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Gurgel leu “A privataria tucana”?
Por Altamiro Borges
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, enviou nesta semana aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) um documento com a sua última manifestação formal antes do início do julgamento do chamado “mensalão do PT”. O texto garante que o caso foi “o mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil”. De pronto, a mídia demotucana avalizou a “peça jurídica”, que faz parte do circo montado para o julgamento que começa na próxima semana.
No texto, Roberto Gurgel apenas pinça as “principais provas” contra os acusados num processo com mais de 50 mil páginas. Não há nada de novo no tal “memorial”. Na prática, ele visa pressionar os ministros do STF. “A atuação do Supremo Tribunal Federal servirá de exemplo, verdadeiro paradigma histórico, para todo o Poder Judiciário brasileiro e, principalmente, para toda a sociedade, a fim de que os atos de corrupção, mazela desgraçada e insistentemente epidêmica no Brasil, sejam tratados com rigor necessário”, dramatiza.
O "arquivador-geral" da República
Mesmo sem provas concretas, o texto garante que o chamado mensalão não foi apenas um esquema ilegal de caixa dois, mas que ele teve “o objetivo espúrio de comprar votos de parlamentares tidos como especialmente relevantes pelos líderes criminosos”. Para Roberto Gurgel, que recentemente foi rotulado de “arquivador-geral” por ter engavetado as denúncias contra a máfia de Carlinhos Cachoeira e por proteger o ex-demo Demóstenes Torres, o “mensalão do PT” foi o maior escândalo de corrupção da história do país.
Será que a conclusão do procurador-geral tem base nos autos do processo ou faz parte da campanha midiática de linchamento moral dos réus do caso? Será que o tal “mensalão” foi mesmo o maior esquema de corrupção da história do Brasil? Como ele pode ser tão peremptório? Gurgel até hoje mantém na geladeira o caso do “mensalão tucano”, que irrigou as milionárias contas da campanha de Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, em 1998. Ele também arquivou as denúncias contra a quadrilha de Carlinhos Cachoeira.
Um livro de presente
Será que o “mensalão do PT” operou com mais grana do que a desviada no processo de privatização das estatais no reinado de FHC? O livro “A privataria tucana”, lançado pelo premiado jornalista Amaury Ribeiro Jr. no final de 2011, apresenta vasta documentação sobre a remessa de milhões de dólares para os paraísos fiscais. A obra até lista os nomes dos envolvidos nesta lavagem de dinheiro – entre eles, a filha, o genro e o ex-tesoureiro do tucano José Serra. Um crime não justifica o outro, mas será que Gurgel leu o livro?
O procurador-geral nem pode alegar que não encontrou o best-seller nas livrarias. Em dezembro do ano passado, o blogueiro Eduardo Guimarães fez questão de despachar o livro pelo Sedex. E até postou uma singela mensagem no seu Blog da Cidadania:
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São Paulo, 10 de dezembro de 2011
A Sua Excelência o senhor
Roberto Monteiro Gurgel dos Santos
Procurador-Geral da República do Ministério Público Federal
Assunto: denúncia contra o processo de privatização do Governo Fernando Henrique Cardoso
Senhor Procurador-Geral
Reporto-me a Vossa Excelência na condição de cidadão/cidadã brasileiro (a) com a finalidade de lhe oferecer livro lançado no último dia 9 de dezembro que contém denúncias gravíssimas relativas ao processo de privatização de uma vastidão de patrimônio público brasileiro durante os dois governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Tendo em vista que o Ministério Público, nos termos dos artigos 127 e 129 da Constituição Federal “É uma instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado” faço chegar a Vossa Excelência exemplar do livro A Privataria Tucana, de autoria do jornalista Amaury Ribeiro Jr., pelas denúncias graves e fundamentadas que contém.
Assim como cada cidadão brasileiro, espero que essa verdadeira instrução penal que lhe chega às mãos seja investigada por essa douta instituição.
Atenciosamente,
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Será que Gurgel leu o livro presenteado por Eduardo Guimarães?
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