LIMITAR-SE É SAIR PERDENDO
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LIMITAR-SE É SAIR PERDENDO


Dustin Hoffman, um dos maiores atores de sua geração, e sua epifania

Vocês que são jovens conhecem Tootsie (veja o trailer, sem legendas)? É uma comédia muito divertida de 1982 em que o Dustin Hoffman faz um ator com má reputação por ser reclamão. Ninguém mais quer trabalhar com ele. Até que, ajudando uma amiga e atriz (a impagável Teri Garr) a ensaiar pra uma vaga numa novela, ele se traveste de mulher e consegue o emprego. Mas faz da personagem dele na novela uma administradora feminista, o que não estava previsto no roteiro, cheio de personagens femininas bobonas. 
Dorothy Michaels (o nome da atriz que Dustin incorpora) se transforma numa sensação em todo o país. É tudo muito engraçado também porque, ao mesmo tempo que o personagem homem de Dustin se apaixona pela sua co-estrela na novela, Jessica Lange, o pai de Jessica se apaixona por Dorothy.
Tootsie foi um enorme sucesso na época. Foi indicado a dez Oscars e rendeu uma estatueta de coadjuvante pra Jessica Lange. E a bela música-tema "It Might Be You" embalou os anos 80. 
Aliás, o início da década de 80, pré-backlash (reação conservadora aos movimentos sociais), teve vários filmes feministas, como Vitor e Vitória, Como Eliminar seu Chefe, Silkwood, e Yentl, entre outros. Tootsie sem dúvida é feminista, não só porque mostra um homem que vira uma pessoa melhor ao ter que viver como mulher, mas por trazer várias discussões sobre gênero.  O nome "Tootsie", inclusive, é algo como "docinho", uma alusão a como homens poderosos tratam mulheres que eles julgam tão pouco importantes que nem se dignam a decorar o nome.
Recomendo fortemente que você veja (ou reveja) Tootsie. E se tudo isso não te convenceu, a comédia ainda tem um jovem Bill Murray como colega de apartamento do Dustin.
Mas não era sobre isso que eu queria falar. 
É que ontem uma leitora indicou um vídeo (pode também ser visto no YouTube) de não sei quando em que o Dustin Hoffman fala de Tootsie
A entrevista não tem legendas (opa, alguém já pôs legendas!), então deixe-me te situar. Primeiro Dustin fala de como quis fazer o filme pra responder à pergunta "Se vc tivesse nascido mulher, como vc seria diferente?". 
Durante os dois anos em que o projeto caminhava, Dustin foi até o estúdio pedir testes de maquiagem, pra que ele descobrisse se realmente passaria por mulher -- se não passasse, não faria o filme (a maior parte dos críticos não acha que Dustin é bem sucedido: ele sempre parece o Dustin Hoffman tentando se passar por mulher). Mas ele jura que andou pelas ruas de Nova York vestido de Dorothy Michaels e ninguém suspeitou que fosse um homem em drag.
Só que, segundo ele, depois dessa primeira conquista, ele queria ser mais atraente como mulher. E os maquiadores disseram sinto muito, só vai até aí, você não vai ficar mais bonita que isso. Ele conta que nesse momento teve uma epifania, começou a chorar, foi pra casa e contou pra esposa que tinha que fazer o filme. Por quê? 
Diz ele: "Eu acho que sou uma mulher interessante quando me olho na tela, mas eu sei que se eu encontrasse comigo numa festa, eu nunca falaria com ela, porque ela não se enquadra fisicamente nos padrões que somos levados a pensar que as mulheres devem ter para que nós a convidemos para sair. Há muitas mulheres interessantes que não tive a experiência de conhecer nessa vida porque sofri lavagem cerebral. Isso nunca foi uma comédia pra mim". 
Bonito, né? Penso que ele se comove por vários motivos: por vaidade, já que não conseguiu virar uma mulher bonita, por sentir empatia pelo que passam as mulheres fora do padrão de beleza (ou seja, 90% da população feminina?), e por ter sido condicionado a só achar atraentes mulheres fisicamente atraentes, e assim ter perdido oportunidades de conhecer um monte de mulheres interessantes. 
Imagino que isso vale pra mulher que também deixa de querer conhecer uma mulher por ela não ser bonita. Outro dia um rapaz contou que fizeram uma pesquisa num campus de uma universidade pública no Estado de SP. Lá os apartamentos para estudantes são separados. Perguntaram pros rapazes qual o tipo de colega com o qual eles não gostariam de dividir o quarto, e a resposta mais ampla foi: com um gay (homofobia não existe, imagina). E as meninas, o que elas responderam? Que não queriam dividir o quarto com uma gorda. Acredite se quiser. Isso, claro, não é só preconceito como também discriminação. 
Isso de mulheres héteros deixarem de querer conhecer um carinha só por ele não ser bonito pode acontecer? Pode, mas é bem diferente. Primeiro que mulheres ainda são avaliadas quase que exclusivamente pela sua aparência física (o importante, mesmo que ela seja a presidenta, é que seja linda e jovem sempre), enquanto homens tornam-se ou não atraentes por muitos outros motivos -- e não estou pensando no velho clichê machista de "ter carro", e sim em qualidades como ser divertido, ser competente, ser inteligente etc. 
Depois que o padrão de beleza pra homens ainda está longe de ser bem delimitado. Só os caras muito, muito atrasados intelectualmente (oi, mascus!) acham que mulher gosta apenas de homem musculoso (eu particularmente conheço muito mais meninas que acham o corpo do Schwarzegger feio que bonito).
O outro motivo é que a maior parte das meninas acredita em amizade entre homens e mulheres, enquanto os meninos... Bom, foram eles que inventaram o termo friendzone. 
O que quero dizer é que mulheres costumam considerar outros tipos de relacionamento, não só o sexual. Não quero generalizar; tenho certeza que muitos homens também permitem se envolver com mulheres para relacionamentos não-sexuais, e acho que quando Dustin Hoffman fala em perder oportunidades de conhecer mulheres interessantes, ele não está falando só em termos sexuais. 
O fato é que limitar opções é sair perdendo. E vivemos num mundo que, desde o começo, pela insistência mercadológica de estabelecer padrões, nos ensina a limitar. Então eis meus vinte centavos: eu sugiro sempre o que deve parecer óbvio para qualquer pessoa minimamente sensata -- treine seu olhar pra uma beleza mais abrangente. E perceba que a atração visual não é a única forma de atração, pois temos outros sentidos além da visão (por exemplo, Lisa, a segunda -- e atual, desde 1980 -- mulher de Dustin, tem uma empresa de beleza que lida com fragrâncias). 
Abrir a cabeça é sempre uma boa pedida. E é melhor ter sua epifania quando jovem que aos 40, caso do Dustin.

Em vez de procurar a pessoa bonita na foto, por que não achar todas bonitas?




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