar menos, o Estado grego pudesse reservar mais recursos para juros e amortização da dívida.

Esta aritmética avarenta e primária não levava em conta outros fatores. O empobrecimento da população deprimiu o consumo e fez despencar a arrecadação de impostos. O corte de investimentos públicos aprofundou o abismo. Um ano depois, a Grécia está de volta às cordas. Boa parte dos 110 bilhões de euros foi consumida – mas sua dívida subiu para € 327 bilhões. Os mercados ampliaram a exigência: agora, só rolam os títulos do país cobrando juros de 15% ao ano.

Que fazer? O FMI e o BCE pedem mais do mesmo: uma nova passada de chapéu entre os países (e contribuintes…) europeus reuniria recursos necessários para mais um “resgate”. As contrapartidas exigidas dos gregos seriam ainda mais drásticas: privatizações em massa – inclusive das ferrovias e sistema elétrico – para arrecadar até € 50 bilhões. Venda ou aluguel dos próprios prédios públicos. Demissão de 30 mil servidores.

Segundo a revista londrina The Economist, o repeteco é visto com ceticismo até por alguns governos europeus, como o alemão. De forma reservada, autoridades germânicas teriam proposto, como alternativa, algo que poderia ser chamado de uma moratória branda. A Grécia não reduziria unilateralmente sua dívida. Mas imporia aos credores privados um reescalonamento de prazos e taxas de juros.

O desfecho da crise, contudo, não está à vista. Sempre segundo The Economist, FMI e BCE resistem a tal saída: mesmo moderada, ela fere a ortodoxia que condena as intervenções estatais nos contratos firmados em mercados. Por outro lado, setores do governo grego – em especial, os ministros da Energia e Ambiente – já atacaram publicamente a proposta de privatizações. Para o próximo a segunda (16/5), está marcada uma reunião crucial de ministros de Finanças da União Europeia.

Em meio ao impasse, a ação dos movimentos sociais pode ser ainda mais decisiva – e parece ganhar força. O protesto de quarta-feira reuniu 30 mil manifestantes e foi acompanhado de uma nova greve geral. Gritos como “não se pode mais, que paguem os ricos e evasores fiscais” ou ainda “nós não pagaremos pela crise” foram bradados pelos helenos. Na praça Sintagma, centro de Atenas, a polícia foi acionada e o desfecho foi 24 detidos, dezenas de feridos (entre eles um policial) e doze intoxicados por gazes.

A agravamento das condições sociais tende a tornar o país mais explosivo a curto prazo. Um contágio da crise para a zona do euro e o leste europeu não está descartado. A Espanha pode ser a próxima vítima.




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