O caso de um bebê americano que, após ter a infecção por HIV detectada, foi tratado com uma combinação de medicamentos e teve o vírus reduzido a níveis indetectáveis por exames comuns, o que foi considerado uma ?cura funcional?, não cria, em princípio, nova perspectiva de eliminação do vírus em adultos, segundo explica o médico Adilson Westheimer, infectologista do Hospital Heliópolis e da Faculdade de Medicina do ABC, ambos na Grande São Paulo.
?Esse não é o caminho para a cura em adultos. O que foi apresentado pode trazer um direcionamento para cura em recém-nascidos?, explica Westheimer, que considera o anúncio deste domingo (3), nos EUA, "uma excelente notícia". Como se trata de apenas um caso, ainda há muito a ser estudado para entender se essa abordagem pode ser repetida com os mesmos efeitos em outros indivíduos.
Combinação"O importante é o paciente sob tratamento continuar se tratando. Foi uma descoberta importante porque a criança recém-nascida foi tratada com três remédios, quando normalmente se usa apenas um. O tratamento precoce e o uso de mais remédios pode ter ajudado", afirma o infectologista do Instituto Emílio Ribas, Caio Rosenthal. "Foi uma ótima notícia. Sempre que se fala em cura cientificamente evidenciada, é sempre muito bom para a medicina", acrescentou.
O bebê foi tratado com uma combinação de remédios que fez com que o vírus praticamente desaparecesse de seu corpo. Em adultos, o HIV também pode ter sua presença reduzida com medicamentos, mas, quando estes são suspensos, o vírus volta a proliferar porque fica em latência em várias partes do corpo, como gânglios linfáticos, células do sistema intestinal e do sistema nervoso central, entre outros.
Em recém-nascidos, os pontos onde o vírus pode ficar latente ainda estão em desenvolvimento, por isso ele não consegue se instalar da mesma forma que em adultos, nota Westheimer. O caso apresentado nos EUA tem outra especificidade: a mãe não sabia que tinha o HIV, por isso o bebê foi infectado.
Mães que fazem pré-natal, caso tenha o vírus detectado, já começam a tomar medicação, assim como o bebê, quando nasce. ?Se for feita a profilaxia com medicamentos, a chance de transmissão é praticamente zero?, aponta o médico do Hospital Heliópolis.
No Brasil, a maioria das mulheres faz o pré-natal. Um eventual método de tratamento resultante do caso apresentado nos EUA poderia ser útil em lugares onde há muitos casos de crianças que nascem sem que as mães saibam que têm o HIV, como em alguns países africanos, onde a incidência da Aids é mais alta.
Entenda o caso
Pesquisadores dos Estados Unidos apresentaram o que, segundo eles, é o primeiro caso documentado de ?cura funcional? de uma criança infectada pelo HIV.
Pesquisadores dos Estados Unidos apresentaram o que, segundo eles, é o primeiro caso documentado de ?cura funcional? de uma criança infectada pelo HIV.
A cura funcional ocorre quando a presença do vírus é tão mínima que ele se mantém indetectável pelos testes clínicos padrões e discernível apenas por métodos ultrassensíveis.
Ela é diferente da cura ?por esterilização? (que pressupõe uma erradicação completa de todos os traços virais do corpo), mas significa que o paciente pode se manter saudável sem precisar tomar remédios por toda a vida.
A virologista Deborah Persaud, coordenadora do estudo. (Foto: AP Photo/Johns Hopkins Medicine)
O estudo foi realizado por cientistas do Centro da Criança Johns Hopkins, da Universidade do Mississippi e da Universidade de Massachusetts, e apresentado em um congresso médico em Atlanta
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