GUEST POST: MÚSICA RACISTA E MACHISTA NÃO DEVE TER VEZ
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GUEST POST: MÚSICA RACISTA E MACHISTA NÃO DEVE TER VEZ


Rafaela tem 17 anos, é estudante de música e ama os ritmos brasileiros. Ficou indignada com a notícia que leu sobre uma canção recente de Bell Marques, ex-vocalista do Chiclete com Banana. 

Somos uma nação essencialmente musical, repleta de criatividade, que sabe fazer do seu ofício uma arte e da arte o seu ofício. Ocorreu aqui um processo simultâneo à miscigenação que originou o povo brasileiro em sua forma étnica e social: a formação da música brasileira, com elementos africanos e europeus unidos à vasta vivência musical dos índios nativos. 
Porém, ao longo da história, a tendência da padronização cultural tendeu a favorecer uma única face desse processo e reprimir a produção cultural dos grupos oprimidos e condená-los ao silêncio. Apesar de favorecidos pela diversidade, grande parte de nós possui uma enorme bagagem de preconceito musical, o que está manifesto na aversão a um ritmo por ele ser de outra região do país ou a uma música por ela ter sido composta por indivíduos da periferia -- que demonstra cada vez mais estar em plena efervescência criativa, apesar de todas as faltas. 
Além disso, há o preconceito do brasileiro contra si mesmo, como quando escreve letras ou produz qualquer outra forma de arte com o intuito de exaltar um pensamento irracional de suposta superioridade sobre alguém que é seu semelhante perante a lei e lutou para conquistar tal igualdade. Parece abstrato, mas é um assunto que veio à tona com a decisão judicial da semana passada, que ordenou que o cantor Bell Marques, ex-vocalista da banda Chiclete Com Banana, assinasse um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) no Ministério Público, se comprometendo a alterar a letra da música “Cabelo de Chapinha”, que é machista e racista. 
Em um texto publicado em sua rede social logo após a sua ida ao órgão, Bell Marques escreve que foi por "livre e espontânea vontade" ao local. Um dos compositores da música, Felipe Escandurras, disse considerá-la uma canção de amor: “A música é alegre, como a maioria das minhas canções. Quis mostrar que existem outras formas de dizer 'eu te amo'. Afinal, a mulher é minha, tenho o direito de escolher e pedir pra ela colocar o corte ou o vestido que eu mais gosto".
Para Bell Marques, exigir que a parceira
faça chapinha é uma forma gentil de
expressar amor (clique para ampliar)
Bell Marques apoiou o compositor em uma de suas redes sociais: "Muito boa essa forma gentil que o compositor encontrou para enaltecer sua amada e que deveríamos aplaudir, pois essa é a mensagem da música: gentileza e amor".
O mais preocupante é que a canção chegou a ser considerada uma aposta para o carnaval, algo que iria envolver as massas e provocar um enorme retrocesso para o longo caminho que buscamos percorrer em direção à igualdade. 
É importante que haja o questionamento sobre o teor das letras de músicas que escutamos. Se começarmos a prestar atenção, veremos a violência cantada que é mostrada em muitas delas. São verdadeiras versões modernas do "Ai, que saudade de Amélia", que até hoje atormenta, e agora assume nova roupagem e ofende a mulher por não mais suportar viver os padrões de idealização masculina, como nos absurdos presentes em "Trepadeira", do Emicida. 
É bom lembrar que até pouco tempo, "Elas Gostam Assim", do Projota e do Marcelo D2, tocava na novela global das 19h com a seguinte letra: "É que toda dama quer o seu vagabundo, que dê espaço, que também chegue junto, que dê o papo, proteja do perigo". Aliás, muitas músicas que são muito veiculadas possuem uma mensagem parecida. 
Pouco tempo atrás, "Esse Cara Sou Eu" vendia a imagem da mulher como alguém que precisa de um protetor, um provedor. Hoje, uma parcela considerável da música sertaneja proclama que precisamos de alguém que repare no nosso cabelo, que cuide de nós. E pra lembrar que o preconceito não é exclusividade do nosso país, basta pensar no desrespeito das premiações internacionais para com os artistas negros, que muitas vezes são ignorados, apesar do talento e merecimento.
A verdade é que há opressão em todos os lugares, mesmo em algo tão sublime como a música. Cabe ao público abrir os olhos e os ouvidos, pois o Brasil e o mundo têm verdadeiros hinos do empoderamento esperando por nós.

Canção Original: Cabelo de Chapinha
"Minha nega, vai lá no salão faz aquele corte que seu nego gosta de te ver
Me traz seu coração, porque essa noite só vai dar eu e você
Com esse amor ninguém pode
Só água na cabeça
Pra apagar o fogo
Ô mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha 
Ô tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho
Tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho
Ô mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha, mainha
Ô tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho
Tá liso, tá lisinho. Tá liso, tá lisinho"

Canção modificada: Minha Deusa
“Com esse amor ninguém pode
Só água na cabeça
Pra apagar o fogo
Cabelo crespo, cabelo liso, cabelo black, cabelo loiro
Minha Deusa, dia de salão
Lindo é seu jeito, todo mundo gosta de te ver
Me traz seu coração 
Que esta noite só vai dar eu e você
Com esse amor ninguém pode
Só água na cabeça
Pra apagar o fogo
Ô, mainha,
Eu também gosto do cabelo de chapinha, mainha
Tá lindo, tá lindinho, tá lindo, tá lindinho”
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