Por Altamiro BorgesEm seu blog, agora hospedado no portal da Record, o jornalista Ricardo Kotscho critica seu “velho amigo” Lula pelas polêmicas que têm travado ultimamente. Ele diz desconhecer os motivos que levaram a ex-presidente “a subir o tom dos seus discursos em encontros com estudantes [UNE] e sindicalistas [UGT]”, mas conclui que “só Lula sai perdendo com os ataques de Lula”.
Na sua avaliação, o momento político não é oportuno para este “confronto”, em especial contra a mídia hegemônica. “Com seus constantes e cada vez mais irados ataques à imprensa, Lula só dá mais munição para os porta-vozes do bloco mais reacionário da decadente imprensa tucana, que vivem acenando com os fantasmas do ‘controle social da mídia’ e da ‘volta da censura’ como se estivessem torcendo por isso”.
Dilma e o “namorico” com a mídiaAinda segundo sua leitura política, este confronto não tem servido ao atual governo. “Agindo desta forma, Lula acaba também não ajudando a presidente Dilma, que passa por um momento de sérias dificuldades, em várias áreas do governo, e estava tentando melhorar seu relacionamento com os donos da grande mídia, que a vinham tratando até muito bem antes da crise Palocci”.
Tendo já trabalhado nas redações dos principais jornalões brasileiros, Kotscho avalia que as polêmicas só atiçam os preconceitos de alguns editores e colunistas. “Cada vez que se sentem atacados, mais agressivos eles se tornam, mais motivados a fazer novas denúncias reais ou imaginárias, a criar um permanente clima de crise do fim do mundo no país. A meu ver, só Lula perde com isso, arriscando a sua própria imagem aqui dentro e lá fora”.
“Competir” com a velha mídiaRespeito, mas discordo da opinião de Ricardo Kotscho. E espero que Lula não acate as idéias do seu velho amigo. No livro “Do golpe ao Planalto”, o jornalista descreve com maestria as relações intimas que cultivou com o ex-presidente, desde a retomada das greves metalúrgicas no ABC paulista, passando pelas “Caravanas da Cidadania”, até chegar ao posto de secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República no primeiro mandato de Lula.
Na minha modesta opinião, Lula precisa polemizar cada vez mais com a principal força de oposição no país, o partido da mídia. Como ele mesmo disse no congresso da UNE, é preciso “competir” com a velha imprensa, desmascarando as suas mentiras. Do contrário, abusando das técnicas de manipulação, a mídia golpista sabotará a sua “imagem”, que goza de enorme prestígio junto ao povo. Agora, inclusive, ela inventou a tal de “herança maldita de Lula”.
Esforço pedagógicoNo congresso da UGT, o ex-presidente anunciou que viajará o país para “debater política”, para mostrar os avanços do seu governo e para denunciar as manobras da direita brasileira. Esse esforço pedagógico, que infelizmente não foi feito a contento nos seus oito anos de governo, é fundamental para o avanço da consciência política dos brasileiros. Ele serve como contraponto às manipulações da ditadura midiática – às sujeiras dos Murdochs nativos.
Esta postura aguerrida é que mete medo nos barões da mídia. Eles temem o Lula “palanqueiro”, com seus discursos que encontram enorme ressonância junto ao povo. Os tais “formadores de opinião” sabem que não estão mais com a bola toda junto à “opinião pública”. O editorial da Folha de ontem, atacando a volta de Lula aos palanques – “que parece reacender sua vocação messiânica e autoritária” –, mostra que ex-presidente acertou no “momento político”.
Governo acuadoAs suas polêmicas, ao contrário do que afirma Kotscho, ajudam o governo Dilma, que se encontra acuado diante do bombardeio da mídia. Há 17 dias, a presidenta sangra diante das graves denúncias de corrupção do Ministério dos Transportes. Já a crise desencadeada pelo súbito enriquecimento do ex-ministro Palocci paralisou o governo por 23 dias. A lua-de-mel entre Dilma e a mídia durou pouco; o “namorico”, como ironizou Lula, virou uma guerra fratricida.
Na mídia golpista, agora só há notícias ruins sobre o atual governo. Parece que o Brasil virou um inferno – um país de ladrões, com desemprego e miséria crescentes. A mesma mídia que blinda os demotucanos, que esconde as suas maracutaias, tenta posar de campeã da ética. Como Murdoch, ela tenta ludibriar os ingênuos e atiçar os ânimos. Alguns “calunistas” inclusive já fazem apelos “à indignação” contra o atual governo, clamam por “protestos de rua”.
Diante desta brutal ofensiva, o governo Dilma se mostra sem personalidade. Parece formado por tecnocratas acuados nas salas com ar condicionado do Palácio do Planalto. Não parte para a ofensiva, não apresenta uma agenda política mais afirmativa, pró-ativa. Rende-se às pressões do “deus-mercado” e do “deus-mídia”. Neste cenário preocupante, os discursos num “tom mais elevado” do ex-presidente Lula ajudam a pautar o debate político na sociedade.
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