GUEST POST: NÃO SEREI TOLERANTE COM OS INTOLERANTES
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GUEST POST: NÃO SEREI TOLERANTE COM OS INTOLERANTES


O discurso homofóbico do candidato Levy Fidelix no debate da Record foi nojento e chocou muita gente (veja aqui). Escrevi sobre ele na minha coluna na RBA.
Aqui, hoje, publico o guest post de Jamile, que tem 22 anos, é feminista e tem um blog. Ah, e vai colar grau em Direito na semana que vem! (parabéns, Jamile!).

Domingo, dia 28, no debate entre os candidatos à presidência da República promovido pela Record, Levy Fidelix disse abertamente, reportando-se aos homossexuais, que "devem ser tratados bem longe" dele; disse que "aparelho excretor não reproduz"; afirmou categoricamente: "nós, que somos maioria, devemos enfrentar a minoria".
Quando um candidato à presidência (ainda que seja um que não tem a menor possibilidade de vencer) fala abertamente em rede nacional que "a maioria deve enfrentar a minoria", isso é claramente um inflamado discurso de ódio à comunidade LGBT. "Enfrentar"? O que ele quis dizer com isso? Pra mim, pareceu querer dizer que devemos lutar contra/extinguir. Vocês sabem quem mais quis extinguir uma minoria porque sentia-se pertencente a uma raça superior? Hitler.
Não bastasse o candidato falar todos aqueles absurdos, ainda encontrei gente que o defende. Postei numa rede social que, pelas suas declarações, agora sabemos que não é apenas o candidato Everaldo (que sempre se mostrou intolerante à causa LGBT) que é desprezível. E apareceu alguém pra defender Fidelix. Sim, acreditem. 
Um homem usa seu espaço na TV para dizer que a comunidade LGBT precisa de tratamento bem longe (é tipo um apartheid, com a política de segregação combinada com nazismo, que acreditava na tal supremacia das raças e buscava o aperfeiçoamento desta através de tratamentos médicos), associa a homossexualidade à pedofilia (outro absurdo que demonstra a total ignorância e idiotice do cara), fala que uma minoria deve ser combatida e tem gente que vem falar em liberdade de expressão. "É a opinião dele, temos que respeitar". Não, não temos que respeitar esse tipo de opinião.
Nenhum direito fundamental é absoluto, nem o direito à vida, imagine o direito à liberdade de expressão. O direito de você expressar sua opinião tem limites e esse limite é: o direito das outras pessoas. Ora, o dito cujo não respeitou, de maneira alguma, a comunidade LGBT ao dizer que eles precisam de tratamento, ao associá-los à pedofilia e ao incitar seu combate (extermínio?), então por que ele deveria ser respeitado? Incitar ódio a uma parcela já socialmente marginalizada não é direito à liberdade de expressão, é pura e simples demonstração de intolerância. Intolerância essa que exclui, marginaliza, priva de direitos e mata.
Não serei tolerante com os intolerantes. Isso porque esses intolerantes, esses mesmos que defendem a restrição de direitos a determinados grupos em razão de etnia, orientação sexual, gênero, ou seja lá qual motivo, só são intolerantes porque, adivinhem só, eles já têm todos os direitos que poderiam ter. Não são marginalizados, não são excluídos, não são mortos por suas preferências, por sua cor, por orientação sexual. 
E infelizmente eles usam o poder que têm para manter esses direitos fundamentais -- inerentes a todas as PESSOAS -- como privilégios. Esse tipo de gente mesquinha, egoísta, sem noção, acha que dignidade deve ser privilégio apenas de seus iguais.
Direitos são... direitos. Todo ser humano merece que seus direitos sejam respeitados, protegidos e, de forma nenhuma, diminuídos.
Ser contra o casamento civil igualitário não faz de você necessariamente um homofóbico. Você pode ser contra  o casamento homossexual não se casando com uma pessoa do mesmo sexo. 
Mas se você, por ser contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, acha correto que o Estado restrinja o direito das pessoas que decidem fazer isso, mesmo que você nunca tenha dado lampadada na cara de um homo/bi/transexual, você é homofóbico. Ser favorável à restrição de direitos de um grupo simplesmente porque você discorda deles, é ser intolerante. 
O que me deixou abismada, além do discurso de ódio proferido em rede nacional, foi que a candidata que havia feito a pergunta a Levy sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ficou calada diante dos impropérios ditos pelo bigodudo. Em sua réplica, poderia ter sido mais enfática e combativa como costuma ser em suas respostas, poderia ter falado abertamente sobre a incitação de ódio que ele estava fazendo, apologia à intolerância, mas não. 
Muitos a defenderam dizendo que ela pode ter ficado chocada com tanta coisa estapafúrdia que foi dita. Sim, pode ser. Eu mesma (e creio que todo mudo) demorou uns minutos para processar aquilo que foi dito, mas os candidatos devem estar preparados para responder esse tipo de declaração absurda. 
Ainda mais que, no último bloco, depois do intervalo, ela teve tempo de pensar e poderia usar seus minutos finais pra combater esse tipo de pensamento. Infelizmente, não foi o que aconteceu. Não apenas Luciana, mas NENHUM dos candidatos ali presentes se pronunciou, todos preferiram silenciar. E o silêncio, assim como o discurso do candidato homofóbico, foi doloroso.




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