GUEST POST: EM HOLLYWOOD NÃO SE METE A BOCA
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GUEST POST: EM HOLLYWOOD NÃO SE METE A BOCA


O sistema de classificação dos filmes nos EUA é bem puritano, como a sociedade americana, aliás. 
Cenas de sexo são proibidas com muito mais rapidez que as de violência. Fora isso, mesmo cenas de sexo são avaliadas de jeito diferente, dependendo de quem está fazendo sexo (sexo entre casais gays ou lésbicos ou interraciais é censurado com muito mais frequência que entre casais hétero), e também do orçamento do filme (classificar para maiores de 17 anos uma produção independente é mais comum que um filme de grande orçamento). 
Nada disso é novidade. O diretor britânico Adrian Lyne, que só conseguiu uma distribuidora que topasse lançar seu Lolita nos EUA oito meses depois que o filme foi lançado na Europa, disse na época (final dos anos 90), não sem razão: “Se eu estivesse fazendo um filme sobre uma menina de 13 anos que é cortada em pedacinhos por um canibal, eu não teria problemas com a censura”. 
A polêmica da vez aconteceu anteontem, por conta de alguns tweets muito bacanas escritos pela atriz Evan Rachel Wood. O historiador desempregado Felipe Pasqua decidiu me enviar um post a respeito, que publico aqui:

E o rolo mais novo aprontado em Hollywood tem a ver com a censura de uma cena de sexo oral no filme Charlie Countryman. Pra falar a verdade, ouvi falar do filme por causa dessa notícia que saiu na Folha de São Paulo, que fala de uma cena de sexo oral que foi cortada, e da reação da atriz.
Sobre o filme nada a declarar, por enquanto. Mas a atriz Evan Rachel Wood, que é quem recebe o sexo oral no filme teve muito a declarar, não sobre o filme, mas sobre a censura colocada pela Motion Picture Association of America (MPAA). E se acharam ruim terem metido a boca nela, ironicamente, ela respondeu metendo a boca na associação!
Ela sai da mesmice da liberdade de expressão acima de tudo e todos, e vai no ponto da questão. Censurar uma cena de sexo oral em uma mulher em um filme com cabeças voando e explodindo, além de outras cenas de sexo "mais pesadas" (e botemos aspas aí, porque sexo pesado pra mim é o que quebra a cama, e se quebrou provavelmente é um bom sinal), não é só uma contradição evidente, mas o vislumbre de uma sociedade que ainda é machista. Machista, sim senhorx! Por que raios o prazer da mulher é censurado? E aproveitando a qualidade da argumentação da atriz, usarei suas palavras: 
"Ao ver o novo corte de Charlie Countryman, eu gostaria de compartilhar meu desapontamento com a MPAA, que achou ser necessário censurar a sexualidade de uma mulher mais uma vez (...) Esse é um sintoma de uma sociedade que quer envergonhar as mulheres e diminuí-las por gostarem de sexo, especialmente quando (uau) o homem não chega ao orgasmo também!".
Isso é botar o dedo na ferida! Numa sociedade em que a mulher é vista mais como objeto do que como pessoa, ou que quando é tratada como pessoa é mais pra ser questionada sobre "sua moral", suas roupas, sua sexualidade e/ou suas atitudes, realmente a cena de uma mulher gozando com sexo oral pode ser incômoda. Se uma saia curta incomoda muita gente, um orgasmo feminino incomoda muito mais! 
Penso naquele cara conservador que nunca imaginou que relação sexual é uma questão de prazer mútuo (mútuo, não necessariamente simultâneo) -- ele deve ficar louco de medo da mulher lhe pedir pra ele usar a língua pra alguma coisa melhor do que soltar suas idiotices por aí! Mas é bem pior que isso, parece que ver uma mulher gozando é uma afronta à "santidade" das mulheres que ele não cansa de pregar por aí! 
As palmas ficam pra Evan Rachel Wood, que eu mal conhecia [ela, que tem 26 anos e é casada com o ator Jamie Bell, de Billy Elliot, esteve na quarta temporada de True Blood] mas me causa ótimas impressões a partir de hoje, que toma as rédeas da situação, e com isso ataca dois tabus de Hollywood: o do prazer feminino e o da censura ao prazer feminino! 

Tweets de Evan Rachel Wood. Leia de baixo pra cima (clique para ampliar). E ela tem total razão: se fosse uma cena de estupro com sexo oral, teria sido cortada? (pense no angustiante -- e desnecessário -- plano-sequência de dez intermináveis minutos de Irreversível).




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