GUEST POST: TROTE NA UFOP COM AMEAÇA DE ESTUPRO
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GUEST POST: TROTE NA UFOP COM AMEAÇA DE ESTUPRO


Varal feminista em praça de Ouro Preto, em agosto 

A C. me enviou este email sobre abusos nas festes das repúblicas da Universidade Federal de Ouro Preto, MG (atenção: desconheço o nome dessas repúblicas; as fotos usadas no post são apenas para ilustrar, sem ligação com as denúncias):

Bom, sou sua leitora há bastante tempo, mas essa é a primeira vez que te escrevo, porque fiquei sabendo de uma história -- daquelas de arrepiar, sabe?
A filha da chefe da minha mãe passou na UFOP, mas não conseguiu ficar nem uma semana na faculdade, por conta das ameaças que recebeu dos veteranos. Acho que esse é o tipo de história que precisa ser compartilhada, pois não chega na mídia, e precisamos fazer alguma coisa para que as universidades coibam esse tipo de atitude.
Essa menina tem 17 anos, e passou de primeira na UFOP. Ela já estava ciente das palhaçadas a que os bichos são submetidos, e não ligou para isso, coisas como fazer a faxina da república, limpar o banheiro, ser obrigada a atender a campainha, etc. 
O problema começou com as festas. Na primeira que ela foi, ela se negou a beber, mas viu uma colega ser obrigada a engolir dois copos de caipirinha. Parece que os caras seguraram a menina, abriram a boca dela à força e jogaram a bebida garganta abaixo...
Depois disso, ela se negou a participar de outra festa, se fosse obrigada a beber. Os veteranos falaram que não tinha como ela não beber, era ordem deles. Então ela disse que não iria à festa. E foi aí que a coisa ficou feia.
Os veteranos disseram que, se ela não fosse à festa, alguns deles iriam até a república onde ela estava morando, para ensiná-la como se comportar.
Bom, não precisamos ser muito espertas para entender o que isso significa, não é mesmo? 
Eles ainda disseram que nem adiantava ela se negar a atender a porta quando eles chegassem, porque eles tinham a chave da casa e entrariam de qualquer forma.

Ela chegou a reclamar na faculdade, mas como disseram que isso aconteceu fora da moradia oficial da universidade, não podiam fazer nada.
Como assim? Uma aluna, menor de idade, é coagida a beber e ameaçada de ser estuprada, e a faculdade não pode fazer nada? Que mundo é esse?
No fim, ela acabou voltando para a cidade dela e adiou por alguns meses o sonho de ir pra faculdade. E aí fica a minha indignação: quer dizer que não podemos ter vontade própria? Ou cedemos ao sistema (no caso o absurdo de se embebedar sem querer numa festa ou se negar a participar da tal) ou somos estupradas? Até o direito à educação é cerceado pelo machismo?

Meus comentários: A referência é vaga, eu sei (a C. está falando da filha da chefe da mãe dela), mas são tantas barbaridades que já li e ouvi sobre a UFOP, que não tenho motivo para não acreditar.
Em julho do ano passado, vários coletivos feministas assinaram uma nota de repúdio contra a cultura de estupro e a misoginia nas repúblicas da UFOP. Nesta nota havia um relato assustador sobre uma moça que só escapou de estupro coletivo numa festa porque outras pessoas escutaram a conversa de alguns caras ("Essa noite a gente se dá bem") e decidiram proteger a estudante. (Vale lembrar que, em 2012, um estudante da UFOP morreu numa festa de uma das repúblicas). 
Fica a pergunta
Em agosto, o jornal mineiro O Tempo publicou uma matéria em que seis vítimas de estupro contavam o que acontecia nas festas nas repúblicas estudantis. Os veteranos serviam um "batidão bolado", uma mistura de suco, vodca e remédio, para que as calouras "apagassem" durante as festas. "Foi assim que perdi a virgindade," contou uma delas ao jornal. Outra relatou: "Percebi que serviam uma garrafa para as mulheres e outra para os homens. A partir daí, só lembro de flashes". 
Os abusos parecem ser uma verdadeira instituição nas repúblicas, pois ocorrem desde 2006, segundo a matéria. Como disse a psicóloga e coordenadora do Programa Caleidoscópio da UFOP, Margareth Diniz, a situação de algumas repúblicas em Ouro Preto e Mariana é preocupante: "Em nome da tradição, que é uma coisa complicada, tem a violação dos direitos humanos. E um dos direitos é que as mulheres não são obrigadas a transar quando não querem". 
No final de agosto, o Núcleo de Investigações Feministas (Ninfeias) fez um protesto no centro de Ouro Preto, lendo relatos de vítimas para os pedestres e organizando um varal na praça. Depois, seguiram em marcha até a UFOP, onde entregaram uma carta à vice-reitora, exigindo providências. A vice-reitora disse: "Precisamos receber essas denúncias para atuar diretamente". 
O Ministério Público afirmou que iria acompanhar as denúncias, mas que era necessário que as vítimas fizessem denúncias formais. 
Pelo jeito, a história dos abusos não acabou em 2014. Creio que se uma aluna (menor de idade, inclusive) é ameaçada a ponto de ter que largar a faculdade, e nada é feito, é porque a impunidade para os estupradores reina na UFOP.  

Leia também a "resposta" de uma aluna que viveu numa das repúblicas.




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