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Indústria na penúria - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 06/11
Perda de mercado interno e externo expõe erros da política do governo para setor industrial e reduz chance de país voltar a crescer
Se há um lugar onde os erros de política econômica dos últimos anos aparecem de forma cristalina, é no setor industrial. Apesar de o governo afirmar que vem implantando uma política eficaz para a área, o fato é que o desempenho da produção continua muito ruim. E, sem uma recuperação na indústria e da cadeia de serviços associados, será difícil retomar o crescimento econômico.
Nos primeiros nove meses do ano, a produção recuou 2,9% em relação ao mesmo período de 2013. O padrão é generalizado entre os setores, com destaque para a contração em máquinas (-4,2%) e bens de consumo duráveis (-9,6%). Não deixa de ser surpreendente constatar que a produção está em nível inferior ao que vigorava antes da crise financeira global em 2008.
Outra evidência problemática vem das transações com o resto do mundo. O saldo da balança comercial brasileira ficou negativo em US$ 1,2 bilhão em outubro e deve fechar o ano próximo de zero, se não abaixo disso.
Os preços das matérias-primas são o principal vilão. Eles vêm declinando já desde 2011, mas a tendência parece ter-se acelerado neste ano, a julgar pela queda de 40% no valor do minério de ferro.
É no segmento manufatureiro, entretanto, que o desastre aparece com clareza. Não apenas o total exportado pelo país tem diminuído como também as importações preenchem cada vez mais o espaço que antes era ocupado pelas fábricas brasileiras. O deficit no segmento chegou a US$ 105 bilhões nos últimos 12 meses.
As razões são múltiplas, mas vale destacar o erro de estratégia do governo de fechar o país à competição externa, com aumento de tarifas e a imposição de uma infinidade de regras que exigem conteúdo nacional. O câmbio valorizado dos últimos anos, os custos internos e os impostos altos contribuíram para reforçar ainda mais a lógica defensiva. Nesse contexto, auxílios como o Reintegra, que proporciona crédito tributário equivalente a até 3% do valor exportado, são apenas paliativos.
Muitos setores empresariais já perceberam que estão em um círculo vicioso, pois quanto mais se fecham, menos competitivos se tornam. Não se trata de abrir mão da política industrial, como quer fazer crer o governo quando responde a seus críticos. Ao contrário, é preciso preservá-la, mas com uma lógica de integração global. A mera tentativa de substituir importações é um anacronismo injustificável.
Se não houver uma mudança de paradigma, a indústria nacional continuará a perder mercado, inclusive o interno.
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