GUEST POST: A EDUCAÇÃO PRECISA LEVAR GÊNERO EM CONTA
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GUEST POST: A EDUCAÇÃO PRECISA LEVAR GÊNERO EM CONTA


A Fernanda, uma jovem professora que conheci numa das palestras, escreveu este excelente relato sobre educação e gênero. 

Já trabalhei em rede privada, municipal e federal, então, apesar da pouca experiência, acredito que esse relato apresente várias situações que outros professores possam ter passado.
Para começar, não podemos esquecer que a escola é um local que serve ao poder, e toda a sua construção é baseada na manutenção do poder na mão de quem sempre esteve. Isso já explica as diferenças estruturais entre escolas de periferias e escolas mais centrais, escolas públicas e particulares. Ao mesmo tempo, a escola pode ser um local de resistência.
O que tenho percebido nas últimas eleições é que não há muita diferença nas pautas de candidatos envolvendo educação. Todos defendem a escola para todos, em tempo integral, e de qualidade, seja lá o que isso quer dizer para cada um. Vamos por pontos. 
A escola para todos tem sido feita de forma literal, ou seja, escola com todos de corpo presente nela. Não importa se com ou sem professor, se não tem livro, se a realidade escolar é totalmente desvinculada das comunidades do entorno, o importante é número. 
A escola em tempo integral, muito combatida pelo corpo docente, também segue a mesma lógica: o importante é todos estarem no tempo integral, mas vamos esquecer só um pouco a parte de infra estrutura, que isso sai caro (em tempo: acho necessário e importante a escola de tempo integral, só que isso tem sido usado de forma eleitoreira; a maior parte das escolas estão perdidas com essa mudança). 
Professoras de SP protestam durante
manifestação no Dia dos Professores
Já no quesito qualidade, entram mil coisas, mas em geral, quando pensam em qualidade, fala-se muito de provões, como SARESP, ENEM e prova Brasil (não importa também se muitas escolas maquiam os resultados fazendo simulados, o importante é ter pontuação). Mas discutir as classes super lotadas e as condições precárias de muitos docentes, poucos querem (para quem não tem muito embasamento, indico que procurem saber sobre a categoria O do Estado de São Paulo, categoria essa criada para tapar buracos das milhares de exonerações anuais e que é tolhida de muitos direitos trabalhistas). 
Religiosos adotaram a ideologia de
gênero como um dos grandes vilões
a ser combatido, principalmente na
educação
Essa introdução básica é para falar como o ambiente educacional atual agrega as relações de gênero. Como um ambiente extremamente tradicional, nossas escolas estão impregnadas de práticas sexistas, desde a estrutura até a própria prática docente e as impressões dos próprios estudantes. Eu costumo fazer algumas intervenções em meio a aulas sobre o assunto, como uma forma de analisar as próprias concepções dos alunos sobre gênero. Como professora de Ciências, meus alunos sempre me questionam sobre comportamentos. Abaixo coloquei algumas experiências em sala de aula:
1 - Em um quarto ano (antiga 3ª série), os alunos tinham a atividade de relatarem histórias a partir de um ponto que o professor contava. Coloquei propositalmente situações que os alunos não estavam acostumados a lidar em seu cotidiano, como por exemplo, quando uma menina ia falar, eu começava a história com um dinossauro; quando era um menino, eu falava de uma boneca na história. 
Resultado: as crianças percebiam a subversão da ordem e logo em seguida continuavam a história de forma a restabelecê-la. A menina do dinossauro o colocava fazendo compras em um supermercado, enquanto o menino da boneca falava que a deu de presente à irmãzinha. Com 9 anos, as crianças já tem uma divisão de papéis de gênero bem estabelecida. Fiquei torcendo para essas crianças terem alguma professora feminista no meio do caminho (eu estava em caráter de substituição).
2- Formar filas não sexistas é o maior sufoco da face da Terra! Já tentei fazer filas com gosto por sorvete, por altura, por qualquer outro parâmetro, as crianças ficam super confusas e acabam voltando a fila meninos x meninas. Aí aboli a fila (o problema é que muitos gestores confundem ordem com crianças em formação de quartel, e isso pode gerar problemas).
3 - Problemas de assédios que alunas enfrentam com alunos são considerados frescuras e vêm com todo o arsenal de desculpas que sabemos ser culpa de uma cultura de estupro. Já ouvi professora comentando que quando aluna vem reclamar que aluno fica olhando para a bunda dela, ela aconselha a se acostumar, porque o mundo é assim mesmo.
4 - Meus alunos me ajudaram a identificar um problema bem sério com livros de ciências: a ideia de ser humano representado como homem é tão inconsciente que nem eu percebi que ela é insistente nos livros. Estávamos em uma aula sobre sistema imunológico, e tinha um corpo feminino demonstrando a estruturas do sistema. Meus alunos perguntaram se só mulheres tinham baço e timo, pois o modelo apresentado era uma mulher, e não o representante "neutro" do ser humano, o homem.
5- As perguntas sobre sexo partem muito mais das meninas. Pode ter relação com os meninos não terem a mesma abertura com uma professora para conversar do que um professor, mas acredito que a educação machista cria homens que não podem demonstrar fraqueza ou dúvidas, ou que pensam que pornografia é educação sexual. Eles acabam correndo riscos por não expressarem suas dúvidas e incertezas. 
6 - Uma parcela considerável de professores e professoras ajuda a perpetuar essa divisão entre meninos e meninas. Tudo tem a versão feminina e masculina, desde marcador de página até chapeuzinho de coelho da páscoa. 
Aliás, mesmo em um ambiente com tantas mulheres como a escola, professores homens costumam ter posição de destaque em seus apontamentos, ao ponto de já ter tido reunião em que diretora passou a bola pra professor tocar. Os professores homens são colocados como mais sábios e eficientes que as professoras num geral, e isso parte de todo corpo docente. 
7- A falta de sororidade é algo muito comum entre alunas, assim como são frequentes as brigas motivadas por meninos. A ideia de masculinidade com demonstração de violência também é muito comum entre os meninos, que vivem com "brincadeiras" (adolescentes aprendem rápido com comediantes a utilizar a palavra brincadeira para toda falta de respeito) de briguinhas e de humilhações. 
Acredito ser um desafio importante da nossa educação acabar com essa cultura de violência que, aliada ao preconceito de gênero, perpetua papeis que já deveriam ter desaparecido há muitos anos.




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