GUEST POST: ATITUDE PRA IR CONTRA O PADRÃO CAUCASIANO
Geral

GUEST POST: ATITUDE PRA IR CONTRA O PADRÃO CAUCASIANO


Este é o lindo desenho que a Lívia fez pra Ester.

R. tem 16 anos, é daqui de Fortaleza e, inspirada pelo caso da Ester, me enviou este relato. Aproveito aqui para recomendar este lindo vídeo da campanha "Solte seus cabelos, prenda o racismo".

Não é um caso muito raro de se ver. Apesar de não ser negra e nem de ser filha de pais negros, eu, como a maior parte dos brasileiros, tenho ascendência negra e nasci com o cabelo afro, cacheadinho e bastante volumoso desde pequenininha. E com esse meu cabelo já passei por poucas e boas. É sobre ele o relato que eu vou contar.
Tudo começou quando eu era bem pequenininha, na primeira escola, uns três ou quatro aninhos. Sempre fui muito alegre e gostava muito de dançar. Minha avó cuidava do meu cabelo e sabia fazer vários penteados bonitos, então eu sempre parecia uma bonequinha. A primeira vez que eu aprendi que deveria odiar o meu cabelo foi num passeio da escolinha. Durante uma brincadeira entre os alunos, eu entrei no meio da rodinha de crianças e professoras pra dançar. Acontece que eu tinha ido para a piscina, meu cabelo estava secando sem creme para pentear, ao natural, e obviamente eu queria saber mais era de brincar. O resultado foi uma pequena moita cacheada na minha cabeça. E quando entrei na rodinha e comecei a dançar, de repente estavam todos rindo de alguma coisa. Coleguinhas e tias. Só fui perceber que a piada era eu (e o meu cabelo) depois de um tempo. Aí eu saí da roda.
A partir daí eu comecei a dizer que queria ser loira, ter cabelo liso e olhos verdes. A imagem perfeita do padrão. Chorava dizendo que era feia, que eu não queria ter nascido daquele jeito. Com o tempo, eu fui crescendo, e a minha avó, talvez por não saber o que fazer, começou a me levar na cabeleireira para passar relaxante e alisante no cabelo com 7 anos de idade. Felizmente, eu nunca fui tímida e mesmo com o cabelo "ruim" aprendi a me sentir especial. Mas com tantos procedimentos químicos feitos desde a infância, o cabelo foi ficando ruim de verdade.
Até que, relaxamentos e progressivas depois, eu cortei o meu cabelo no ombro, tratei e conseguir voltar a ver os meus cachinhos saudáveis. O problema é que, na indústria cosmética, poucos são os produtos para cabelo cacheado realmente eficazes. A maioria dos cabeleireiros têm pouquíssimo conhecimento sobre como lidar com esse tipo de cabelo de forma saudável, acham que a única solução é a química. Junte então a falta de informação com o preconceito por parte das pessoas. Um dia uma cabeleireira, negra, com o cabelo alisado, me abordou num restaurante perguntando se eu não queria alisar o meu cabelo pois ficaria muito mais bonito, fácil de manter, etc etc etc. Respondi que não, que tinha orgulho dele do jeito que era. Mas as pessoas são cruéis, Lola. Eu era constantemente motivo de piada por causa do meu cabelo. E quem fazia as piadas eram os meus próprios "amigos". Eu ria e fingia levar na esportiva, enquanto as meninas de cabelo liso colecionavam elogios. Ao mesmo tempo, eu não encontrava um cabeleireiro que não me oferecia uma "escova de não-sei-o-quê" junto com mil argumentos de realizar o procedimento (e desistir do meu cabelo natural). É também uma questão de custos. É muito mais lucrativo vender procedimentos químicos, e o cliente ter que voltar ao salão de 4 em 4 meses em média para retocar a parte da raiz que cresceu natural, ao invés de vender apenas tratamentos como hidratação, em geral mais baratos e que são necessários para manter saudável tanto o cabelo natural como o cabelo modificado por químicas.
Até que eu me rendi. Alisei o cabelo e deixei só alguns poucos cachos na ponta. Na primeira vez ficou lindo, elogios, o fim das piadinhas inconvenientes. Na segunda vez, meu cabelo sofreu um dano imenso, e chegou ao estado de "calamidade" que nunca havia chegado antes. Veio a raiva do profissional irresponsável que aplicou o produto da forma incorreta, o arrependimento de não ter seguido firme e forte com os cachos, de não ter ouvido pessoas que me aconselharam a não mudar, como alguns poucos amigos e o meu namorado. Mas hoje, um ano depois, sabe o que eu percebi? Que aquele cabelo volumoso, cacheado, que chama a atenção é meu, só meu, e faz parte da minha identidade. Cabelo liso pode ser lindo e prático, mas não é meu.
Minha história capilar caminha para um final feliz agora. Decidi pacientemente esperar o cabelo crescer inteiro de novo, e cuidar de uma parte de mim que tem sérias chances de se tornar a preferida, ainda que todo o resto seja amad
o. Pesquiso na internet e vejo que tem muitas meninas na mesma situação que eu e que compartilham pequenas diquinhas umas com as outras. Hoje eu sou feliz tendo cabelo cacheado (ainda que na base da técnica do "dedinho" e do "papelote"), olhos castanhos e sendo morena.
O que eu quero dizer para as leitoras e os leitores do seu blog é que a "ditadura do cabelo liso" é sim uma forma de racismo. Não vivemos em países eslavos para sermos todas loiras dos cabelos lisíssimos. É absurdo que o Brasil, um país com uma diversidade racial tão grande, tenha tanto preconceito disfarçado. Quantos não me diziam que eu estava certa de "assumir meu cabelo" (como se fosse algo que eu precisasse de muita coragem e humildade para admitir tamanha diferença perante à sociedade), mas tinham o mesmo cabelo de etnia negra como eu e viviam tentando aparentar o padrão caucasiano. A verdade é que tem que ter muita atitude para ir contra esse padrão. Portanto, não vou dizer que "se aceitem" como se fosse um ato passivo de conformação, mas mostrem às pessoas que todos têm o direito de serem aceitos! Que todos têm o direito de te aceitar do jeito que é e te respeitar assim. Não tolerem piadinhas. Não deixem que as pessoas te convençam que por causa de qualquer característica sua, seja cabelo, cor de pele, forma corporal, você não pode ser bel@. A beleza começa dentro de nós (sei que é clichê), e não num pote de escova progressiva milagrosa.
PS: Se alguém precisar de alguma referência quanto à cuidados com cabelos crespos e cacheados, foi aqui que eu aprendi muita coisa.




