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Ir ao Engano, e outras ideias perversas
O meu primeiro livro de poesia foi olimpicamente ignorado pela crítica literária nacional, facto que despertou em mim meia dúzia de pensamentos e uma ideia. Os pensamentos oscilaram entre cortar os pulsos com uma lâmina ardilosamente surripiada a Prado Coelho, minutos depois deste aparar a jubilosa barba pela manhã, e a sensação melancólica de não existir. Coisa agradável quando somos um fantasma mas bastante menos quando se alimenta a expectativa de que nos comprem o livro de forma a que possamos aspirar a um próximo, e aí por diante. Confrontado com reflexões de tal quilate, eis que surge a ideia.
Tinha eu já pronto um segundo livro de poesia, "Canções para uma Mulher em Particular". Questiono o título. Palavroso, a atirar para o épico, comercial talvez sob o ponto de vista dos utentes do Jumbo de Odivelas e de senhoras de meia idade possuidoras da obra completa de Cristina Caras Lindas. Nada mau, pensei. Já pagava a edição.
Mas resolvi ser ambicioso. Os planos para a minha carreira de autor são, neste momento, os seguintes. Começar humildemente com um livro de contos intitulado
"Prémio Branquinho da Fonseca, e outras histórias"; partir daí para o dito cujo volume de poesia - com o mesmo conteúdo mas título novo. Qualquer coisa como
"Prémio Poesia APE 2004". Avançar seguro para uma compilação de short-stories com o pézinho a fugir para a novela, sob o título
"Booker Prize"; nesse ponto então arriscar o primeiro romance. Título... Hmm... deixem cá ver... Já sei!
"O Prémio Pullitzer"; e assim, no auge de uma profícua carreira literária, lançar enfim o meu opus maior, o meu "Retrato de Dorian Gray", a história de um rapaz ignorado pela crítica que sacou uma grande ideia de marketing e editou o romance:
"Vencedor do Nobel", de Luís Filipe Borges.
Alguém me quer esclarecer sobre eventuais problemas com a lei dos direitos de autor?
Luís Filipe Borges
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