GUEST POST: ESCOLA DE PRINCESAS, AS MENINAS DE HOJE E AS MULHERES DE AMANHÃ
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GUEST POST: ESCOLA DE PRINCESAS, AS MENINAS DE HOJE E AS MULHERES DE AMANHÃ


Em janeiro publiquei um guest post do Robson sobre uma escola que ensina meninas a serem princesas. Mas o assunto não morre. 
Este não é um tema que interessa apenas feministas, mas também pessoas e grupos que são contra crianças serem transformadas em consumidoras vorazes (que é, infelizmente, o que vem acontecendo há anos, como mostra este documentário). Um dos grupos que mais se mobiliza contra a propaganda infantil é o Alana, e faz tempo que venho querendo publicar um guest post deles. Este texto é da Laís Fontenelle, psicóloga da Alana.

Todo sonho de menina é tornar-se princesa. Essa premissa (um tanto equivocada) é o slogan de um espaço “supostamente educativo” criado por uma empresária mineira para atender meninas entre 4 a 15 anos com aulas de etiqueta, moda, beleza e culinária. 
A missão desse espaço, segundo o site, é oferecer serviços que propiciem experiências de natureza intelectual, comportamental e cotidiana da realeza e que resgatem a dita “essência” feminina. Pergunto-me: o que será que eles entendem pela essência feminina? O que de fato é ensinado a essas crianças, que estão numa fase essencial de construção de identidade e formação de valores? Que é preciso ter desde joias, tiaras, vestidos rosa, saltos, até atitudes de princesas, para serem aceitas e amadas? 
Vivemos numa sociedade em que tudo parece ter sido mercantilizado, inclusive o universo infantil. Então, quando vejo um espaço de verdade, em forma de castelo, criado para atender meninas cujos produtos e serviços oferecidos não são somente tiaras de pedras ou longos vestidos de princesas, mas valores e princípios que vão supostamente ajudar meninas a se tornar princesas de verdade e a ter confiança em si mesmas, me preocupo. Primeiro porque isso é propaganda enganosa, já que dificilmente essas meninas vão se tornar princesas; segundo porque é algo completamente distante da realidade vivida pela maioria das meninas nos dias de hoje. 
Vale destacar que ninguém aqui está dizendo que não se deve sonhar ou propiciar que as crianças experimentem o faz-de-conta, mas vender sonhos e fazer com que meninas acreditem que eles se realizarão é outra história. Pior ainda quando esse tal sonho é posto como uma possibilidade única de felicidade e plenitude.
Desde sempre os contos de fada fazem sucesso entre a criançada porque ajudam as meninas a fantasiar e também elaborar conflito. No entanto, de uns anos para cá, com o licenciamento das princesas, esse virou um foco de mercado bem aquecido e lucrativo.
Muito desse movimento de mercado está representado no site da Mattel Escola de Princesas  (homônimo a escola de Minas), lançado com o filme da Barbie em 2011. Embora o grande objetivo deste site fosse promocional, para vender os produtos da marca, é preciso prestar atenção nas mensagens que também transmitem valores -– valores não tão diferentes assim da escolinha no interior de Minas. 
Com o site, a Mattel vende o mundo cor de rosa da princesa Barbie, reforçando um modelo sexista, atrasado e muitas vezes inatingível.  Um bom exemplo disso são os jogos do site, como uma atividade em que as crianças devem escolher roupas adequadas para determinadas ocasiões ou manter a postura ereta, equilibrando um livro no topo da cabeça. Essa brincadeira esgota a capacidade criativa e imaginativa das meninas se representarem. 
Mas por que cito aqui essa grande marca de brinquedos? Para ilustrar que essa indústria acaba inspirando a criação de outras “escolas de princesas”, como a do interior de Minas, que talvez nem existissem se não encontrassem eco nas produções de massa. 
A escola de Minas é concreta e o mundo da Mattel está no virtual, mas, no fundo, vendem uma ideia bastante similar: a de que o mundo cor de rosa é atingido desde que você tenha acessórios e atitudes de princesa. Ambos vendem uma ilusão.
Não posso deixar de destacar que as brincadeiras servem, muitas vezes, como exercício para comportamentos da vida adulta. Não por acaso, quando o papel da mulher na sociedade se limitava à maternidade e aos cuidados da casa, as brincadeiras mais comuns entre as meninas eram de “mamãe ou de casinha”. Conforme a mulher foi conquistando novos espaços e representações sociais, outros brinquedos e brincadeiras surgiram, refletindo essas transformações. 
O que será então que essas meninas, que vão a essa Escola de Princesas ou brincam no site da Mattel, experimentam através de atividades “lúdicas” em que aprendem a fazer a cama, a se maquiar, a colocar uma mesa de chá e a como se comportar na mesa, sorrindo, à espera do príncipe encantado? O que é vendido é um estilo de vida a ser almejado e um modelo idealizado de beleza, família e comportamento para essas aspirantes a princesas. 
Mas será que essas meninas de hoje serão mulheres felizes amanhã? E escola não deveria ser espaço de exercício de cidadania e socialização? O que ensina de fato uma escola de princesas? Deixo aqui essa reflexão.
P.S.: Eu, Lolinha, não posso me furtar a terminar este post sem um cartum que me foi enviado esses dias. Menção especial para a pichação na parede sobre o tamanho do cetro dos monarcas. 




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