- Estilo: Os Cachos Dos Famosos
Lucy Ramos (30), Cris Vianna (35) e Jéssica Ellen (20) estão no ar nas novelas da Globo e sempre exibem seus belos cachos na telinha. Apaixonadas pelos seus cabelos, elas tem cuidados diferentes para manter os fios sempre hidratados...

- Beleza Feminina: Como Ondular O Cabelo Com Chapinha
Como ondular seu cabelo com chapinhaagosto 20, 2009 in Cabelos, Dicas | Tags: cabelo, chapinha, ondular | by Scarlet.VEssa é uma tatica rapida e facil, ainda mais se voce esta sem o babyliss.Voce pode fazer...

- Árvore Cabelo Cacheado Maramar
Árvore Cabelo Cacheado fica a caminho do povoado Maramar na PI 315Árvore Cabelo Cacheado MaramarÁrvore Cabelo Cacheado MaramarÁrvore Cabelo Cacheado MaramarFotos de Alanna Caldas e Mário Paz ...

- Guest Post: Meu Cabelo Incomoda Muita Gente
O G. me mandou este relato: Não sei se lembra-se de mim, eu fui o G. que comprou o seu livro na primeira tiragem, aquele que lê o seu blog desde os 12 anos.  Sou filho de pai negro e mãe branca, e puxei mais minha mãe, mas já tive várias experiências...

-
Ainda no assunto banheiros em começo de relacionamento: tenho lavado meu cabelo com o que, obviamente, é um xampu deixado pela ex. Não é da filha, que usa xampu infantil, não é dele, que não tem cabelo - e usa xampu anticaspa. É o xampudaex. Tá...



Geral








.