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Inflação, um risco presente - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 05/03
A inflação continua resistente e muito acima dos padrões internacionais, embora tenha recuado um pouco nos últimos dois meses, mas os dirigentes do Banco Central (BC) decidiram tornar mais suave o aperto monetário. Podem ter apostado numa redução das pressões inflacionárias nos próximos meses. Podem ter levado em conta o baixo ritmo da atividade econômica e preferido, prudentemente, deixar mais espaço para a expansão do crédito. Podem ter apostado, mais uma vez, num surto de austeridade na gestão das contas públicas. Afinal, o governo prometeu entregar no fim do ano um superávit primário equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). A última aposta desse tipo, anunciada em agosto de 2011, foi errada, mas quem se lembra? De toda forma, a evolução dos preços continua indicando uma situação ainda perigosa e justificando o máximo de atenção às pressões inflacionárias.
Em janeiro, o Índice de Preços ao Produtor (IPP) subiu 1,5%, embora os alimentos tenham ficado 1,25% mais baratos e subtraíram 0,25 ponto do cálculo geral, segundo informou na sexta-feira passada o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 19 das 23 atividades cobertas pela pesquisa houve elevação de preços. As pressões, portanto, são muito difusas, como têm sido, também, na ponta oposta, a do consumo, em que a parcela de itens com aumento de preços tem estado há muito tempo entre 65% e 70%.
A elevação de 1,5% foi a segunda maior da história do IPP, superada s0mente pela variação de 1,69% em maio de 2012. Mas houve alguns recordes. A alta de preços dos automóveis, de 1,33%, foi a maior da série, assim como a elevação de 4,51% dos produtos do refino de petróleo e o aumento de 4,26% dos produtos metalúrgicos.
No atacado, pelo menos, as pressões inflacionárias têm sido muito mais perceptíveis nos produtos industriais, há vários meses, do que nos agropecuários. Durante uns dois anos autoridades brasileiras tentaram explicar a alta geral de preços como consequência da valorização das commodities agrícolas.
Essa tese foi sempre contestável, por causa do inegável e crescente desajuste interno entre a demanda e a oferta. O desequilíbrio tem sido evidente principalmente nos mercados de bens industriais e de serviços. Apesar disso, a tese oficial da inflação importada via preços agrícolas foi sustentada com insistência. Não há mais como bater nesse ponto.
Essa tese tem sido também desmentida pelas pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O Índice de Preços por Atacado (IPA) da FGV e o IPP são produzidos com procedimentos diferentes e, por isso, é difícil de compará-los. Mas as duas pesquisas têm coincidido em alguns pontos importantes. Em fevereiro, o IPA-M, componente principal do IGP-M, subiu 0,27%. Só houve aumento porque os produtos industriais encareceram 0,59% no atacado, enquanto os agropecuários ficaram 1,49% mais baratos. Em 12 meses, os preços dos bens industriais subiram 7,95% no atacado, enquanto caíram 1,07% os dos produtos agropecuários.
A alta de preços ao produtor é apenas parcialmente atribuível à desvalorização cambial. Os principais fatores têm sido mesmo os aumentos de custos internos e a permanência de uma forte demanda, especialmente de consumo, no mercado nacional. Comentários do gerente de Coordenação da Indústria do IBGE, Alexandre Brandão, reforçam esse ponto. Em janeiro, assinalou, o dólar subiu 1,58%, enquanto os preços da metalurgia, um setor menos influenciado pelo câmbio, subiram 4,26%. A explicação das empresas, segundo ele, foi "o ambiente do mercado". Os empresários devem ter achado o momento propício, acrescentou, para se reposicionar.
As condições de mercado, influenciadas pelo crédito e pelo aumento da massa de rendimentos, são perceptíveis também nos preços ao consumidor. Em fevereiro, segundo a FGV, esses preços aumentaram 0,70%. Foi uma alta menor que a de janeiro, 0,87%, mas ainda muito forte. As pressões continuam. O dólar pode subir mais, a seca pode afetar os preços agrícolas e será difícil conter a gastança durante a campanha eleitoral. Não é hora de afrouxar a vigilância do BC.
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