Iraque:ex-MNE espingardeia
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Iraque:ex-MNE espingardeia


Os media fazem grande alarido por o ex-MNE Martins da Cruz criticar o ex-PR, acusando-o de dualidade de critérios relativamente ao Iraque e à Sérvia: em nenhum caso existia mandato do Conselho de Segurança da ONU e o Presidente Jorge Sampaio alinhou com a intervenção aliada na Sérvia, enquanto se opôs ao envio de militares portugueses para o Iraque.A agitação mediática é compreensível: não é todos os dias que se vêem ex-MNEs a disparar sobre ex-PRs....
O uso da força contra a Sérvia, por muito que não tivesse um mandato explícito do CSNU, tinha fundamento em sucessivas resoluções do CS que apelavam à mobilização da comunidade internacional para travar o passo a Belgrado. E tinha fundamento claro no direito internacional: tratava-se de pôr fim ao genocídio conduzido pelos sérvios na Bósnia,tendente a estender-se ao Kosovo. Não estava no horizonte ocupar a Sérvia - e ela não foi ocupada.
No Iraque não houve mandato do CS - como Martins da Cruz finalmente reconhece. E também não havia um genocídio em curso (Saddam já tinha gazeado os curdos em Halabja em 1988, exterminado outras aldeias noutros anos e dizimado os shiitas nos pantânos do sul, sem que os EUA e outra potências ocidentais se incomodassem excessivamente - as «no-fly zone» apaziguavam-lhes as consciências e exercitavam-lhe os aviõezinhos...). Havia sim um ditador torcionário, violador dos direitos humanos (que é o que para aí há mais, sem que os EUA mobilizem uma coligação de voluntários para lá ir dar cabo deles - da Coreia da Norte, passando pela Birmânia, chegando à Etiópia ou à Bielorussia ...). Um ditador que já poderia ter sido removido em 1991, no final da primeira Guerra do Golfo e que Bush Pai escolheu deixar no poder. Um ditador sem oposição interna estimulada por apoios exteriores, porque EUA e RU preferiram apostar em vigaristas no exílio, como Ahmed Chalabi...
As situações eram distintas, pois, do ponto de vista da legalidade internacional. Mas não é só o mandato do CSNU que legitima: também importam causas, propósitos, eficácia, proporcionalidade e razoabilidade dos meios utilizados. E aí tudo também distingue - tudo sempre distinguiu - a operação Iraque, da operação Sérvia. Nesta, a intervenção militar pôs fim ao genocídio e, efectivamente, à guerra nos Balcãs. No caso do Iraque, os coligados reivindicavam o direito ao ataque preventivo (que não têm) e assim - como muitos avisaram e o actual embaixador americano em Bagdad recentemente admitiu - abriram a «caixa de Pandora»: a ocupação prossegue, a guerra civil aí está, o terrorismo reforçou-se. Para não falar dos embuste das ADM e das ligações de Saddam à Al Qaeda. E da ignomínia de Abu Grahib, Guantanamo, etc....
Mas porque espingardeia agora o ex-MNE contra Jorge Sampaio que, enquanto Presidente, de facto não se opôs terminante e consequentemente à invasão do Iraque, nem travou realmente os ímpetos serviçais da dupla Barroso-Cruz, deixando que se fizesse nas Lajes, para nossa vergonha, a Cimeira da guerra (e bastava invocar o Acordo de Cooperação Militar EUA-Portugal para a impedir no nosso país)? Porque espingardeia agora o ex-MNE contra o ex-PR, que até deixou que Portugal enviasse para o Iraque tropas da GNR - e para o exterior, tanto dá serem da GNR ou das Forças Armadas, são portugueses, é o que interessa. Ah, e que até deixou que a dupla Barroso-Cruz trocasse a candidatura de Portugal ao Conselho Executivo da UNESCO pela esmola de um lugar subalterno no governo ocupante para o empresarial Dr. José Lamego, menos para cimentar as cimenteiras no Iraque e mais para meter ferro ao PS de Ferro....
Terá o Dr. Martins da Cruz, que era embaixador na NATO quando a Sérvia foi bombardeada, protestado então - mesmo discretamente, internamente, na telegrafia do MNE - contra o Governo e o Presidente Sampaio e outros líderes de países da NATO, quando os aviões bombardearam Belgrado?
Ou será que ataca o ex-PR porque o que gostaria realmente era - mas falta-lhe coragem, como sempre lhe faltou, para o fazer pela frente - de espingardear sobre a sua criatura, Durão Barroso, que agora, sem vergonha na cara, admite que afinal não teria boa informação a fundamentar a decisão de alinhar Portugal na guerra? Informação que deveria ter sido coligida, analisada e tratada pelos serviços do MNE que, recorde-se, o pigmaleão Cruz então tutelava.
Que faltavam escrúpulos mas sobrava topete a Martins da Cruz, já todos sabíamos. E ele não perde oportunidades para o realçar: sai-se agora também a atacar Kofi Annan, a pretexto das relacões do filho do SGNU com o defunto programa «oil for food» para o Iraque. Que sentido da ironia, o deste ex-diplomata e ex-ministro, hoje mais conhecido no MNE por «Martins da Cunha». É que ele há pais que não merecem os filhos que têm. Mas também há filhos que, decididamente, não merecem os pais que lhes sairam na rifa.




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